Corrupção

Sem querer, operação da PF contra Bolsonaro pode revelar quem mandou matar Marielle

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Enquanto investigava o esquema de fraude da vacinação da família Bolsonaro, Polícia Federal pode ter achado o caminho para esclarecer um dos maiores mistérios da política nacional: o assassinato de Marielle Franco. No celular de Ailton Gonçalves, um dos melhores amigos de Bolsonaro, preso hoje na operação, a PF encontrou mensagens em que ele admite saber quem mandou matar a vereadora. Além disso, a PF informou que Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, recebeu ajuda de um acusado de envolvimento no assassinato de Marielle

Ailton Gonçalves Moraes Barros e Jair Bolsonaro

O major reformado Ailton Gonçalves Moraes Barros, preso na manhã de hoje (3) pela Polícia Federal, enviou mensagens ao ex-ajudante de ordens Mauro Cid dizendo que sabia quem era o mandante da morte da vereadora Marielle Franco.

Ailton é considerado um dos amigos mais próximos de Jair Bolsonaro, enquanto Mauro Cid é o auxiliar número 1 do ex-presidente e foi o braço direito de Bolsonaro nos 4 anos de governo.

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A Polícia Federal afirma que descobriu as mensagens sobre Marielle Franco por acaso, enquanto investigava o esquema de falsificação dos cartões de vacina. “Eu sei dessa história da Marielle, toda irmão, sei quem mandou. Sei a porra toda. Entendeu? Está de bucha nessa parada aí”, diz a mensagem de Ailton enviada em 30 de novembro de 2021.

Nas mensagens, Ailton disse que sabia que haviam tentado armar algo para o ex-vereador Marcelo Siciliano no caso do assassinato de Marielle Franco. Siciliano também foi um dos alvos de busca e apreensão da operação desta quarta que mira a inclusão de dados falsos sobre vacinação contra a covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.

Siciliano também já foi acusado de ser um dos envolvidos na morte de Marielle. A PF encontrou mensagens de Siciliano intermediando contatos na Secretaria de Saúde de Duque da Caxias, no Rio de Janeiro, para a inserção de dados falsos sobre vacinas no sistema do SUS para beneficiar Cid e Bolsonaro.

ENTENDA:

1. De acordo com o que foi apurado pela PF, no dia 30 de novembro de 2021, Ailton Barros e Mauro Cid trocaram várias mensagens de áudio. As gravações foram transcritas pelos agentes da PF.

2. Em um dos áudios, Ailton Barros comunicou a Mauro Cid que o ex-vereador do Rio de Janeiro Marcello Siciliano teria intermediado a inserção de dados falsos de vacinação nos sistemas do Ministério da Saúde, em benefício de Gabriela Santiago Cid, esposa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

3. Como contrapartida pelo sucesso da inserção dos dados falsos, Ailton Barros solicitou a Mauro Cid que intermediasse um encontro de Siciliano com o cônsul dos Estados Unidos no Brasil para resolver um problema relacionado ao visto de entrada de Sicilinao no país norte-americano.

4. Ailton Barros relatou a Mauro Cid que Siciliano estava tendo problemas com o visto em razão do envolvimento do nome do ex-vereador no caso do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco. Siciliano chegou a ser investigado na época do crime. Mas, depois de investigar, a polícia descartou a participação dele na morte da vereadora.

5. Ailton Barros diz a Cid que Siciliano estava enfrentando o problema de visto “injustamente”, “de bucha”, e argumenta que ele não teria relação com a morte da ex-vereadora. Ailton Barros enviou a seguinte mensagem de áudio:

“De repente, nem precisa falar com o cônsul. Na neurose da cabeça dele [Siciliano], que ele já vem tentando resolver isso há bastante tempo, manda e-mail e ninguém responde, entendeu? Então, ele partiu para a direção do cônsul, que ele entende que é quem dá a palavra final. Mas a gente sabe que nem sempre é assim, né? Então quem resolva, quem resolva o problema do garoto, entendeu? Que tá nessa história de bucha. Se não tivesse de bucha, irmão, eu não pediria por ele, tá de bucha. Eu sei dessa história da Marielle toda, irmão, sei quem mandou [matar]. Sei a p*** toda. Entendeu?”

Os investigadores da Polícia Federal pediram para tomar o depoimento de Ailton após a descoberta das mensagens sobre a morte de Marielle Franco. O militar reformado prestou depoimento nesta quarta-feira (3), mas a PF ainda não forneceu mais detalhes.

Ailton agora se soma a outros nomes próximos de Jair Bolsonaro que já foram citados no caso Marielle Franco. Ronnie Lessa, acusado de ser o homem que atirou na ex-vereadora, era vizinho de Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra.

Caso Marielle Franco

A vereadora Marielle Franco foi assassinada em março de 2018. As investigações foram marcadas por trocas de delegados e promotores e poucos avanços. Até hoje, cinco anos após o crime, ninguém esclareceu quem mandou matar Marielle e qual a motivação da execução.

Pouco mais de um mês após assassinato da vereadora, delegados federais apresentaram como “testemunha-chave” à DH (Delegacia de Homicídios da Capital, órgão da Polícia Civil do Rio) o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira.

A testemunha trabalhou como motorista do ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, apontado como chefe de uma milícia que atua na zona oeste do Rio.

Em seu depoimento, “Ferrerinha”, como é apelidado o policial, apontou o ex-vereador Sicilliano e Curicica como mandantes do assassinato da vereadora filiada ao PSOL. Ele afirma ter testemunhado reuniões em que ambos planejaram o atentado a Marielle Franco.

No entanto, uma investigação da PF, posteriormente, mostrou que o depoimento foi uma tentativa de atrapalhar as investigações e dificultar a identificação dos responsáveis pela morte da vereadora.

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