Os 'amiguinhos do Google' recebem grande visibilidade no mecanismo de busca por critérios que até agora a maioria não entendeu, enquanto veículos da mídia alternativa (não só de esquerda, mas principalmente de esquerda) sofrem boicote. O Google não quer perder a audiência da extrema-direita e investe em quem não lhe incomoda. Não há o que fazer contra esse poder que desafia até o Supremo e debocha do Ministério Público e do Congresso
O debate em torno do projeto de lei 2630, que pretende combater as fake news, envolve várias questões, como a vampiragem de organizações como o Google, que ganham dinheiro com conteúdo produzido pelos outros.
Todos os grandes grupos que exploram a distribuição de conteúdo jornalístico, sem gastar um real na sua produção, são também sabotadores da mídia ainda chamada de alternativa. Mas nem toda mídia alternativa é sabotada.
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Por isso surgiram, recentemente, os amigos do Google, que recebem verbas e visibilidade por critérios que até agora a maioria não entendeu direito.
O que sei e sabemos todos é que sites e blogs de esquerda sofrem boicote do Google. O meu blog é um deles.
Há pouco mais de dois anos, de surpresa, o Google passou a tirar visibilidade desse blog de forma drástica, destruidora. Como fez com quase todos os outros, não só de esquerda, mas principalmente de esquerda.
Por que eu sei? Porque media a audiência, como a maioria mede, com as métricas do próprio Google.
Leitores de toda parte passaram a enviar mensagens, queixando-se de que os textos desse blog não eram mais mostrados pelo Google.
Mas não me entreguei. Apenas parei de medir audiência, para não desistir. Mas sei de gente que decidiu se entregar, por não ter como reagir à sabotagem.
E tudo acontece porque o Google quer a forte audiência da direita e da extrema direita, incluindo a dos neonazistas (tanto que os protege e não entrega dados de criminosos à Justiça) e a audiência de quem não o incomode.
Espaços que produzem principalmente conteúdos de esquerda não têm a simpatia do Google, do Facebook, do Twitter (que não uso) e de assemelhados.
O Google investe na audiência do fascismo e de quem produz comidinha leve. O resto, se for muito apimentado, será sabotado, como vem sendo feito desde 2020.
Não há o que fazer contra esse poder que desafia até o Supremo e debocha do Ministério Público e do Congresso.
O Google e também as organizações donas das redes sociais fazem o que bem entendem, muitas vezes com a conivência do sistema de Justiça, com o argumento de que não há leis nessa área.
Nesta segunda-feira, quase todos os jornais online deram de manchete a denúncia de que o Google lidera a campanha suja contra o projeto 2630.
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E ainda usa fake news, dizendo que a regulação das big techs irá piorar a internet. E direciona as buscas sobre o projeto de lei para textos da extrema direita, que atacam a proposta.
Essa informação mentirosa, de que a lei iria piorar a internet, foi trocada depois por essa frase, logo abaixo do logotipo: “O PL das fake News pode aumentar a confusão sobre o que é mentira e o que é verdade no Brasil”. Veja na imagem ao alto, que reproduz a página com a frase.
É jogo pesado. O Google não quer perder o direito de disseminar mentiras e de ter a audiência de mentirosos extremistas.
O PL 2630, que tentará pôr ordem na disseminação de fake news e ódios (e também na vampiragem), talvez não mude nada e nem seja votado nesta terça-feira.
E segue o baile com quem puder dançar e se transformar em amiguinho do Google.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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