'Droga do estupro' se tornou a 'queridinha' nas festas de classe média alta em São Paulo e no Rio de Janeiro. Além de crimes sexuais, vítimas também sofrem golpes financeiros
Maurício Businari, Uol
Líquido, transparente e sem cheiro, o GHB (gama-hidroxibutírico) é uma droga sintética que tem se tornando “queridinha” nas festas de classe média alta em São Paulo e no Rio de Janeiro. Conhecido como droga do estupro, é extremamente viciante, pode ser letal e vem sendo utilizado de forma recreativa e também para a prática de golpes financeiros.
No último mês, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), três integrantes de uma quadrilha que comercializava drogas sintéticas, entre elas o GHB, foram presos durante uma operação conjunta das polícias civis de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Nas apreensões realizadas nos endereços dos acusados de integrar a quadrilha, os agentes encontraram GBL (gama-butirolactona) e butanodiol, dois compostos orgânicos que podem ser utilizados como matéria-prima para a produção de GHB.
Em entrevista ao Uol, a delegada Ana Lúcia de Souza, titular do 78° DP, no bairro Jardins, em São Paulo, disse que o golpe com o uso do GHB é muito comum, não só apenas nos crimes sexuais, mas nos golpes financeiros, como furtos de objetos de residência, dinheiro, cartões de crédito e até mesmo do celular com as senhas liberadas.
“O golpe é o mesmo, usam-se substâncias que drogam para tirar vantagem. Mas o objetivo é diferente. Parece que as novas gerações não têm mais tanto interesse no corpo do outro. O foco delas é mesmo o dinheiro. Os casos que recebo aqui tratam disso. Pessoas que foram drogadas à revelia e acordaram sem celular e tendo que cancelar transferências bancárias e empréstimos feitos em nome delas”, explicou Ana Lúcia de Souza, delegada titular do 28° DP em São Paulo.
Segundo a delegada, o registro de estatísticas específicas sobre golpes praticados com o uso de GHB no Brasil pode ser limitado, já que muitos casos podem não ser relatados ou podem ser registrados de forma mais ampla como casos de crimes sexuais, agressões ou golpes.
“Um aspecto que dificulta o rastreamento de golpes aplicados com o uso de GHB é a rapidez com que a substância desaparece do organismo de uma pessoa. Após 8 horas, ela já não é mais identificada no sangue e, após 12 horas, torna-se indetectável na urina.” uma balada, por exemplo. Eu sempre aconselho as pessoas a nunca autorizarem no celular aplicativos com serviços bancários”.
Uso recreativo de GHB
Além do uso para a prática de golpes, o GHB vem sendo usado de forma recreativa, pelo “barato” que provoca ao ser ingerido.
Segundo a psiquiatra Michele Gonçalves Teles de Almeida, especialista em álcool e drogas, os efeitos do GHB são parecidos com os do álcool, como tontura, e perda de coordenação, mas a ação sedativa e amnésica é muito mais potente.
“A droga é muito parecida com a cetamina e a fenciclidina, que são antagonistas do receptor de N-metil-D-asparato e anestésicos dissociativos que provocam intoxicação, algumas vezes com confusão ou estado catatônico”, detalhou Michele Gonçalves Teles de Almeida, psiquiatra especialista em álcool e drogas.
Chemsex ou ‘Sexo químico’
Por conta dos efeitos, o uso da substância também tem sido muito comum entre parceiros que praticam o chemsex, também conhecido como “sexo químico”. Ou seja, a prática sexual que envolve o uso de substâncias químicas, como drogas recreativas, em contextos sexuais.
Essas substâncias, como o GHB, são usadas para intensificar a experiência sexual, prolongar a atividade sexual ou reduzir inibições.
“Independentemente do caso, a substância é extremamente viciante e seu uso em excesso pode causar convulsões, deixar a pessoa em coma e até mesmo provocar a morte. Ela é dosada por conta-gotas, dado o seu grau de potência”.
O termo G é atribuído às drogas GHB (ácido gama-hidroxibutírico) e GBL (gama-butirolactona). Ambas são drogas do tipo depressivo que, em pequenas doses, podem ter um efeito estimulante e de sedação em doses mais elevadas.
Apesar do uso proibido, o GHB pode ser obtido a partir do GBL, usado como solvente industrial e removedor de tinta — mas que se torna GHB assim que entra no corpo.
O GHB é considerado uma substância controlada e é proibido no Brasil. Ele é listado como uma substância psicotrópica de uso proscrito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e está incluído na lista de substâncias sujeitas a controle especial pela Portaria SVS/MS nº 344/98. Isso significa que a produção, venda, posse e uso não autorizado do GHB são ilegais no país.
Apesar disso, é possível comprar a substância pela Internet. Em um site hospedado na Alemanha, mas escrito em português, por exemplo, um frasco com 100 ml do líquido custa 190 euros (R$ 1 mil). Já a garrafa com 2 litros da substância sai por 2.050 euros (R$ 10,8 mil).
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