Crianças mais velhas removeram corpo da própria mãe para retirar bebê dos destroços na Colômbia
Crianças mais velhas tiveram que mover a mãe para conseguir retirar bebê dos destroços do avião na Colômbia. “Podemos dizer que a menina, a mais velha, é uma heroína, porque foi capaz de cuidar e proteger seus irmãozinhos por 40 dias na mata fechada”, diz indígena que organizou resgate. Avós relatam que a menina "tem 'natureza guerreira', é inteligente e foi treinada para caminhar na selva, além de já cuidar dos irmãos mais novos"
Terminou na última sexta-feira (9) a busca pelas quatro crianças indígenas que estavam perdidas na Amazônia colombiana. Elas sobreviveram a um acidente de avião no dia 1° de maio e passaram 40 dias perambulando pela mata fechada. Foram encontradas desnutridas, mas estão fora de perigo.
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“Podemos dizer que a menina, a mais velha, é uma heroína, porque foi capaz de cuidar e proteger seus irmãozinhos”, diz o líder indígena Giovanni Yule, que ajudou a organizar a mobilização nacional de buscas pelas crianças.
Soleini, de nove anos, Tien, de quatro, e Cristin, que completou um ano no meio da mata, hoje estão bem graças à liderança e à coragem da irmã mais velha, Lesly Mucutuy, de 13 anos.
Sergio París Mendoza, diretor da Autoridade Aeronáutica Civil da Colômbia, afirmou que as crianças mais velhas tiveram que mover o corpo da própria mãe (que ainda estava viva, mas imóvel), para conseguir retirar Cristin, de um ano, dos destroços do avião.
“A criança indígena, mais velha, conseguiu ver o movimento dos pés da bebê, e a tirou. Estava entre o corpo da mãe e do piloto. E deixaram a aeronave”, conta Sergio.
O desastre
No dia 1° de maio, o avião tinha decolado de manhã cedo do aeroporto de Araracuara, a quase 620 quilômetros ao sul da capital do país, Bogotá, com destino a San José del Guaviare. A bordo, os quatro irmãos, a mãe deles, o ativista indígena Hermán Mendoza Hernandez e o piloto, Hernando Múrcia Morales.
Segundo as investigações preliminares, o avião estava a 50 metros do solo, quando atingiu árvores e caiu. A aeronave só viria a ser encontrada quinze dias depois, assim como os corpos dos três adultos. As crianças tinham desaparecido.
“Infelizmente, a cadeira onde a mãe estava se desprende com o impacto e cai contra o corpo do piloto. A cadeira onde estava a filha maior e os menores atrás está absolutamente intacta, não se desprendeu”, completa Sergio.
O que disseram as crianças
O pai das crianças contou que a mãe delas ainda ficou viva por alguns dias, após a queda. “A menina me contou que a mãe esteve quatro dias viva. Antes de morrer, a mãe lhes disse ‘vão embora'”, relembra.
No sábado (10) o general Pedro Sanchez disse que inicialmente elas comeram três quilos de farinha de mandioca que havia no avião e depois sobreviveram à base de frutas silvestres.
Nas buscas, os socorristas chegaram a usar mensagens gravadas pela avó: ‘Fiquem parados porque o Exército está buscando vocês’. “Elas contaram que tiveram muito medo, muito medo. Escutavam o helicóptero, escutavam as buscas, escutavam os áudios enviados pela minha irmã”, conta o avô Fidencio Valencia.
“Elas sobreviveram comendo frutas silvestres, bebendo água, mas com o tempo foram se sentindo muito frágeis. E foi assim que elas decidiram parar. Quando tentavam caminhar, já não conseguiam mais seguir adiante. E foi por isso que conseguiram encontrá-las”, completa Fidencio.
Irmã mais velha foi figura central
Lesly é apontada pelos parentes como a figura central para que as crianças conseguissem sobreviver por tanto tempo. A selva onde as crianças estavam tem animais como onças e cobras, árvores de até 60 metros de altura e umidade a 82% — principalmente em maio, quando chove até 17 horas por dia na região.
Neste cenário, seria pouco provável que quatro crianças, uma delas de um ano, sobrevivessem sozinhas por 40 dias, descalças e sem comida nem água potável.
A avó das crianças, Fátima Valencia, disse que a neta mais velha tem “uma natureza guerreira”. O avô, Fidencio Valencia, já havia afirmado, antes de o grupo ser resgatado, que Lesly era muito inteligente e seria capaz de guiar os irmãos pela selva.
Ela foi apontada também pelos parentes como uma menina habilidosa, ágil e bem treinada para andar pela selva. Os irmãos vivem em Araracuara, um povoado ao pé da floresta densa, e, segundo os parentes, Lesly sempre conseguia caminhar bem pela área.
A capacidade das crianças de caminhar no meio da selva chamou muito a atenção dos militares. No total, membros do grupo de resgate andaram mais de 2.600 quilômetros na selva, segundo as Forças Armadas.
Através de pistas como frutas mordidas e objetos deixados para trás, eles percebiam que os irmãos se movimentavam quase sem parar. Além das habilidades, Lesly já cuidava dos irmãos em casa quando a mãe tinha de sair, contaram os avós à imprensa. Nestes períodos, era responsável por alimentá-los, inclusive a bebê, que completou um ano durante o período em que os irmãos ficaram perdidos na selva.
Lesly cursa atualmente o 5º ano do ensino fundamental em uma aldeia indígena, perto de onde vive com os irmãos. E, nos tempos livres, costuma brincar muito na floresta, segundo relatou a tia das crianças, Damarys Mucutuy.
Ao jornal espanhol “El Mundo”, Damarys disse que a sobrinha costumava brincar de um jogo de sobrevivência com uma das irmãs e amigas. “Ela sabia quais frutos se pode comer e quais são venenosos. E também sabe bem como cuidar de um bebê”, disse a tia ao jornal espanhol.
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