Escrivã da Polícia Civil encontrada morta era assediada por colegas de trabalho
Ambiente tóxico: Escrivã morreu dias depois de denunciar assédio que sofria de policiais. Pai da vítima diz que ela não contou antes para poupar família. "Minha filha não estava em seu estado normal". Investigação ganhou novos rumos após circulação de áudios e vídeos
A escrivã da Polícia Civil Rafaela Drumond, de 31 anos, foi encontrada morta no último dia 9 de junho no município de Antônio Carlos, em Minas Gerais. A vítima era lotada na delegacia da cidade de Carandaí.
Inicialmente, o caso foi tratado pela Polícia como suicídio, mas as motivações só ficaram evidentes após áudios e vídeos gravados pela vítima passarem a circular nas redes sociais. Nas imagens que o Pragmatismo teve acesso, Rafaela é humilhada e agredida verbalmente por policiais homens. Um deles chama a vítima de ‘piranha’.
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O Sindicato dos Escrivães da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindep-MG) informou sobre o recebimento de diversas denúncias de que a vítima vinha sofrendo assédio moral e sexual, além de pressão com a sobrecarga no trabalho.
Segundo o Sindep, Rafaela fez contato com o jurídico do sindicato na semana passada denunciando assédio sofrido no ambiente de trabalho. A entidade, no entanto, disse que o conteúdo da denúncia será mantido em sigilo.
O órgão disse ainda ter recebido outras denúncias, e que uma visita técnica seria realizada na Regional. Contudo, não houve tempo hábil da intervenção antes da morte da escrivã.
Escrivã poupou a família
Segundo o pai da escrivã, o comportamento de Rafaela, que visitava os pais em Antônio Carlos a cada 15 dias, estava diferente. A suspeita dele e da esposa é que ela estivesse focada e tensa nos estudos para a prova de um concurso para o cargo de delegada. “Há três meses minha filha não estava no estado normal”, diz.
“Busquei ela terça-feira da semana passada e na sexta aconteceu toda essa tragédia. Fiquei perdido, não entendi o que aconteceu com a minha filha. Uma menina cheia de vida, com emprego e tudo e, de repente, dá essa tragédia. Fui em outro mundo e voltei. Enterrei ela no sábado, no domingo a gente ficou vagando e na segunda saiu essa notícia que aconteceu no trabalho dela. Quero que seja elucidado esse caso”.
O pai acredita que a filha tenha preservado a família e, por isso, não contou sobre as situações que vivia no ambiente de trabalho. “O que acalenta um pouco é que a escrivã chefe do estado de Minas entrou no caso. (…) Pelo menos me conforta, que o caso da minha filha vai ser elucidado. Eu acredito no trabalho da Polícia Civil, órgão no qual a minha filha pertencia e tinha o sonho de continuar lá”.
Sonho de ser delegada
Um amigo relatou que Rafaela era muito dedicada aos estudos e sonhava em ser delegada. “Nós estudávamos juntos para sermos delegados. Era o grande sonho dela. Eu fiquei em choque com a notícia da morte. Ela não chegou a comentar sobre os assédios comigo, apenas que tinha muita pressão no serviço, mas nada específico”.
Zuraide Drummond, de 57 anos, lembra que a filha passava por situações constrangedoras no trabalho. “O delegado falava diretamente que não sabia como ela havia passado na Polícia Civil, pois era desequilibrada e louca”.
A irmã de Rafaela, Karoline Drummond, conta que a familiar tentou transferência de cidade, pois não estava mais suportando a perseguição sofrida. “Teve uma vez que ela sofreu assédio sexual por um colega. O homem se inconformou por Rafaela não querer ter tido algo com ele durante uma confraternização e virou bebidas, além de uma mesa sobre ela. Na época, ela comunicou o fato para o delegado que respondeu: ‘quer que eu faça o quê?’”.
“Rafaela tinha uma vida social muito boa, mas de uns dias para cá estava muito calada. Não conversava com ninguém e estava bem deprimida. Ela chegou a comentar com alguns amigos a vontade de tirar a própria vida. Com nós da família nada disse”, revelou a mãe.
Antes de morrer, Rafaela pediu ajuda de conhecidos na divulgação dos desabafos deixados. “Eu não aguento mais ter que me reerguer todo dia e em todas as áreas”, escreveu em uma das mensagens enviadas a uma amiga.
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“Espero que a morte da minha irmã não seja em vão. Ouvi autoridades policiais comentando que este tipo de assédio é comum, só que estamos falando de uma sobrecarga desleal. Eu quero justiça”, disse Karoline.