Desde seu começo, a filosofia decorre de uma preocupação política. Ela não surgiu sob o signo do consentimento fácil e nem se desenvolveu num mundo social em constante harmonia
Lucio Massafferri Salles*
No próximo dia 16 de março, uma quinta-feira, ocorrerá o evento de lançamento do livro Democracia e Palavra. A Livraria Travessa de Botafogo (Rio de Janeiro) receberá o público a partir das 19 horas, para isso. Os autores desse texto coletivo, projetado para alcançar um público externo à Academia, são Beatriz Porcel, Guilherme Castelo Branco, Fernando Antonio da Costa Vieira, Lucio Massafferri Salles e Luiz Otávio Mantovaneli; todos professores com formação em filosofia.
Lançamento: Democracia e Palavra
A democracia aparece como uma experiência política de decisões coletivas fundadas na palavra e no debate, desenvolvida em Atenas a partir de 500 a.C. Desde então, inicia um caminho que nunca esteve livre de perigos e que foi percorrido por diversas crises, transformações e ataques, na linha do tempo. Seus inimigos invariavelmente buscavam o governo de poucos, fossem eles aristocratas, oligarcas, tiranos ou demagogos.
Essa experiência política estabelecia que os cidadãos gozavam da igualdade das leis (isonomia) e da igualdade do direito à palavra em público (isegoria). E, pelo menos em tese, se as leis são comuns a todos os cidadãos (isonomia) e as leis escritas servem a todos, o pobre e o rico deveriam estar em pé de igualdade nesse aspecto, podendo quem é mais fraco interpelar o poderoso com as mesmas palavras, se for o caso deste insultar aquele, conforme afirma Eurípedes (Suplicantes. 430-438). É a justiça que garantiria isso. Ou, pelo menos, o deveria.
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Porém, na organização política dessa democracia nascente, havia limitações. Uma delas era a de que as mulheres não tinham o estatuto de cidadãs. O voto e o igual poder da palavra em espaços públicos não lhes eram concedidos, por regra. Oficialmente, havia escravos na democracia, tudo estabelecido por lei, sem o verniz dos dias atuais. Além disso, no âmbito das disputas judiciais, a lei não deixava os cidadãos contratarem outra pessoa para falar por elas diante de um júri, caso fosse necessário. Alguém que fosse denunciado e acusado de algo poderia contratar um outro que conhecesse as leis e que escrevesse bem para lhe preparar uma defesa (escrita); mas era o próprio denunciado quem teria que se defender, em pessoa, no tribunal.
Entre tantos outros, foi esse o caso do livre pensador Sócrates, que acabou sendo condenado à morte, por ingestão de veneno, no processo de cunho político que foi movido contra ele.
O poder da palavra na arquitetura do caos
A Livraria Travessa fica na Rua Voluntários da Pátria 97 (Botafogo – RJ), sejam todos bem-vindos.
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*Lucio Massafferri Salles é filósofo, psicólogo e jornalista. Doutor e mestre em filosofia pela UFRJ, especialista em psicanálise pela USU. Criador do Portal Fio do Tempo (YouTube).
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