PM cai em cratera que ameaça engolir cidade inteira no Maranhão. Fenômeno está ligado ao desmatamento e já 'devorou' 3 ruas e 50 casas
Um policial militar aposentado sofreu fraturas no braço e no pé após despencar em uma cratera de 80 metros na cidade Buriticupu (MA). O município é atingido pelo problema das voçorosas há 30 anos.
A vítima se chama José Ribamar Silveira. O acidente aconteceu durante a madrugada, mas o policial só foi resgatado por volta das 7h desta terça-feira (2). “Ele é conhecido como ‘Tenente Silveira’ e caiu com o carro particular dele. Está no hospital e o caso requer cuidado, pois teve algumas fraturas”, disse a polícia.
O que são as voçorosas
A população de Buriticupu, cidade a 417 km de São Luís, vive em alerta por conta dos riscos causados pelas voçorocas. A cada ano, as crateras avançam cerca de cinco metros sobre a cidade. Durante o período chuvoso, a situação na região só piora.
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Buriticupu é a cidade maranhense com a maior concentração de crateras, são 26 buracos gigantes que tiram o sono dos moradores. “Assusta, muito. Às vezes eu fico orando à Deus para não chover tão forte, tem horas até que eu peço perdão para Ele”, conta Nazaré Feitosa, técnica em segurança do trabalho, que mora próximo às crateras.
A casa do zelador Carlos Cardoso está a 5 metros das crateras. “Quando chove aqui, rapaz, é perigoso demais. É perigoso que ninguém dorme aqui, a noite todinha acordado só escutando o barranco desabar, tem vez que eu levanto para olhar, se não está quebrando realmente mais para cá, é obrigado a gente sair correndo”, diz.
As crateras são pequenos fenômenos geológicos que surgem como fendas no solo, geralmente provocadas pela água da chuva. Se nada é feito para conter, uma cratera pode chegar ao grau de voçoroca, quando atinge um lençol freático, como aconteceu em Buriticupu.
Nos últimos dez anos, só uma voçoroca engoliu três ruas e mais de 50 casas em Buriticupu. Parte da Vila Santos Dumont despareceu completamente e as casas que ainda não desabaram, estão próximas aos barrancos e foram abandonadas. A família do serralheiro João Otávio Farias perdeu 14 casas de aluguel.
“Em 2001, meu pai comprou esse terreno, construiu a casa de moradia dele, o local de trabalho dele que era uma marcenaria, ele mexia com madeira e no decorrer do trabalho dele, ele foi comprando um terreno aqui, construindo uma casinha ali e fazer como se fosse aposentadoria dele. Essas casas aqui eram todas alugadas. Chegou um ponto que ninguém alugaria mais por conta do perigo”, diz o serralheiro.
A origem do problema
De acordo com especialistas, o desmatamento, a ocupação desordenada, o relevo e o solo arenoso são os principais fatores que contribuíram para o surgimento e o avanço das voçorocas.
As primeiras voçorocas se formaram a partir da rápida expansão urbana de Buriticupu, como consequência do desmatamento da vegetação nativa em áreas de alta declividade, explica o professor Fernando Bezerra, do programa de pós-graduação em Geografia, Natureza e Dinâmica do Espaço, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
“A malha urbana da cidade, e seus sistemas de arruamentos, aliadas aos fortes eventos pluviométricos, contribui também com o grande volume de água (enxurradas) que chega no interior dessas voçorocas, aumentando o risco de avanço nas residências locais”, explicou o professor que pesquisa o fenômeno na região.
A pesquisadora Heloisa Ferreira Filizola, doutora em geografia física pela USP (Universidade de São Paulo), explica que a cratera surge como sulco, pequeno e raso. Depois, se não houver contenção, evolui para ravina, ganha profundidade e, por último, vira voçoroca ao atingir o lençol freático. “É a ‘erosão antrópica’ causada pela ação humana”, observa.
O professor Fernando Bezerra afirma que é necessário investir na proteção do solo com a cobertura da manutenção vegetal da área próxima a essas crateras, principalmente em locais com alta declividade e próximo às nascentes de rios.
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Além disso, deve-se evitar queimadas e desmatamento em áreas próximas, devido a instabilidade do solo. E para uma maior eficácia, as autoridades também precisam investir em infraestrutura com esgotamento sanitário, drenagem urbana e retirar da região a população em torno das cabeceiras das crateras.