Advogados de defesa justificaram que Jair Bolsonaro estava abalado e sem condições de prestar depoimento à PF, mas ex-presidente apareceu chorando na Jovem Pan no programa de Emílio Surita
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apareceu chorando na tarde desta quarta-feira (3/5) na emissora Jovem Pan. Ele afirmou que não cometeu nenhum crime, após ser alvo de operação da Polícia Federal (PF) que investiga fraudes em dados de vacinação contra a Covid-19. Segundo o ex-mandatário, o cumprimento de mandados de busca e apreensão na casa dele, pela manhã, foi uma ação policial com objetivo de “esculachar”.
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“Essa questão de hoje, receber a PF na sua casa, não há dúvida, que é o que eu chamei de operação para te esculachar. Poderiam perguntar sobre vacinação pra mim, cartão, eu responderia sem problema nenhum. Agora é uma pressão enorme, 24 horas por dia, o dia todo, desde antes de assumir a Presidência, até agora. Não sei quando isso vai acabar”, declarou durante o programa Pânico, da Jovem Pan.
“Por que eu fico emocionado? Mexeu comigo, sem problema. Agora vai para a esposa, para a filha… é desumano”, prosseguiu. “Acharam o cartão de vacina da minha esposa e tiraram fotografia. A suspeita era de fraude, mas ela tinha se vacinado”, disse com voz embargada.
Entenda o caso
O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid, foi preso pela Polícia Federal na manhã desta quarta-feira (3). O militar está entre os alvos da Operação Venire, que mira um grupo suspeito de inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.
A Polícia Federal afirma que Jair Bolsonaro adulterou a própria carteira de vacinação e as dos seus auxiliares e familiares. Com isso, o ex-presidente da República cometeu uma série de crimes: falsidade ideológica, fraude em relação a países estrangeiros e corrupção de menores, já que até a filha do presidente também teve sua carteira falsificada.
As investigações da PF apontaram que a falsificação teria o objetivo de facilitar a entrada do ex-chefe do Executivo, familiares e auxiliares próximos nos Estados Unidos, burlando a regra de vacinação obrigatória. A situação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também é investigada pela PF.
A ideia era emitir certificados falsos de vacinação para pessoas que não tinham sido imunizadas e, dessa maneira, permitir acesso a locais onde a imunização é obrigatória.
O que torna o caso ainda mais grave é o fato de o Brasil ter tido ao menos 700 mil mortes por causa da Covid-19, enquanto o então governante fazia proselitismo contra a vacinação.
A militância antivacina de Bolsonaro deixou sequelas no país que continuará fazendo vítimas, porque a atual cobertura vacinal brasileira é a mais baixa da história. Bolsonaro divulgou todo o tipo de mentira sobre vacinas, inclusive vinculando imunizantes à Aids.
Como o esquema foi descoberto
1. Inicialmente, um médico bolsonarista da prefeitura da cidade de Cabeceiras (GO) preencheu o cartão de vacinação contra a Covid-19 para Bolsonaro, Laura, Mauro Cid e sua mulher.
2. Com o cartão em papel, o grupo então tentou registrá-lo no sistema eletrônico do SUS no município de Duque de Caxias (RJ), para que ele pudesse ser considerado oficial e valer, por exemplo, em viagens internacionais.
3. Como o lote de vacinas informado tinha sido enviado para Goiás e não para o Rio, o sistema rejeitou as informações. Aí começou uma troca de mensagens entre Mauro Cid e seus ajudantes que acabaria flagrada na operação revelada hoje.
4. Por essas mensagens, a Polícia Federal apurou que foi preciso conseguir um outro número de lotes de vacinas, este do Rio, para fazer o registro. Depois que o cartão de vacinação foi registrado e se tornou oficial, o grupo baixou os arquivos, imprimiu os cartões e os apagou do sistema. Assim, quem procurasse os registros de vacinação do grupo no sistema eletrônico não encontraria.
5. Só mesmo depois de ter acesso às mensagens de Cid e fazer uma perícia no sistema é que a Policia Federal descobriu a adulteração. Até então, não se sabia que Jair Bolsonaro e sua filha também haviam registrado cartões falsos.
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