Corrupção

Bolsonaro escondeu joias sauditas e outros objetos na fazenda de Nelson Piquet

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Nelson Piquet pode ser considerado cúmplice de eventuais crimes de Bolsonaro, observa jurista. "O Código Penal diz que todo aquele que concorre para um crime incide nele e nas penas a ele cominadas. Então o Piquet pode ser um coautor nisso, um partícipe nessa manobra criminosa"

Bolsonaro e Piquet

O Jornal O Estado de S.Paulo apurou, nesta terça-feira (28), que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) guardou joias sauditas e outros objetos na fazenda do ex-piloto Nelson Piquet, em Brasília (DF).

De acordo com informações do Estadão, dezenas de caixas com pertences foram mantidas na propriedade, que fica localizada no Lago Sul. Os itens foram despachados das garagens privativas do Palácio do Planalto e também do Palácio da Alvorada, a residência oficial dos presidentes da República.

O primeiro traslado de presentes teria ocorrido no dia 20 de dezembro do ano passado, durante parte da mudança do presidente derrotado dos palácios.

No dia seguinte, um avião da Força Aérea Brasileira foi destinado à Guarulhos para tentar resgatar uma caixa contendo joias que foram dadas de presente pelo regime da Arábia Saudita.

Ainda conforme a apuração, Bolsonaro teria escolhido ficar com os itens mais valiosos do acervo presidencial, que foram encaminhados à fazenda de Piquet.

O ex-piloto foi um dos principais apoiadores do ex-presidente durante a disputa a reeleição, tendo participado de manifestações bolsonaristas após a derrota do ex-capitão.

Piquet ainda fez uma doação no valor de 501 mil reais para a campanha bolsonarista, conforme registro no Tribunal Superior Eleitoral.

Em agosto de 2022, uma empresa de propriedade do ex-piloto, a Autotrac Comércio e Comunicações, recebeu cerca de 6,6 milhões de reais, correspondente a um contrato assinado com o Ministério da Agricultura, ainda em 2019, sem licitação. O contrato foi firmado com a empresa de Piquet, que na época devia 6,3 mil reais em impostos.

Nesta terça-feira, o jornal revelou que Bolsonaro teria se apropriado de uma terceira coleção de joias dadas como presente do governo da Arábia Saudita, avaliada em mais de 500 mil reais.

Há informações de que, como ocorreu com a segunda caixa de joias levada a Bolsonaro, esta possa estar entre os bens guardados na Fazenda Piquet.

Para o professor e jurista Walter Maierovitch, Nelson Piquet pode ser considerado cúmplice de eventuais crimes de Bolsonaro. “O Código Penal diz que todo aquele que concorre para um crime incide nele e nas penas a ele cominadas. Então o Piquet pode ser um coautor nisso, um partícipe nessa manobra criminosa”.

O jornalistas Tales Farias afirma que o caso seria “surreal” até mesmo se fosse roteiro de um filme. “Você imagina uma história estrelada no cinema por um presidente tentando fugir do país com joias doadas pela Arábia Saudita, milhões de dólares. Aí não consegue, tenta dar um golpe de estado, depois se descobre que uma parte das joias ele escondeu na casa de um tricampeão mundial de Formula 1. Se te contasse essa história você não acreditaria”.