‘Roteiro do golpe’ em celular de Mauro Cid desmonta tese de que Bolsonaro nada sabia. Trama completa para manter ex-presidente no poder ilegalmente foi encontrada pela PF no celular do ex-ajudante de ordens. Após pedido de Lula, Exército tira dos EUA coronel que trocou mensagens com Cid. Segundo o Portal da Transparência, salário do coronel golpista é de R$ 25,5 mil
Novos arquivos encontrados no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, detalham um plano completo de golpe militar. O roteiro do ataque faz parte de um relatório de 66 páginas produzido pela Diretoria de Inteligência da Polícia Federal, divulgado nesta quinta-feira (15) pela revista Veja.
De acordo com a reportagem, os peritos escrutinaram mensagens de WhatsApp, áudios, backups de segurança e arquivos armazenados pelo auxiliar do ex-presidente em seu aparelho celular. O conjunto do material não deixa dúvida de que nos últimos dias do governo Bolsonaro havia gente graúda empenhada em atentar contra a democracia.
A maioria das mensagens reveladas são de autoria do coronel Jean Lawand Junior, subchefe do Estado-Maior do Exército, ao longo de dezembro do ano passado. Entusiasta do golpe, Lawand pede a Cid que “convença o 01 a salvar esse país”. “O homem (Bolsonaro) tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB (Exército Brasileiro) não está com ele, da divisão para baixo está. Assessore e dê-lhe coragem”, acrescenta o coronel.
Em outro trecho, o militar ainda diz que o ex-presidente não poderia “recuar agora”. E que não tinha “nada a perder”. “Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E, pior, na Papuda, cara”, escreveu ao ajudantes de ordens.
O documento encontrado pelo PF não é o mesmo da minuta do golpe flagrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Mas, a exemplo dela, os arquivos apreendidos com Cid também têm como alvos primordiais os magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O roteiro, passado ao ajudante de ordens, ainda foi batizado de “Forças Armadas como poder moderador”.
O plano de golpe, que terminaria na convocação de novas eleições, se sustenta na tese de que haveria um conflito entre os Poderes e que as Forças Armadas poderiam ser chamadas para intervir. Para isso, o primeiro passo seria nomear um interventor. A figura coordenaria “as medidas de restabelecimento da ordem constitucional”, descreve o roteiro golpista. Na sequência, entram como alvos o Judiciário, que teria seus atos suspensos. Além disso, também seriam afastados preventivamente aqueles que “praticaram atos de violação direta da Constituição”.
As conversas também envolvem a esposa de Mauro Cid, Gabriela Cid, que aparece fazendo convocações para que apoiadores de Bolsonaro “invadam” Brasília.
Coronel é afastado após pedido de Lula
Após pedido do presidente Lula (PT), o Exército decidiu tirar o coronel Lawand de missão nos Estados Unidos. O comandante do Exército, general Tomás Paiva, decidiu que o coronel Lawand será substituído até que consiga esclarecer as mensagens enviadas ao ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, para que ele convencesse o ex-presidente a colocar em prática um plano de golpe.
Um processo interno para avaliar a conduta do militar já está em processo de instauração. A avaliação é que somente após essa medida avançar é que o comandante deve eventualmente decidir por medidas de afastamento do militar.
Jean Lawand Junior é coronel de artilharia do Exército e frequentou a Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), no Rio de Janeiro, a mesma em que Bolsonaro se formou anos antes. Lawand se graduou em Ciências Militares na Aman. Ele também é pós-graduado na mesma área pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.
O coronel tem salário bruto de R$ 25,5 mil. Os dados são do Portal da Transparência, do governo federal.
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