Novas gravações desmascaram Robinho e mostram a perversidade do estuprador e de quem o apoia. Jornalista responsável pela apuração disse que precisou ouvir os áudios a conta-gotas: "Em vários momentos parei para fazer outra coisa para não pensar, porque realmente embrulhava o estômago. Cheguei a me questionar se teria forças para ir em frente com esse trabalho"
O ex-futebolista Robinho foi condenado em todas as instâncias da Justiça da Itália por estupro coletivo. O caso, datado de 2013, foi investigado pela polícia italiana.
Nesta quarta-feira (14), o portal UOL divulgou conversas interceptadas que mostram a reação do jogador ao ficar sabendo das denúncias sobre participação no estupro coletivo.
O Pragmatismo também teve acesso aos áudios na íntegra, que totalizam quase 10 horas de gravação. O conteúdo contém linguagem forte, relatos de abuso sexual e pode servir como gatilho.
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“Por isso que eu estou rindo, eu não estou nem aí. A mina, a mina estava extremamente embriagada, não sabe nem quem que eu sou”, diz o ex-jogador do Milan em trecho.
Em outro diálogo, Robinho chega a fazer ameaças de agressão. “A mina sabe que tu não fez porra nenhuma com ela, ela é idiota? A gente vai dar um soco na cara dela”, completou.
Uma das jornalistas responsáveis pela apuração e escuta dos áudios, Janaina César revelou que pensou em desistir do trabalho em algum momento.
“Foi muito difícil. A gente foi ouvindo por ‘degraus’, porque não dá para ouvir tudo e ficar inerte. São muitos pesados e a gente foi fazendo a conta-gotas. Teve vários momentos que tive que parar e fazer outra coisa para não pensar, porque realmente revirava o estômago. Muitas vezes eu me questionava: ‘será que vou ter forças para ir em frente com esse trabalho?'”.
“Um momento muito marcante foi ler um pedacinho do depoimento dela (vítima) e aquilo foi bem pesado. A gente estava lendo o que ela tinha lembrado e aquele momento foi bem difícil, realmente não dava para engolir a seco”, acrescentou.
Repercussão
Os áudios repercutiram na imprensa. Marco Antônio Villa, comentarista da CNN, afirma que Robinho demonstra desprezo pelas pessoas. “É algo pavoroso, né? Não dá. E aí a gente começa a pensar, a fazer uma reflexão, que os jogadores de futebol, esses ‘top’, eles se julgam acima do bem e do mal, e que eles podem fazer tudo”, disse.
Após a revelação dos áudios, a jornalista Ana Thaís Matos, comentarista do Grupo Globo, usou as redes sociais para relembrar os ataques que sofreu durante o caso Robinho. “Grande silêncio de quem tanto nos atacou no caso do ex-jogador. Lembro das entrevistas da advogada dourada (que criticou a jornalista à época). Lembro do colega que me encontrou gritando comigo porque, segundo ele, eu estava acabando com a carreira dos amigos dele. Lembro de entrevistas de colegas me atacando”.
Os ataques à jornalista vieram acompanhados de um vazamento do número de telefone dela na mesma semana em que o pai estava internado — ele morreu dias depois. “O ponto que conquistamos nisso tudo foi ter mais homens preocupados em sair dos clichês e não deixando só responsabilidade pras mulheres. Porque a gente acaba sempre sendo a lacradora, enquanto os caras ficam em silêncio e só falam de bola. Mas é um assunto de todos nós”, completou Ana Thaís.
Renato Maurício Prado, do UOL, afirma que Robinho tem que ser preso. “O Brasil precisa prender o Robinho, a Justiça brasileira precisa prender o Robinho. Ah, mas o julgamento foi na Itália e no Brasil ele está protegido, por que? Quer dizer que o cara pode cometer um crime no país estrangeiro e quando chega no próprio país ele está protegido? Não faz o menor sentido. Esses áudios são mais que suficientes para botar o Robinho na cadeia”.
“Esse caso do Robinho seria uma ótima oportunidade para dar exemplo: você não pode ser criminoso, não interessa se seu crime foi na Itália, na Suíça ou nos EUA, se ficar comprovado que você é um criminoso, você vai pagar. Está provado, comprovado o que ele fez, contado pela própria voz, e fica por isso mesmo? A Justiça brasileira tem obrigação de botar o Robinho na cadeia”, acrescentou.
“As conversas são nojentas, não há outra palavra. Quer dizer, há: as conversas são criminosas. Quem conseguir relevar qualquer aspecto do caso, que levou à condenação de Robinho a nove anos de prisão por estupro coletivo, não tem salvação. Quem não se convencer da violência, misoginia e maldade destes homens, com esses diálogos, só pode ser como eles”, pontuou Alícia Klein, professora e colunista do UOL.
Robinho debochou no início
O material mostra como o ex-jogador, num primeiro momento, tratou com descaso a formalização da denúncia do que aconteceu em 2013. Ao longo dos diálogos divulgados, Robinho se contradiz. Nas primeiras conversas interceptadas, o ex-jogador faz pouco caso das acusações e afirma não ter tocado na garota. A investigação da polícia italiana, por meio de provas forenses e baseado também em próprias falas do brasileiro, provou o contrário.
“Eu vi o Rudney rangando ela, e os outros caras rangando ela. Então os caras que rangaram ela vão se f*der”, diz Robinho em outro momento. Rudney é um dos amigos do atleta que estava em Milão.
Foram ao menos seis pessoas que tiveram algum tipo de contato com a mulher que formalizou a denúncia em 2014. O grupo foi denunciado no artigo 609 do Código Penal Italiano, que descreve o crime de violência sexual de grupo.
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Diálogos mostram como Robinho e Ricardo Falco, condenados em todas as instâncias da Justiça italiana, combinaram com seus amigos versões diferentes para compartilhar ao longo do depoimento.
Trecho dos áudios: