Caroline Cintra, g1
Há quem diga que uma mulher só é completa quando tem um filho. Para algumas, é o amor da maternidade que preenche qualquer vazio que possa existir. Para outras, essa é apenas uma parte — não obrigatória — para que uma mulher seja plenamente satisfeita na vida.
“A mulher vai ser julgada de qualquer jeito, porque o que está por trás disso é o controle sobre a mulher, sobre as nossas escolhas, sobre os nossos corpos e, no fim, sobre nossa capacidade reprodutiva”, diz a especialista em mulheres e mercado de trabalho Carla Sabrina Xavier Antloga.
Antes, o sonho de constituir família era quase unânime. Mulheres eram mães jovens e se dedicavam exclusivamente ao marido, aos filhos e à casa.
Atualmente, a maternidade tem sido mais tardia — por causa da carreira, da falta de um parceiro ideal e outros motivos —, ou uma possibilidade fora de cogitação. Na semana em que se comemora o Dia das Mães, o g1 conversou com mulheres que tomaram decisões diferentes sobre maternar.
Mãe e profissional
Ariane Gonçalves tem 30 anos e é fonoaudióloga, empresária, esposa, dona de casa e mãe do Pietro Henrique, de 4 meses. Ela conta que sempre quis ser mãe e que a decisão de engravidar foi em parceria com o marido, logo após a pandemia da pandemia de Covid-19.
Apesar da realização do sonho, Ariane reconhece o desafio que é administrar todas as jornadas.
“Conciliar a vida de mãe, empresária, é algo bem complexo, tendo que conciliar um turbilhão de coisas para conseguir trabalhar, dar atenção para meu marido, meu filho”, diz a fonoaudióloga.
Mas ela revela que o papel de mãe se tornou o mais importante da vida. “A maternidade veio para me mostrar o significado de amor, é um sentimento de amor incondicional e trouxe ressignificado para a minha vida. Uma mulher quando se torna mãe se sente mais completa e descobre o quão forte é”, diz.
Maternidade adiada
Aos 34 anos, a servidora pública que o g1 vai chamar de Maria, porque ela não quer ser identificada, ainda tem dúvidas sobre a maternidade. Hoje, para ela, o foco é a carreira profissional e, por isso, decidiu congelar óvulos.
“Para ter filho, eu sempre quis ter a estabilidade financeira que o serviço público proporciona. Consegui, mas preciso decidir sobre a maternidade com calma. Ainda sou nova, mas vai que lá na frente eu queira muito? Congelei os óvulos para poder ter essa tranquilidade”, diz.
A ginecologista Lorrainy Rabelo conta que a procura pelo congelamento de óvulos tem crescido no Distrito Federal. Segundo a especialista, os motivos das pacientes são diversos, sobretudo a prioridade da carreira profissional.
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“O procedimento [de congelamento de óvulos] é uma possibilidade de postergar a maternidade com mais segurança”, diz a médica.
Lorrainy explica que o melhor período para fazer o congelamento de óvulos é antes dos 35 anos — idade em que há uma redução mais acelerada da quantidade e da qualidade dos óvulos. “Tem chances de uma mulher chegar aos 39 anos com quantidade e qualidade boa de óvulos, sim, mas tudo depende de vários fatores”, afirma a especialista.
Para quem deseja passar pelo procedimento, a ginecologista diz que é preciso planejamento e aconselhamento. “Falo sobre a realidade no consultório, para que a paciente tome a decisão bem informada de tudo. Sobre as possibilidades, o processo e a diversidade que tem. Tem gente que quer filhos parecidos com os pais, outros já têm apego ao patrimônio genético. Apresento todas as cartas possíveis”, diz.
‘Nunca quis ser mãe’
Se tem uma certeza que a técnica em secretariado, Beatriz Ribeiro, de 35 anos, tem é a de não querer ser mãe. A decisão foi tomada ainda na infância e, mesmo adulta, percebeu que nunca teve o “espírito materno”.
Beatriz diz que a cobrança da sociedade é grande, mas quando surge o questionamento, ela é direta: “Quem quer ter filho, que vá ter o seu. Pois ninguém vai pagar as minhas contas, acordar de madrugada para dar de mamar para a criança, dar remédio quando a criança ficar doente”, diz.
Apesar das cobranças, a técnica em secretariado diz que é bem resolvida com a decisão e com a vida que tem.
“O que me faz feliz e plena, são as coisas que conquisto”, afirma Beatriz.
Cobranças da sociedade
A professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), especialista em mulheres e mercado de trabalho, Carla Sabrina Xavier Antloga, explica que em qualquer uma das opções existe o controle que a sociedade “acha que deve ter sobre a vida da mulher”, e que isso gera um discurso “perverso” em uma escolha que é da mulher.
Ela destaca que o Estado não oferece suporte qualificado para a mulher que resolve ter filho e trabalha fora e, por isso, ela precisa sair do mercado de trabalho, porque não tem condições de pagar creche, transporte e babá para a criança. “Ela fica sem trabalho, é amparada por outras pessoas ou entra no empreendedorismo dentro de casa por necessidade e não por oportunidade”, diz Carla.
“Se a mulher quer avançar na carreira dela, ela é tida como aquela que ‘ah, por que quis ter filho? Se não ia criar, por que teve?’. Existe uma lógica de que o papel de cuidar só pode ser bem exercido pela mãe, o que não é verdade”, diz a especialista.
Já sobre a mulher que decide não ser mãe e foca na carreira recaem outros tipos de cobrança, diz a especialista.
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“É como se fosse a desalmada, porque a boa mulher é a que vai ser boa mãezinha, que vai ser colocada num lugar quase santificada, porém, quando ela estiver lá [ no papel de mãe], vai ser apedrejada da mesma forma”, aponta Carla Sabrina.
A psicóloga Jennifer Lisboa aconselha que, para lidar com as cobranças externas, a mulher não deve fazer escolhas para satisfazer expectativas alheias, principalmente quando o assunto é maternidade, “que é uma decisão pessoal”.
“É importante saber quem você é, ter clareza de seus planos, de seus projetos e sonhos. Aprender habilidades para se posicionar, colocar limites, ser assertiva em sua comunicação para que não se sinta ainda mais cobrada e desconfortável diante de perguntas inconvenientes”, diz a psicóloga.
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