Papa Francisco critica aqueles que, assumindo a Bíblia como referência, promovem discursos de ódio e justificam a exclusão do movimento LGBT da comunidade eclesial: “Essas pessoas são infiltrados que se aproveitam da Igreja para suas paixões pessoais, para sua estreiteza pessoal. É uma das corrupções da Igreja”
Francesco Antonio Grana, Il Fatto Quotidiano | Tradução: Moisés Sbardelotto, Unisinos
O diálogo com o papa Francisco está contido no documentário “Amén. Francisco responde”, de Jordi Évole e Màrius Sánchez, que pode ser visto na plataforma de streaming Disney+. Sobre os direitos dos homossexuais, o papa é muito claro: “Toda pessoa é filha de Deus, toda pessoa. Deus não rejeita ninguém, Deus é pai. E eu não tenho o direito de expulsar ninguém da Igreja. Não só isso, meu dever é acolher sempre. A Igreja não pode fechar a porta a ninguém. A ninguém”.
Francisco, então, critica aqueles que, assumindo a Bíblia como referência, promovem discursos de ódio e justificam a exclusão do movimento LGBT da comunidade eclesial: “Essas pessoas são infiltrados que se aproveitam da Igreja para suas paixões pessoais, para sua estreiteza pessoal. É uma das corrupções da Igreja”.
Bergoglio também se debruça sobre a pornografia: “Se você vende drogas pela rede, por exemplo, está intoxicando os jovens, está causando danos, está fomentando um crime. Se você estabelece contatos mafiosos pela rede para criar situações sociais, é imoral. A moralidade da mídia depende do uso que se faz dela”. E acrescenta: “Quem é dependente da pornografia é como se fosse dependente de uma droga que o mantém em um nível que não o deixa crescer”.
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Um momento muito forte do documentário é o testemunho de um jovem que conta ao papa que foi repetidamente abusado, aos 11 anos de idade, por um numerário do Opus Dei que trabalhava como professor em sua escola. O culpado foi condenado pela justiça civil, embora com uma pena reduzida. Bergoglio se mostra entristecido, mas acima de tudo surpreso quando o jovem lhe entrega uma carta escrita justamente por ele. Era a resposta pessoal do pontífice, dirigida ao pai do menino, na qual lhe dizia que o Dicastério para a Doutrina da Fé se ocuparia do caso em nível canônico.
O jovem, que admite não ser mais uma pessoa de fé, explica-lhe que o ex-Santo Ofício deliberou que era preciso restituir o bom nome daquele professor, isentando-o das responsabilidades. Francisco se compromete a rever o caso, mas os outros jovens o contestam pela resposta geralmente negligente da Igreja à pedofilia do clero. O papa responde: “Esses casos de abuso de menores não prescrevem. E se prescreverem com o passar dos anos, eu automaticamente tiro essa prescrição. Não quero que isso prescreva jamais”.
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As perguntas, como relata o L’Osservatore Romano, são abrangentes. A quem lhe pergunta se ele recebe salário pelo seu trabalho, o papa responde: “Não, eles não me pagam! E, quando preciso de dinheiro para comprar sapatos ou outra coisa, eu vou e peço. Não tenho um salário, mas isso não me preocupa, porque sei que me dão de comer de graça”.
Ele conta que seu estilo de vida é bastante simples, “como o de um empregado médio”, e que para uma despesa maior ele prefere não onerar a Santa Sé, mas pedir ajuda aos outros. Ele explica que, quando vê que uma organização social precisa de ajuda econômica, é ele mesmo quem a encoraja a pedir recursos, pois sabe muito bem onde encontrá-los e a quem se dirigir. “‘Peçam’, eu digo a eles, porque no fim, aqui dentro, todos roubam! Por isso, eu sei onde se pode roubar, e eu lhe mando o dinheiro. Com isso, quero dizer que, quando vejo que é preciso ajudar alguém, então, sim, eu vou e peço ao responsável pelas ajudas”.
Passa-se ao tema das migrações, e o papa denuncia tanto a exploração das pessoas nos países de partida quanto a falta de moralidade de quem não as acolhe: “Isso acontece hoje, acontece nas fronteiras da Europa e, às vezes, com a cumplicidade de algumas autoridades que os mandam de volta. Há países na Europa, não quero citá-los para não criar um caso diplomático, que têm pequenas cidades ou vilarejos quase vazios, países onde só há 20 idosos e campos incultos. E esses países, que estão vivendo um inverno demográfico, não acolhem sequer os migrantes”.
Por fim, dialoga-se sobre o aborto: “Eu sempre digo aos sacerdotes que, quando uma pessoa nessa situação se aproxima, com um peso na consciência, porque o sinal que um aborto deixa na mulher é profundo, que, por favor, não lhes façam muitas perguntas e sejam misericordiosos, como Jesus. Mas o problema do aborto deve ser visto cientificamente e com uma certa frieza. Qualquer livro de embriologia nos ensina que, no mês da concepção, o DNA já está delineado, e os órgãos já estão todos definidos. Por isso, não é um aglomerado de células que se unem, mas uma vida humana”.
E acrescenta: “É lícito eliminar uma vida humana para resolver o problema? Ou, se eu recorro a um médico, é lícito contratar um mercenário para que elimine uma vida humana para resolver um problema?”.
E ainda: “É bom chamar as coisas pelo seu nome. Uma coisa é acompanhar a pessoa que fez isso, outra é justificar o ato”.
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