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TONY SANDOVAL E SUA OURIVESARIA EM QUADRINHOS

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Eduardo Bonzatto*, Pragmatismo Político

“…Tony Sandoval não possui a influência do mangá japonês, nem do comic norte americano. Não possui obsessão pelos temas heróicos, nem pelos temas políticos. É una exceção a todos. Uma maravilhosa exceção. …Com Tony Sandoval podemos esperar a mesma magia em sua prosa que teve William Blake, porém ilustrado por Matthias Grünewald…Não sei… Porém em sua pacífica forma de ser, adentrou ao mais profundo da “visão mais real do horror“. E saiu dela, melancolicamente”.
Esta percepção que está no prefácio de A epidemia de melancolia, edição espanhola dessa que é uma de suas obras mais melancólicas, mas todas nos convidam ao mergulho no lago escuro e tangível do cinza e dos pasteis, dos entre lugares habitados pelos seres invisíveis aos prisioneiros do cárcere cartesiano da razão.

Nascido no México em 1973 vive há muitos anos na Suíça, cercado por mirras e fadas diáfanas que lhes sussurram as canções que não existem na ancestralidade.
O escritor e artista mexicano Tony Sandoval (DOOMBOY), três vezes indicado ao Prêmio Eisner, apresenta um mundo maravilhoso de lugares secretos e magia onírica à espreita nos recantos mundanos de nossa imaginação adormecida.

Tony Sandoval é uma força milenar a ser reconhecida! Altamente versado no profético, como professor, líder, ministro e voz no Reino. Sua natureza calmante facilita o aprendizado. Tony fez grandes contribuições na igreja local como pastor e mentor de muitos. Leva os leitores de volta ao seu mundo de adolescência misteriosa e beleza surreal. Como em WATERSNAKES e DOOMBOY antes dele, o leitor se depara com sentimentos reconhecíveis de solidão e saudade misturados com perigo e aventura através de um país das maravilhas visual.
Provar suas histórias revela mais de uma vez que é um mestre do macabro com uma mão comovente, que se reveste de histórias com profundidade poética, uma teia terna de transitoriedade, insegurança, medo e amor apresentando universos de estranha beleza e mistério.

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O que faz um bom ourives. Ele une forma e conteúdo, um metal precioso com um design que expressa a preciosidade sem arrogância ou pretensão. Existem muitos fabuladores nos quadrinhos. Lembro aqui de Fabien Vehlmann que invade os mundos interiores para extrair de lá histórias dignas do fabulário.
Mas se a história fabular já é difícil de ser capturada, o desenho, o design raramente acompanha a narrativa. Tony Sandoval conseguiu esse feito singular e único de aliar aos seus temas sensíveis e complexos, uma arte delicada, que beira o caricato, como é usual, sem escorregar para dentro do previsível. Seu traço é mesmo de ourives, delicado, preciso, imaginativo e nos convida a entrar em seu mundo surreal e ocupar um lugar de delicadeza e respeito pelos buracos em árvores que até então não havíamos notado.
É como usar uma jóia única, que só você tem. E essa jóia singular ninguém mais vê, só você que a conquistou, pois é de conquista que se trata a experiência de desvendar esse universo. Uma conquista igualmente fabular, sem esforço, só sensibilidade, pois a sensibilidade é da ordem dos territórios fabulares onde habitam os seres a nos lembrar que deveríamos viver uma humanidade compartilhada.
Suas imagens são de uma magika aproximação entre os seres. Os animais têm traços humanos, os humanos, a delicadeza dos bichos, de tal sorte que com a leitura a soberania humana que se arroga superior aos outros seres se acanha e passa a ocupar seu devido lugar de seres que habitam um pequeno lugar nos traços da vida.
Raramente temos uma obra tão simpática a unir os mundos.

*Eduardo Bonzatto é professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) escritor e compositor

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