Redação Pragmatismo
Meio Ambiente 02/Mai/2023 às 21:11 COMENTÁRIOS
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Policial cai em cratera de 80 metros que ameaça engolir cidade inteira no MA

Publicado em 02 Mai, 2023 às 21h11

PM cai em cratera que ameaça engolir cidade inteira no Maranhão. Fenômeno está ligado ao desmatamento e já 'devorou' 3 ruas e 50 casas

voçorosas maranhao
(Imagem: Maurício Marinho)

Um policial militar aposentado sofreu fraturas no braço e no pé após despencar em uma cratera de 80 metros na cidade Buriticupu (MA). O município é atingido pelo problema das voçorosas há 30 anos.

A vítima se chama José Ribamar Silveira. O acidente aconteceu durante a madrugada, mas o policial só foi resgatado por volta das 7h desta terça-feira (2). “Ele é conhecido como ‘Tenente Silveira’ e caiu com o carro particular dele. Está no hospital e o caso requer cuidado, pois teve algumas fraturas”, disse a polícia.

O que são as voçorosas

A população de Buriticupu, cidade a 417 km de São Luís, vive em alerta por conta dos riscos causados pelas voçorocas. A cada ano, as crateras avançam cerca de cinco metros sobre a cidade. Durante o período chuvoso, a situação na região só piora.

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Buriticupu é a cidade maranhense com a maior concentração de crateras, são 26 buracos gigantes que tiram o sono dos moradores. “Assusta, muito. Às vezes eu fico orando à Deus para não chover tão forte, tem horas até que eu peço perdão para Ele”, conta Nazaré Feitosa, técnica em segurança do trabalho, que mora próximo às crateras.

A casa do zelador Carlos Cardoso está a 5 metros das crateras. “Quando chove aqui, rapaz, é perigoso demais. É perigoso que ninguém dorme aqui, a noite todinha acordado só escutando o barranco desabar, tem vez que eu levanto para olhar, se não está quebrando realmente mais para cá, é obrigado a gente sair correndo”, diz.

As crateras são pequenos fenômenos geológicos que surgem como fendas no solo, geralmente provocadas pela água da chuva. Se nada é feito para conter, uma cratera pode chegar ao grau de voçoroca, quando atinge um lençol freático, como aconteceu em Buriticupu.

Nos últimos dez anos, só uma voçoroca engoliu três ruas e mais de 50 casas em Buriticupu. Parte da Vila Santos Dumont despareceu completamente e as casas que ainda não desabaram, estão próximas aos barrancos e foram abandonadas. A família do serralheiro João Otávio Farias perdeu 14 casas de aluguel.

“Em 2001, meu pai comprou esse terreno, construiu a casa de moradia dele, o local de trabalho dele que era uma marcenaria, ele mexia com madeira e no decorrer do trabalho dele, ele foi comprando um terreno aqui, construindo uma casinha ali e fazer como se fosse aposentadoria dele. Essas casas aqui eram todas alugadas. Chegou um ponto que ninguém alugaria mais por conta do perigo”, diz o serralheiro.

A origem do problema

De acordo com especialistas, o desmatamento, a ocupação desordenada, o relevo e o solo arenoso são os principais fatores que contribuíram para o surgimento e o avanço das voçorocas.

As primeiras voçorocas se formaram a partir da rápida expansão urbana de Buriticupu, como consequência do desmatamento da vegetação nativa em áreas de alta declividade, explica o professor Fernando Bezerra, do programa de pós-graduação em Geografia, Natureza e Dinâmica do Espaço, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).

“A malha urbana da cidade, e seus sistemas de arruamentos, aliadas aos fortes eventos pluviométricos, contribui também com o grande volume de água (enxurradas) que chega no interior dessas voçorocas, aumentando o risco de avanço nas residências locais”, explicou o professor que pesquisa o fenômeno na região.

A pesquisadora Heloisa Ferreira Filizola, doutora em geografia física pela USP (Universidade de São Paulo), explica que a cratera surge como sulco, pequeno e raso. Depois, se não houver contenção, evolui para ravina, ganha profundidade e, por último, vira voçoroca ao atingir o lençol freático. “É a ‘erosão antrópica’ causada pela ação humana”, observa.

O professor Fernando Bezerra afirma que é necessário investir na proteção do solo com a cobertura da manutenção vegetal da área próxima a essas crateras, principalmente em locais com alta declividade e próximo às nascentes de rios.

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Além disso, deve-se evitar queimadas e desmatamento em áreas próximas, devido a instabilidade do solo. E para uma maior eficácia, as autoridades também precisam investir em infraestrutura com esgotamento sanitário, drenagem urbana e retirar da região a população em torno das cabeceiras das crateras.

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