Entregador negro chicoteado por bolsonarista é pai de 3 filhos e pedala 12 horas por dia
A agressora Sandra Mathias fez campanha para Bolsonaro e disse que era "prima do governador e de um delegado da polícia federal". Em nota, o governador nega parentesco com ela. Sandra apresentou atestado e não apareceu na delegacia para prestar depoimento nesta quarta. Comissão de Ética do Conselho Regional de Nutrição abriu um processo contra Sandra e Prefeitura do Rio suspendeu o funcionamento da escolinha de vôlei da agressora
Max Ângelo dos Santos, 36, trabalha há um ano e meio em aplicativos e pedala diariamente na zona sul do Rio de Janeiro. No domingo (9), o entregador foi agredido por uma mulher e o caso ganhou repercussão nacional.
Imagens mostram a nutricionista e ex-atleta Sandra Mathias Correia de Sá puxando a camisa e dando socos no entregador. Ela pega a guia da coleira do cachorro e dá uma chicotada nas costas dele.
A nutricionista mandou os entregadores voltarem para favela e os xingou de “lixo”, conta a vítima. As agressões teriam começado porque Sandra não gostou de ver os entregadores na calçada.
“Eu fui muito humilhado. Quis me afastar e não quis revidar, mas se eu boto a mão nela, hoje eu estaria em [um presídio de] Bangu, porque ela iria alegar que eu a agredi. Não quero que aconteça com outra pessoa, quero justiça.”
“O trabalho é muito cansativo. Para vir alguém e me xingar? Não é certo. Eu saio de manhã todos os dias, em sol e chuva, e minha única fonte de renda é o aplicativo.”
Os aplicativos se tornaram a principal fonte de renda quando Max ficou desempregado. Antes, trabalhava como porteiro e fazia as entregas somente nas horas vagas.
Para pagar as contas, Max conta que pedala no mínimo 12 horas por dia, podendo chegar a 16 ou 18 horas. O entregador diz que, no auge da pandemia, era possível faturar um bom valor em 5 ou 6 horas de trabalho.
Max é casado e pai de três filhos, de 13, 12 e 8 anos de idade. As crianças viram o vídeo, mas ele diz que não teve uma conversa longa com os filhos ainda por causa da rotina de exames no IML, depoimento à Polícia Civil e entrevistas.
O entregador decidiu publicar as imagens das agressões após uma noite inteira sem dormir. “Sabemos que o racismo não vai acabar, existem muitos racistas, mas se as pessoas denunciarem o que acontece, pelo menos pode diminuir”, disse.
‘Prima do governador’
Sandra chegou a dizer que era “prima do governador e de um delegado da polícia federal”, e que por isso nenhuma denúncia contra ela seria considerada.
“O governador Cláudio Castro não é primo de Sandra Mathias Correia de Sá e não tem qualquer parentesco com a mesma”, disse o governo do RJ em nota.
Ausente em depoimento
Previsto para esta quarta-feira (12), o depoimento de Sandra Mathias foi adiado indefinidamente. A defesa da ex-atleta apresentou um atestado alegando que Sandra está machucada. “Ela está com várias lesões”, justificou o advogado Roberto Duarte Butter.
