Casal de evangélicos deixou os 4 filhos em um dos cinco imóveis que possuem, entraram em seu carro de luxo armados e passaram a perseguir a vítima munidos de um revólver calibre 38 e de uma pistola 9mm. Em uma das armas, a preferência política gravada no cano: 'BOLSONARO'. O casal foi preso em flagrante
Vinicius Segalla, DCM
Três palavras podem resumir o casal Braulio Alves Junior e Grazielli Aparecida Ruano Perez: cidadãos de bem. Pecuaristas do município de Teodoro Sampaio, no oeste do estado de São Paulo, são pais de quatro filhos, tementes a Deus e orgulhosos por realizarem ações em favor dos mais necessitados. Conservadores, evangélicos da Igreja “Ministério Atos 2”, possuem firme posicionamento político: são bolsonaristas.
Juntos, conforme informaram recentemente a autoridades policiais, Braulio e Grazielli possuem uma renda mensal de R$ 40 mil. Por isso mesmo, quando o pecuarista decidiu se candidatar a vereador em Teodoro Sampaio, de cara anunciou e passou a campanha toda repetindo: se eleito, iria entregar todo seu salário, em todos os meses dos quatro anos de mandato, a instituições de caridade. Infelizmente, para as instituições, ele não foi eleito.
No dia 19 de fevereiro deste ano, Braulio e Grazielli foram presos em flagrante delito pela polícia, às 2h da manhã, no quilômetro 200 da rodovia Arlindo Betio, em Teodoro Sampaio. O motivo: tendo deixado seus filhos (o menor de oito meses) não se sabe com quem, em um dos cinco imóveis que possuem, entraram em sua caminhonete F 250 e, armados, passaram a perseguir outro veículo, munidos de um revólver calibre 38 e de uma pistola 9mm. Em uma das armas, a preferência política do casal constava gravada no cano: BOLSONARO.
Segundo contou a vítima da perseguição (cujo nome não será publicado) à polícia, tudo começou com uma discussão entre adolescentes, uma hora antes da prisão em flagrante. A vítima é pai de uma menina que teria sido agredida por alguém do círculo familiar dos pecuaristas. Ao saber da suposta agressão, ele teria ido tirar satisfação com Braulio, que imediatamente teria lhe apontado a pistola, dizendo “Agora você foge, covarde”.
E foi isso mesmo que a vítima fez, segundo seu próprio depoimento. Entrou em seu carro e fugiu, notando que o casal de bem havia entrado em sua caminhonete, dando início a uma perseguição que só teve fim quando o perseguido avistou um carro da polícia e emparelhou seu veículo com a viatura, pedindo socorro.
Os policiais, então, conseguiram parar a F 250 e revistaram o veículo, tendo encontrado as duas armas apreendidas em seu interior. Ato contínuo, Braulio e Grazielli admitiram ser donos daquelas armas, disseram que as duas estavam devidamente registradas em nome de Grazielli, que possui registro de CAC (Caçadores, Atiradores Esportivos e Colecionadores).
Disseram, porém, que não estavam perseguindo ninguém, estavam apenas se dirigindo (às 2h da madrugada) a um clube de tiro, onde Grazielli exercitaria seu hobby, de disparar em alvos inertes com suas armas de fogo.
Após narrar o ocorrido aos policiais em boletim de ocorrência (constante nos autos do processo penal público número 1500057-32.2023.8.26.0585), a vítima decidiu não prestar queixa, o casal é conhecido na cidade e sabe onde ele mora, ele achou melhor evitar mais confusão.
Mesmo assim, o casal foi preso em flagrante delito, por porte ilegal de arma de fogo, uma vez que os policiais não acreditaram na versão apresentada pelos suspeitos, de estarem se dirigindo a um clube de tiro durante a madruga e terem sido surpreendidos por uma acusação gratuita de ameaça e perseguição.
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Na mesma madrugada, após a prisão, na delegacia, o casal de bem foi indiciado e solto mediante ao pagamento de uma fiança estabelecida pelo delegado em R$ 2.604. Atualmente, respondem a processo em liberdade, pelo crime de porte ilegal de arma de fogo, com pena prevista de até dois anos de prisão.
Posteriormente, no decorrer das investigações, descobriu-se que o casal de bem possuía não apenas duas armas de fogo, mas pelo menos cinco, quatro delas em nome da colecionadora Grazielli, uma delas um rifle semiautomático .22 LR, com alta velocidade de disparo. Todas foram apreendidas pela polícia, mas o casal tenta até hoje reavê-las na Justiça.
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Uma última informação: a apreensão dos armamentos só foi possível em virtude do Decreto Presidencial 11.366/23, publicado no primeiro dia (01 de janeiro) do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A citada norma determina que sejam apreendidas as armas de colecionadores que respondam a inquérito policial, como se explica no relatório final da polícia acerca do crime.
Nunca foi uma escolha difícil.
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