A história do acidente aéreo que levou o pai de vítimas a matar o controlador de voo
No momento da tragédia, havia apenas um controlador de voo trabalhando em duas estações ao mesmo tempo. O profissional só percebeu o risco de colisão um minuto antes do impacto, e as instruções repassadas foram conflitantes com o sistema de defesa da aeronave
Alexandre Saconi, Todos a Bordo
No dia 1º de julho de 2002, um avião com crianças de férias e um cargueiro colidiram durante voo sobre a cidade de Überlingen, na região do Lago de Constança (Alemanha), matando todos que estavam a bordo das duas aeronaves.
Férias na Espanha
Um dos aviões envolvidos foi um Tupolev Tu-154 da BAL (Bashkirian Airlines) que havia decolado de Moscou. A bordo estavam 69 pessoas (48 eram crianças ou adolescentes).
Eles estavam em uma viagem de férias. O avião tinha como destino Barcelona (Espanha), onde participariam de um festival promovido pela Unesco.
Os estudantes eram filhos de elite local. A maioria das vítimas era da República russa da Bachkíria, também conhecida como Bascortostão.
As crianças e os jovens haviam saído de Ufa, capital da Bachkíria e haviam parado em Moscou. Com a demora em decolar a partir da capital russa, a empresa providenciou um avião exclusivo para levar os jovens rumo a Barcelona.
O outro avião era um Boeing 757 que estava a serviço da empresa de logística DHL.
A bordo estavam apenas o piloto e o primeiro-oficial. O avião tinha como destino Bruxelas (Bélgica) após ter decolado do Bahrein, com escala na Itália.
O acidente
Os dois aviões sobrevoavam a região sul da Alemanha na hora da colisão. O local era próximo à fronteira com a Suíça, na cidade de Überlingen, na região do Lago de Constança (Alemanha).
Ambos voavam na mesma altitude e em rotas conflitantes. A colisão ocorreu por volta das 23h35min, horário local.
Um pedaço da cauda do cargueiro cortou o avião de passageiros ao meio.
Causas da queda
Controlador poderia ter evitado a tragédia. Os dois aviões eram monitorados a partir do controle de tráfego aéreo de Zurique (Suíça) feito pela empresa Skyguide.
Havia apenas um controlador trabalhando em duas estações ao mesmo tempo. O outro controlador estava em um momento de descanso na hora da tragédia.
O perigo iminente não foi detectado a tempo. O controlador só percebeu que os aviões poderiam colidir quando faltava menos de um minuto para o impacto.
Instruções foram conflitantes. Enquanto o controlador falava aos pilotos do avião de passageiros para realizarem uma descida, o sistema anticolisão da aeronave mandava eles subirem.
Os pilotos do cargueiro obedeceram ao sistema anticolisão. Com isso, o avião também começou a descer na mesma altitude da outra aeronave.
A colisão aconteceu segundos depois. O relatório final da investigação apontou entre as causas do acidente a falta de percepção da situação pelo controlador e o fato de os pilotos não terem obedecido às instruções do sistema anticolisão, dando preferência para o que era orientado pelo controle de tráfego aéreo.
Destroços espalhados
A colisão dividiu o avião de passageiros ao meio. Quarenta pessoas foram jogadas para fora da aeronave naquele momento.
Destroços foram encontrados em uma distância de 2,3 km. O cargueiro acabou mergulhando e afundou dois metros no solo com o impacto.
Vingança e filme
O controlador de voo Peter Nielsen foi morto em 2004. Ele era o responsável pelo controle de tráfego aéreo de Zurique no momento do acidente.
O crime foi considerado vingança. O autor foi Vitaly Kaloyev, que perdeu a esposa e dois filhos no acidente.
O russo negou que o crime tenha sido premeditado. Ele confessou que queria mostrar a foto de suas crianças mortas para o controlador.
A história de Kaloyev influenciou alguns filmes. Um deles é o longa “Sem Perdão” (2018), que retrata a busca do pai por justiça.
Outro filme foi “Em Busca de Vingança” (2017). Ele é estrelado por Arnold Schwarzenegger, que interpreta uma personagem inspirado no russo que perdeu a família.
Acompanhe Pragmatismo Político no Instagram, Twitter e no Facebook