Professora trancou bebês no banheiro e impediu tragédia ainda maior em creche de SC
Professora trancou bebês no banheiro de creche para salvar crianças de massacre em Blumenau. Simone telefonou para autoridades após esconder “os pequenos”
Simone Aparecida Camargo, uma professora da creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), relata que trancou bebês no banheiro para tentar protegê-los durante a chacina desta quarta (5). Ela diz que ligou para autoridades após esconder “os pequenos”.
Ainda abalada, ela deu detalhes do momento exato em que o homem pulou o muro da escola armado e atacou as crianças que brincavam ao ar livre. “Minha parceira de sala chegou correndo dizendo ‘fecha a porta, fecha a janela porque um cara assaltou o posto’. Pensamos que era um assalto porque ele invadiu a escola, só que fechei os bebês no banheiro, depois vieram na porta dizendo que ele ‘veio matando’, ele foi no parque para matar. No parquinho, a turma do pré estava toda no parque fazendo uma roda de conversa. Ele tinha mais que uma arma”, relatou.
O ataque aconteceu no início da manhã na creche Cantinho Bom Pastor, uma unidade de ensino é particular. Na ação, quatro crianças foram mortas, entre elas três meninos e uma menina com idades de 5 a 7 anos.
Um homem de 25 anos pulou o muro da creche e iniciou o ataque contra as crianças com uma machadinha. As vítimas foram atingidas na região da cabeça. Como mostrou o Pragmatismo, o autor do atentado reverenciava o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais.
Em uma das publicações, o autor do massacre compartilha uma postagem da página ‘Bolsonaro Blumenau’, que relaciona positivamente o ex-presidente a personagens do filme Os Vingadores. Em outra postagem, o assassino compartilha uma série de motivos para votar em Bolsonaro. Em uma terceira publicação, o criminoso compartilha um texto de Eduardo Bolsonaro segurando um fuzil.
Na manhã de hoje, poucas horas antes do ataque, o criminoso publicou no Facebook uma mensagem de agradecimento a um policial, que ele cita como o ‘coordenador’ do atentado. “Policial ******** que comandou o ataque, resistência manda um salve!”.
A Polícia Civil informou que apura o envolvimento de outras pessoas. “A gente quer identificar se tem mais algum participante, se mais alguém participou, como ele tramou esse plano, onde ele obteve informações”, disse o delegado geral de Santa Catarina.
Doutor em Ciências Sociais, Rudá Ricci afirma que é impossível desassociar o ataque ao clima de ódio que se instalou no Brasil nos últimos anos. “Jair Bolsonaro obteve 75,28% dos votos em Santa Catarina no segundo turno das eleições do ano passado. Não se trata de uma coincidência: trata-se de um ambiente contaminado pelo discurso da autorização da violência”, afirmou.
O ataque ocorre menos de dez dias após uma escola em São Paulo ser alvo de um aluno adolescente que matou uma professora com golpes de faca e deixou outras três feridas, além de um estudante. Desde 2011, mais de 10 escolas foram atacadas por criminosos no Brasil.
Silvio Almeida, ministros dos Direitos Humanos, desabafou após o massacre: “Eu não estou feliz, estamos matando a esperança. Vamos esperar chegar no número dos Estados Unidos, que é um país que é modelo para muita gente? Vamos esperar chegar em 300 ataques por ano, com essa gente cultuando arma? Nós falhamos miseravelmente com Bernardo Cunha Machado, de cinco anos; com Bernardo Pabest da Cunha, de quatro anos; com Larissa Maia Toldo, de sete anos; com Enzo Marchesin Barbosa, de quatro anos. Esse é o nome das crianças que foram assassinadas hoje”.