Movimento aparentemente espontâneo é, na verdade, parte de um projeto de evangelização de uma famosa igreja. "Objetivo é alcançar pessoas que ainda não conhecem e que precisam de Cristo", diz o fundador da Fonte da Vida, famoso no círculo evangélico por ser um forte aliado de Jair Bolsonaro
Getúlio Xavier, Carta Capital
Nas últimas semanas, vídeos em que dezenas de pessoas aparecem cantando músicas evangélicas em shoppings e mercados pelo Brasil tomaram conta das redes sociais. O fenômeno tem sido compartilhado com ares de mistério e vem sendo chamado de ‘avivamento’ por internautas.
As imagens, compartilhadas sem muito contexto, mostram apenas pessoas reunidas em uma espécie de coral, como se o flash mob cristão tivesse surgido espontaneamente e arrebatado clientes desavisados. Na prática, porém, se trata de uma ação orquestrada com a assinatura da Igreja Fonte da Vida.
Segundo o site da denominação, as cantorias são parte do projeto de evangelização batizado de IDE, que busca ser, nas palavras dos responsáveis pela igreja, a maior ação de evangelização do mundo.
“O IDE é um projeto evangelístico, com o objetivo de alcançar pessoas que ainda não conhecem e que precisam de Cristo em suas vidas e famílias”, define o apóstolo César Augusto, fundador da Fonte da Vida e famoso no círculo evangélico por ser um forte aliado de Jair Bolsonaro (PL). Ele tem comemorado o sucesso da ação em seus perfis nas redes sociais com publicações diárias que convidam para um novo flash mob.
De acordo com as orientações aos fiéis da Fonte da Vida, a iniciativa surgiu no final de janeiro de 2023 e pretende repetir o feito em todo último sábado do mês. Nestes dias, os fiéis são orientados a saírem às ruas para ‘levar a palavra do senhor’. O flash mob em shoppings e mercados são uma destas ações, que conta ainda com teatros e pequenas apresentações em praças públicas e hospitais.
Um vídeo promocional do projeto IDE, compartilhado nas redes sociais da Fonte da Vida, informa ainda que a tentativa de coral em locais comerciais será repetida no próximo sábado 25 de março em diferentes regiões do País e do mundo. A igreja, vale mencionar, tem 181 sedes espalhadas pelo Brasil e conta ainda com 11 igrejas na América do Norte, 2 na Europa e 1 na Namíbia.
“Que possamos nos preparar para o próximo mês na 3ª edição desse projeto, com uma unção ainda maior e alcançando mais corações para Cristo Jesus!”, diz um trecho da convocação para os atos.
O vídeo de maior repercussão nas redes sociais, segundo a própria Fonte da Vida, foi gravado em um famoso shopping em Goiânia, capital de Goiás, no dia 25 de fevereiro, quando os fiéis realizaram a ação pela segunda vez. No chamamento para a 3ª edição do IDE, a própria Fonte da Vida admite que é bastante provável que o modelo passe a ser seguido por outras denominações.
A repercussão gerou, além de curiosidade, revolta de parte dos internautas, que acusam evangélicos de tentarem impor sua fé. Nas publicações de maior apelo, em páginas como a Choquei, uma das grandes responsáveis pela viralização da ação, é comum ler comentários questionando se a receptividade da cantoria seria a mesma se a música cantada tivesse ligações com religiões de matriz africana.
Modelo não é novo
Apesar de tomar novas proporções com o projeto IDE, o modelo de evangelização com cantorias em shoppings e mercados não é uma novidade entre Igrejas. No Youtube, é possível encontrar dezenas de registros que se assemelham bastante ao modelo utilizado pela Fonte da Vida em 2023. As publicações mais antigas de flash mobs crentes são de 7 anos atrás. O termo IDE também é utlizado nestas publicações. Na maioria delas, porém, não é possível saber qual a denominação evangélica responsável pela ação.
Veja alguns dos vídeos:
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