Donald Trump deverá ser acusado de 34 crimes nesta terça. Jornalistas norte-americanos afirmam que o ex-presidente não receberá o tratamento habitual: não usará algemas e não será colocado em celas. Trump será fichado, fotografado de frente e de lado, e terá as impressões digitais colhidas
Rodrigo Craveiro, Correio Braziliense
Os Estados Unidos e o planeta voltam as atenções, hoje, para Nova York. Pela primeira vez na história, um ex-presidente norte-americano estará sentado diante do juiz para escutar as acusações que pesam contra ele. Donald Trump, 76 anos, será fichado, fotografado de frente e de lado, e terá as impressões digitais colhidas. Também hoje, o mundo tomará conhecimento dos crimes supostamente cometidos por aquele que foi o homem mais poderoso do mundo entre 2017 e 2021.
A imprensa dos EUA antecipou que Trump responderá na Justiça por 34 acusações associadas ao pagamento de propina para uma ex-atriz pornô, em 2016, pouco antes da campanha presidencial. O magnata republicano teria repassado US$ 130 mil (cerca de R$ 420 mil à época) a Stormy Daniels, 44, para silenciá-la sobre uma relação extraconjugal quando Barron, filho caçula de Trump, tinha acabado de nascer.
↘ O que acontecerá com Donald Trump após o indiciamento
O ex-presidente desembarcou em Nova York, na tarde de ontem, e seguiu para a Trump Tower, onde pernoitou. A ex-primeira-dama Melania ficou na mansão do casal, em Mar-a-Lago, na Flórida. Trump deixou-se fotografar e chegou a acenar para jornalistas, ao entrar pela porta da frente do próprio arranha-céu, na 5ª Avenida, por volta das 16h15 (17h15 em Brasília). De acordo com a rede de TV CNN, ele se encontrou, no local, com os advogados Joe Tacopina e Susan Necheles.
Simpatizantes começaram a se reunir diante do prédio e em outros pontos, como a sede da Promotoria do Distrito de Manhattan e o Tribunal Penal de Nova York. A metrópole vive um clima de tensão, com a segurança reforçada. O prefeito Eric Adams advertiu contra a presença de “alguns agitadores” e pediu aos simpatizantes de Trump para que se “controlem”. “Enquanto estiverem na cidade, comportem-se bem”, aconselhou.
Pouco antes de seu avião particular decolar da Flórida, Trump utilizou a Truth Social, rede criada por ele próprio, para atacar o indiciamento e inflamar os seguidores. “Caça às bruxas. Nosso outrora grande país está indo para o inferno!”, escreveu.
Ele assegurou que iria a Nova York para “devolver a grandeza aos Estados Unidos” e chamou de “corrupto” o procurador Alvin Bragg, responsável pelo seu indiciamento, na última quinta-feira. “O procurador corrupto não tem um caso. O que tem é uma jurisdição, onde é impossível que eu tenha um julgamento justo”, acrescentou, ao fazer menção ao fato de que Nova York é uma cidade tradicionalmente democrata. Também reafirmou que será candidato às eleições presidenciais de 2024.
Pronunciamento
Depois de ser informado sobre as acusações, no tribunal nova-iorquino, o bilionário retornará para Mar-a-Lago, onde deverá fazer um pronunciamento à imprensa, às 20h15 (21h15 em Brasília). No entanto, não se descarta que o juiz Juan Merchan imponha sigilo ao caso, o que impediria Trump de declarar-se publicamente sobre o tema. A expectativa é que o ex-presidente se proclame inocente, o que o levaria a julgamento. Os advogados sustentam que a admissão de culpa está fora de cogitação.
Não se sabe, de concreto, o que esperar do ritual desta tarde. Não existe um roteiro para a “rendição” de um ex-presidente a um tribunal. Tacopina acredita que Bragg e sua equipe farão de tudo para “obter toda a publicidade” do caso. Isso incluiria permitir aos cinegrafistas tomarem imagens dele atravessando os corredores do tribunal.
“Esperamos que seja o mais indolor e o mais elegante possível para uma situação como esta”, disse o advogado. Segundo Tacopina, Trump não deverá ser algemado. Veículos, como o The Washington Post, a CNN e o The New York Times, peticionaram ao juiz Juan Merchan para que torne público o indiciamento feito por Bragg. Também solicitaram a presença de câmeras na sala da Corte.
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Anthony Michael Kreis, Ph.D. e professor de direito da Universidade Estadual da Geórgia, explicou ao Correio que a opinião pública não deve esperar imagens de impacto midiático hoje. “Sob a legislação de Nova York, a prisão, o fichamento e o processo de formalização da acusação ocorrerão a portas fechadas. A fotografia dele fichado será mantida em privado pelo Estado”, previu. “Por isso, a população não terá um vislumbre do processo. Os direitos do ex-presidente serão preservados, assim como os de qualquer outro réu. Trump será liberado rapidamente depois que o procedimento de amanhã (hoje) for finalizado.”
Professor emérito de direito da Universidade de Nova York, Stephen Gillers discorda de Kreis e aposta que o magnata republicano tentará transformar o dia de hoje em um circo. “Espero que Trump venda cópias autografadas de sua fotografia como acusado fichado, além de imagens dele algemado, caso consiga fazê-lo. Todas as imagens funcionam a seu favor, seja financeiramente ou não”, afirmou à reportagem.
O especialista disse que Trump deverá ser preso para entrar na jurisdição do tribunal. “Uma prisão não significa que ele tenha que ser contido. Neste caso, a prisão estabelece a autoridade da Corte sobre ele, inclusive no que diz respeito às condições de fiança.”
O indiciamento de Trump voltou a deixar em evidência a divisão política dos Estados Unidos. Segundo uma pesquisa realizada pela CNN, 60% norte-americanos aprovam a decisão de Bragg de indiciar o magnata. O índice sobe para 94% entre os democratas e para 62% entre os independentes, enquanto 79% dos republicanos são contra.
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