"Ele faz a gente acreditar que o erro é normal. Lutei para me aceitar, tive que tirar os meus pontos com um alicate de unha". Imagens chocantes foram compartilhadas pelas vítimas nas redes, que relatam quadros de depressão e insônia. Médico tem legião de seguidores e procedimentos custavam até R$ 70 mil à vista
Cerca de 40 mulheres denunciaram o cirurgião plástico Felipe Mendonça de Araújo Costa por supostos erros médicos e falta de assistência. A Polícia Civil de Maceió (AL) diz que vai investigar as acusações e a Associação AME, que acolhe mulheres vítimas de violência, vem acompanhando o caso.
Entre as denúncias, estão cicatrizes que inflamaram e necrosaram, barriga e glúteos deformados, assimetria nas mamas, pontos que se abriram e cirurgias de reparos que pioraram a situação das mamas. As imagens das vítimas são muito fortes e não serão expostas no Pragmatismo.
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Um dos relatos é de uma mulher que realizou a cirurgia de implante de silicone. Ela diz que passou a sentir vários sintomas. “Após a colocação das próteses, comecei a sentir vários sintomas, mas nunca associei ao silicone. Acabei adquirindo a ‘doença do silicone’ (síndrome de Ásia), uma doença autoimune. Procurei o médico, relatei, ele não acreditou, mas fiz o explante com ele em novembro de 2021. Após o explante, tive várias sequelas, inclusive com risco de morte. Hoje estou bem, mas descobri que ele mentiu, não fez o explante em Bloco (próteses + cápsulas)”.
As mulheres começaram a compartilhar processos contra o cirurgião e fotos de sequelas em seus corpos. Agora, já são cerca de 40 que afirmam ser vítimas do profissional.
Felipe Mendonça de Araújo Costa é um dos mais renomados cirurgiões plásticos de Alagoas. Somente em seu Instagram ele tem 63 mil seguidores.
R$ 70 mil à vista
Letícia Moraes, 27, foi a primeira a denunciar Mendonça nas redes sociais. Quinze dias após, ela conta que já tinha outros cinco relatos e resolveu criar um grupo de WhastApp. A paciente relata que pagou R$ 70 mil à vista pela cirurgia em dezembro de 2022. Ela passou por uma miniabdominoplastia e lipo HD, procedimento que define os músculos.
A mulher diz que, após a cirurgia, seus seios e glúteos ficaram assimétricos, sua barriga ficou maior e o umbigo mudou de forma. “Ele ainda mudou a minha prótese na cirurgia, colocou uma maior do que tinha combinado. No terceiro dia tive seroma (acúmulo de líquido no local da cicatriz cirúrgica), a enfermeira que contratei foi quem notou. Foi horrível”.
Letícia conta que foi processada pelo médico após denunciá-lo nas redes sociais. “Ele quis intimidar, disse que (os membros maiores) estavam murchando, e eu sabia que não estava. Eu já era magra, e ele sempre colocava a culpa na minha depressão. Eu deixei Maceió, entreguei meu apartamento e fui morar com meus pais em Japaratinga”.
Barriga queimada, pescoço arranhado, mama preta
Walkyria Solano, 47, conta que em 2015 procurou Mendonça para fazer uma nova abdominoplastia. Ela já havia feito o procedimento cinco anos antes com outro médico.
Segundo ela, na cirurgia o médico não conseguiu suturar o corte, queimou sua barriga e arranhou o seu pescoço. “Parecia uma cirurgia de emergência, não de um cirurgião plástico. Ainda me culpou por não ter tido um bom resultado. Tentei vários recursos para melhora: laser, camuflagem de cicatriz, mas nada. São oito anos de depressão, insônia. Foi um circo de horrores”.
Niedja Silva, 44, afirma que desde jovem sonhou em reduzir as mamas. Ela fez uma cirurgia em junho de 2019. Foram quatro procedimentos de uma só vez: redução de mama, abdominoplastia, extração de vesícula e lipoaspiração.
A paciente relata que, no dia seguinte à cirurgia, uma amiga que a acompanhava alertou que uma mama estava ficando preta. Ela então decidiu mandar foto ao médico.
“Minha abdominoplastia abriu após a cirurgia e ficou um buraco. Ele sempre disse que era normal, que o meu corpo era de difícil de cicatrização. Minhas mamas ficaram feias e com cicatrizes enormes. Tive que fazer uma tatuagem para cobrir o buraco que ficou […] Ele faz a gente acreditar que é normal o erro”.
Isadora Catharine, 32, também queria reduzir a mama e passou por uma cirurgia com Mendonça em 2021. Após a operação, diz que ficou com um seio e uma auréola maiores que os outros.
Ao procurar o médico e questioná-lo, disse que ouviu dele que ‘todo corpo é assimétrico’. “Eu lutei para me aceitar, tanto que eu mesma tirei os meus pontos com um alicate de unha para não ter que mostrar a mais ninguém. Ainda não consegui fazer uma reparadora, continuo do mesmo jeito”.
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Em nota divulgada por seus advogados, o médico diz contestar todas as acusações. “Ressalto que não há nenhum tipo de laudo pericial ou qualquer evidência que corrobore com a alegação de suposto erro médico de minha parte. Tampouco condenação judicial ou ética”.
com informações do blog do Carlos Madeiro