EUA

Trump ofende juiz e promotor após saber que pode pegar até 136 anos de prisão

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De acordo com documentos judiciais, entre agosto de 2015 e dezembro de 2017, Trump orquestrou um esquema de pagamentos de propina para ocultar informações potencialmente prejudiciais antes da eleição presidencial de 2016. Alvo de 34 acusações, Trump pode pegar até 136 anos de prisão

Donald John Trump

Cleide Klock, RFI

Donald Trump, em tom de campanha e com retórica agressiva, partiu para o ataque. O ex-presidente e pré-candidato às eleições de 2024, em seu discurso de quase meia-hora, usou o microfone para ofender pessoalmente o juiz, Juan Merchan, o promotor, Alvin Bragg – responsáveis pelo caso que corre no tribunal de Nova York –, além de outras autoridades que investigam processos contra ele.

Trump se colocou como vítima de perseguição do Partido Democrata e de órgãos federais como o FBI. “Nunca pensei que isso poderia acontecer nos Estados Unidos”, declarou o magnata, antes de classificar seu indiciamento como um “insulto” ao país. Esta vai ser a principal alegação da defesa neste processo, no qual agora é réu.

Redes de televisão norte-americanas, como a ABC e a MSNBC, que estavam mostrando ao vivo o discurso, pararam a transmissão pela metade, alegando que era um comício cheio de notícias falsas. A ABC cortou a fala logo após Trump dizer que Joe Biden estaria começando a Terceira Guerra Mundial.

O discurso aconteceu em um auditório lotado de apoiadores, em seu resort, na Flórida, logo após Trump chegar de Nova York. No tribunal em Manhattan, o ex-presidente recebeu formalmente 34 acusações de falsificação de registros comerciais, que envolvem pagamento para silenciar duas mulheres, com as quais supostamente se relacionou, e também um porteiro que teria tentado chantageá-lo. O republicano se declarou inocente de todos os crimes.

Volta ao tribunal

Trump deve se apresentar novamente no tribunal em 4 de dezembro. De acordo com a imprensa norte-americana, acusação e defesa estariam negociando uma data para o início do julgamento, em janeiro de 2024.

Em uma audiência de quase uma hora, o juiz Juan Merchan indiciou Donald Trump por 34 acusações relacionadas à falsificação de registros comerciais, na primeira acusação criminal contra um ex-presidente americano que pode ter consequências para suas aspirações de voltar à Casa Branca.

Sou “inocente”, disse o republicano de 76 anos em voz clara diante do juiz no tribunal, onde se sentou cabisbaixo, às vezes olhando entediado para o magistrado e outras vezes ouvindo atentamente.

De acordo com documentos judiciais, entre agosto de 2015 e dezembro de 2017, Trump orquestrou um esquema de pagamentos para ocultar informações potencialmente prejudiciais antes da eleição presidencial de 2016. Segundo a promotoria, Trump se tornou réu de três acusações relacionadas com o pagamento de propinas em troca do silêncio de pessoas que ele conhecia.

(Imagem: Evelyn Hockstein | Reuters)

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Um desses pagamentos, pelo qual Trump se sentará no banco dos réus a partir de janeiro de 2024, foi de US$ 130 mil (R$ 466 mil na conversão à época) para comprar o silêncio da atriz de filmes pornô Stormy Daniels, na reta final da campanha, após um suposto caso extraconjugal ocorrido dez anos antes, algo que ele sempre negou.

O ex-presidente também é acusado de pagar US$ 30 mil (aproximadamente R$ 98 mil em valores da época) para silenciar um porteiro da Trump Tower que dizia ter informações sobre um suposto filho ilegítimo do magnata. Uma mulher, que diz ter sido amante de Trump, cobrou US$ 150 mil (cerca de R$ 490 mil) para omitir esse relacionamento, detalhou o promotor Alvin Bragg em nota à imprensa.

O então advogado de Trump, Michael Cohen, foi o encarregado de fazer os pagamentos, e o magnata o reembolsou em parcelas, supostamente fazendo-as passar por honorários profissionais.

“Donald J. Trump falsificou repetida e fraudulentamente os registros comerciais de Nova York para esconder crimes que ocultaram informação prejudicial ao eleitor durante as eleições presidenciais de 2016”, declarou o promotor Alvin Bragg em um comunicado. Em coletiva de imprensa após a audiência, Bragg disse que “não se pode normalizar condutas criminosas graves” e que “todos são iguais perante a lei”.

“Surreal”

“Não há nenhum caso aqui. Nada de ilegal foi feito”, reagiu Trump em sua rede, a Truth Social, na viagem de volta à sua mansão na Flórida.

“A acusação em si é padrão”, disse um de seus advogados, Todd Blanche, acrescentando que ele e sua equipe vão “lutar contra ela, lutar com força”.

Tanto Trump, que já foi alvo de duas tentativas de impeachment pelo Congresso quando era presidente (2017-2021), como seus advogados insistem que o processo é uma “caça às bruxas”.

“Parece SURREAL – UAU, vão me PRENDER. Não posso acreditar no que está acontecendo nos Estados Unidos – MAGA!” (sigla de seu movimento ‘Make America Great Again’), havia dito Trump na Truth Social a caminho do tribunal.

Este caso é apenas um dos vários problemas legais para o ex-presidente, que também está sob investigação por seus esforços para reverter sua derrota nas eleições de 2020 no estado da Geórgia. Trump ainda é investigado por seu suposto papel na insurreição de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio, bem como pelo manuseio e custódia de documentos secretos em sua casa após deixar a Casa Branca.

O indiciamento criminal de Trump, algo inédito para um ex-chefe de Estado americano, “não é uma prioridade” para seu sucessor, Joe Biden, disse a porta-voz da Casa Branca nesta terça-feira. “Obviamente (o presidente Biden) vai acompanhar algumas das notícias quando tiver um momento para se atualizar, mas isso não é uma prioridade para ele”, disse Karine Jean-Pierre.

Divisão

“Trump ou morte” ou “Make America Great Again” (Fazer os Estados Unidos grandes de novo) estampavam cartazes e bandeiras, bonés e camisetas de alguns apoiadores que foram ao tribunal dar apoio ao republicano. Mas opositores também se manifestaram dizendo “Trump mente o tempo todo”.

Em uma tentativa de politizar o caso e motivar seus apoiadores, que responderam enviando-lhe mais de US$ 7 milhões (cerca de R$ 35,5 milhões, nos valores atuais) para sua campanha de 2024 desde que o indiciamento foi anunciado, na última quinta-feira, o magnata relembrou na rede Truth Social o que já usa como um lema: “Eles não estão vindo atrás de mim, estão vindo atrás de vocês. Estou apenas no caminho deles”.

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