Empresária emprestou a própria barriga para que a amiga de infância realizasse o tão sonhado desejo de ser mãe e de ter uma criança com o próprio DNA. Conselho Regional de Medicina deu aval para a realização do procedimento
via Universa
Uma impossibilidade de ter filhos fez o coração de Mariana Guerra, de 38 anos, bater mais forte para ajudar a amiga de infância. A empresária se solidarizou e emprestou a própria barriga para que a enfermeira de Anchieta (ES) Débora Caprini, 37, realizasse o tão sonhado desejo de ser mãe e de ter uma criança com o próprio DNA.
Segundo os médicos, Débora estava impossibilitada de gerar o próprio filho. Ela foi diagnosticada em 2016 com câncer no colo do útero e teve que fazer a retirada total. Depois, descobriu que tinha endometriose, adenomiose, cisto no ovário direito e trompa direita obstruída.
Diante da situação, a irmã de Débora se dispôs a ser a barriga solidária: foram feitas três tentativas em 2021, mas não deram certo. Foi aí que apareceu a amiga da época da escola e, em setembro do ano passado, um novo capítulo na história das duas famílias começou a ser escrito.
Ela contou sua história ao portal Universa. Confira:
“Nascemos no interior, aqui todos se conhecem. Em 1998, fomos estudar em Guarapari e íamos na mesma Topic (van), mas foi uns três anos depois que ficamos muito mais próximas, quando fomos morar em Vitória. Eles tentaram três vezes na irmã da Débora, a Thaís. Para eles, cada vez que não dava certo, era desgastante. Estavam exaustos emocionalmente. Em setembro, conversei com meu marido. Chamamos a Débora e William aqui em casa e oferecemos a eles para fazer o processo em mim.
Os embriões são da Débora e do William, foi feita uma FIV (fertilização in vitro) em mim. Tudo começou com a aprovação do Conselho Regional de Medicina, pois não somos parentes de 4º grau e, pela lei, somente poderia ser feito com esse aval. Em janeiro, o CRM aprovou. Menstruei no dia 20 de janeiro deste ano e, na semana seguinte, fomos por seis dias seguidos a Vitória medir meu endométrio.
Desde o início estava dentro dos parâmetros indicados. No 14º dia do ciclo menstrual voltamos lá e, com a proteção de Nossa Senhora, fizemos a transferência dos embriões, sem necessidade de tomar nenhum hormônio. No instante da transferência, eu senti que deu certo! É uma energia muito forte saber que uma vida foi transferida para seu corpo.
A Débora me manda mensagem toda sexta-feira dizendo com quantas semanas Maria Júlia está. O tamanho e as mudanças fisiológicas. Vem aqui em casa quase todos os dias. William e Débora vão a todos os exames, consultas, como pais que são. A barriga está começando aparecer agora, e sempre falo com os avós: ‘podem beijar, passar mão, que é neta de vocês, fiquem à vontade’.
Nossos familiares e amigos só souberam da notícia quando o bebê já estava aqui dentro. Essa é uma decisão muito particular. Ninguém além do nosso coração precisa ser consultado. Acompanhamos a história da Débora e do William desde sempre, foi uma decisão que foi crescendo. Nada de um dia para outro.
Eu não tenho medo de me apegar. É muito claro para todos aqui em casa que após o parto, Maria Júlia vai para casa dela e volto para a minha para ser cuidada pelos meus amores. Tenho duas filhas linda: Maria Cecília, de 6 anos, e Ana, de 3. Além de um marido que não sei explicar o tanto que me apoia nesta vida. Ele fez parte da decisão, o sim também é dele. É um cara fantástico. Por isso eu me casei com ele (risos).
O não pertencimento não quer dizer que não existe amor. Todos os dias converso com ela e explico o quanto ela é amada. Maria Júlia é filha dos pais que muito sonharam e lutaram por ela e logo a terão nos braços. Esse é também nosso sonho realizado. De alguma forma, ela é o sonho de tanta gente que sofreu com Débora e William, que vibrou de felicidade também. Ela é filha deles e é o amor de muita gente, mas muita gente mesmo.
Meu propósito de vida foi este. Me sinto honrada por desempenhar um papel de portal para o amor e realização de pais tão dedicados como William e Débora. Deve ser algo que vem de dentro do coração, um desejo forte de servir, e só. Ninguém deve fazer isso por encorajamento de terceiros, sabe?
Quem tem este desejo, certamente em algum momento na vida encontrará oportunidade de dizer seu sim. A vida nos traz tudo que precisamos. Que a trajetória de Will, De e Maria Júlia inspire cada pessoa que tem o coração apertado pela impossibilidade de ter um filho de forma natural e não pode. Que eles sejam exemplo de perseverança e de que há outros caminhos.”
“Eles me ensinaram a ter fé e acreditar em milagres”, contou Débora.
“A Mari é uma amiga não só da infância, mas da vida. Ela esteve com a gente em muitos momentos e já não aguentava mais ver a gente sofrer com a espera. Os médicos implantaram dois embriões e um vingou. Ela me ligou um dia à tarde passando muito mal, já mandou levar um teste de farmácia e fez. Colocou o resultado numa caixinha e foi a maior surpresa de vida ver o resultado positivo.
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Sabíamos da possibilidade de adotar, nunca fomos contra, eu quero fazer isso também, mas foi tão incrível saber que poderíamos ter no nosso colo alguém com o nosso DNA. Foi Deus que nos presenteou com o milagre da vida. A Mari foi o anjo usado. Ali, eu tive a certeza de que milagres existem. O verdadeiro sentindo de que o amor é o dom da vida. Onde não tem colo de útero, tem um coração no lugar. Eles me ensinaram a ter fé e acreditar em milagres, no milagre da vida.
Estou em processo de realização. Um dos maiores sonhos da minha vida está sendo realizado. As expectativas daqui para frente, principalmente, para quando ela nascer é de curtir bastante a nossa princesa. Dar todo amor do mundo para ela que está guardado aqui dentro há anos. Maria Júlia será uma menina abençoada.”
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