Redação Pragmatismo
Música 09/Mai/2023 às 11:21 COMENTÁRIOS
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URGENTE: Morre Rita Lee, uma das maiores cantoras da música brasileira

Publicado em 09 Mai, 2023 às 11h21

Uma das maiores cantoras e compositoras da história da música brasileira, Rita Lee morreu aos 75 anos. Ela chegou a escrever sobre a sua própria morte: "Quando morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá. Fãs, esses sinceros, empunharão meus discos e entoarão ‘Ovelha Negra’, as TVs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória. Nas redes virtuais, alguns dirão: ‘Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk’"

Rita Lee
Rita Lee (Autor
Alexandre Cardoso)

Uma das maiores cantoras e compositoras da história da música brasileira, Rita Lee morreu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra a doença.

Rita ajudou a incorporar a revolução do rock à explosão criativa do tropicalismo, formou a banda brasileira de rock mais cultuada no mundo, os Mutantes, e criou canções na carreira solo com enorme apelo popular sem perder a liberdade e a irreverência.

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Sempre moderna, Rita foi referência de criatividade e independência feminina durante os quase 60 anos de carreira. O título de “rainha do rock brasileiro” veio quase naturalmente, mas ela achava “cafona” – preferia “padroeira da liberdade”.

Rita Lee Jones nasceu em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947. O pai, Charles Jones, era dentista e filho de imigrantes dos EUA. A mãe, a italiana Romilda Padula, era pianista, e incentivou a filha a estudar o instrumento e a cantar com as irmãs.

Rita Lee chegou a escrever sobre sua morte, bem ao seu estilo: “Quando morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá. Fãs, esses sinceros, empunharão meus discos e entoarão ‘Ovelha Negra’, as TVs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória. Nas redes virtuais, alguns dirão: ‘Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk’.”

O trecho faz parte de sua autobiografia, na qual relata no mesmo tom, sempre direto e reto, tanto passagens divertidas, a exemplo das travessuras na infância e na adolescência, quanto trágicas, como o abuso de álcool e drogas e o estupro que sofreu aos seis anos de idade por um técnico que foi a sua casa consertar uma máquina.

Sem autopiedade, ela se refere a si própria com bom humor e sarcasmo, assim como aos outros —um forte traço da construção de sua imagem como a maior roqueira do Brasil.

Trajetória na música

A experiência artística não começou muito bem. Quando Rita tinha entre seis e sete anos, a conceituada pianista Magdalena Tagliaferro lhe deu aulas de piano em troca de um tratamento que fez com seu pai, Charles, dentista de origem americana. Em uma audição, a menina ficou tão nervosa que fez xixi no banquinho do piano. A professora a aconselhou a não seguir na música porque ela tinha medo de palco.

Rita, nascida em São Paulo em 31 de dezembro de 1947, morava na Vila Mariana, e o pacato bairro da zona sul, entre os anos 1950 e 1960, era terapia contra esta fobia. Na região, colégios tradicionais como o Marista Arquidiocesano, o Cristo Rei, o Bandeirantes e o Liceu Pasteur, onde Rita estudou, realizavam festas juninas, da primavera, pró-formaturas e outras, com palcos para apresentações em que os alunos experimentavam uma liberdade que contrastava com o autoritarismo da época.

Rita não seguiu o conselho da professora de piano e, na adolescência, participou de diferentes conjuntos, cantando e tentando tocar instrumentos, até chegar ao quarteto de meninas Teenage Singers.

A brincadeira ficou mais séria quando elas conheceram, em um festival no teatro João Caetano, em 1964, os meninos do Wooden Faces, do qual fazia parte Arnaldo Batista, que já se destacava no baixo. Aproximaram-se, Rita e Arnaldo, com 16 anos. Iniciaram um namoro e, com o tempo, as bandas se uniram.

Depois de algumas mudanças de formações e de nomes, essa união deu origem aos Mutantes em 1966. O grupo foi formado inicialmente por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias.

Em julho de 1967, Elis Regina organizou a Marcha Contra a Guitarra Elétrica, passeata com artistas contra o que chamavam de americanização da música brasileira. Entre os presentes estava Gilberto Gil, que, curiosamente, três meses depois protagonizaria o que ficou conhecido como resposta àquela manifestação.

Ele convidou Os Mutantes para acompanhá-lo na música “Domingo no Parque”, no 3º Festival de Música Popular Brasileira da Record. Com arranjos do maestro Rogério Duprat, a apresentação marcou a introdução da guitarra na MPB. As vaias efusivas e a conquista do segundo lugar no festival atestaram que aquilo vinha mesmo de outro planeta e que ainda ia longe.

No 3º Festival Internacional da Canção, o FIC, em que Os Mutantes acompanharam Caetano Veloso em “É Proibido Proibir”, Rita se apresentou com um vestido de noiva emprestado da atriz Leila Diniz, que havia usado o figurino em uma novela.

O evento ficou marcado pelo discurso de Caetano contra a reação da plateia, que vaiava e arremessava ovos, tomates, latas e garrafas nos artistas. “Vocês não estão entendendo nada. Se vocês forem em política forem como são em estética, estamos feitos”, esbravejou.

Rita adorou, não tinha paciência com jovens de esquerda que só aplaudiam músicas de protesto, com letras e arranjos mais óbvios, e não entendiam quão transgressor podia ser a mistura da canção popular brasileira com o pop internacional em meio a experimentações sonoras.

Essa foi a base da tropicália, movimento artístico liderado por Gil e Caetano, do qual Os Mutantes fizeram parte.

Em tempos extremamente machistas, causava ainda mais impacto a irreverência de Rita, que só crescia. Em 1969, ela voltou a usar, no 4º FIC, o vestido de noiva, mas com um novidade —colocou um enchimento na barriga para se fazer de grávida.

A performance se deu na apresentação de “Ando Meio Desligado”, na qual os Mutantes partem do efeito da maconha para algo romântico (“Ando meio desligado/ Eu nem sinto meus pés no chão/ Olho e não vejo nada/ Eu só penso se você me quer”). Na foto da contracapa do LP, Rita está na cama com os irmãos Batista, todos nus.

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Foi demais para o conservador Flávio Cavalcanti, um dos mais populares apresentadores de TV do país, que quebrou o disco no ar. Mais sinal de sucesso, impossível. Do Brasil, a repercussão passou a ser internacional, com a presença nos palcos do Midem, tradicional evento do mercado fonográfico em Cannes, em 1969, e do Olympia, em Paris, em 1970.

com informações da Folha

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