Jornalista é ameaçado após questionar Thiago Wild sobre a denúncia de violência doméstica

Um jornalista alemão foi ameaçado após perguntar a Thiago Wild sobre a denúncia de violência doméstica. O profissional da imprensa relatou que as ameaças partiram da equipe do tenista brasileiro.

Logo depois da vitória sobre o número 2 do mundo Daniil Medvedev na primeira rodada do torneio, Thiago Wild se deslocou à entrevista coletiva com os jornalistas do mundo inteiro. Assim como o protocolo da organização prevê, os repórteres estrangeiros iniciaram a conversa em inglês.

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“Quando coloquei a pergunta transcrita já disseram que não era apropriada. Mas no momento que peguei o microfone, falei que era uma informação pública e precisava questionar [sobre a acusação de violência doméstica]. Ainda me lembro de ter pedido desculpas, tive empatia, sabia que era uma situação complicada”, relatou, em condição de anonimato.

Em seguida, o alemão conta ter sido ofendido e fotografado pelo vice-presidente da Octagon, empresa que cuida da carreira de Thiago.

Justiça nunca encontrou Wild

A equipe de Thiago Wild divulgou um comunicado à imprensa para anunciar que o tenista foi ao Rio de Janeiro após competir em Roland Garros para atender às solicitações da Justiça depois de um ano.

O atleta foi denunciado pelo MPRJ em junho de 2022 por violência doméstica e psicológica contra a ex-mulher, a biomédica Thayane Lima. O processo está parado desde então, uma vez que o tenista nunca foi encontrado nos 3 endereços que forneceu à Justiça.

A advogada de Thayane Lima, Gabriela Amábile, celebrou o andamento do processo. “Um dia feliz! Não só para minha cliente, mas para todas as mulheres. Todas nós estamos sujeitas a passar por relacionamentos abusivos e ver nossa vida e saúde mental se esvair. A continuidade de um processo que visa garantir que um acusado seja devidamente julgado, nos mostra que, uma hora ou outra, a justiça será feita”.

Thayane diz que a família de Thiago ofereceu dinheiro para ela permanecer em silêncio e não continuar com o processo. “Falaram que eu tinha que sair do apartamento e me ofereceram uma miséria de dinheiro. Eu trabalhava e fiquei sem renda. Não vivia às custas dos meus pais, porque trabalhava desde os 17 anos. Os pais dele falaram que eu estava nessa situação por culpa minha, porque sempre soube que Thiago era mentiroso. […] Os pais dele só queriam fazer um acordo para eu não contar o que aconteceu, porque temem que eu estrague a imagem de ‘tenista perfeito’ que Thiago tem”.

ENTENDA O CASO

Em agosto de 2021, Thayane relatou ter vivido um relacionamento abusivo ao lado de Thiago Wild. “Sem que eu percebesse, ele fez com que eu mudasse tudo na minha vida. Passei a não poder usar decote, nem à praia eu podia ir para não usar biquíni. Sempre usei unha grande, mas ele gostava de curta porque afirmava que unha grande era ‘de puta’. Se a minha opinião política não fosse igual a dele —e de fato não é—, ele me chamava de burra e dizia que eu tinha que ficar com os ‘pretos fod… que eu andava’. Thiago também mandou eu tirar meu piercing do nariz e reclamava do meu sotaque, dizendo que carioca fala ‘igual favelado'”, disse.

A polícia do Rio de Janeiro passou a investigar o tenista Thiago Wild pelos crimes de violência psicológica, injúria e lesão corporal cometidos contra Thayane. Após a conclusão desse processo, o atleta foi indiciado em outubro de 2021 em decisão da delegada Giselle do Espírito Santo e o inquérito criminal foi enviado à 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal de Violência Doméstica de Jacarepaguá (zona oeste do Rio). Em seguida, as autoridades encaminharam o pedido de instauração de processo criminal ao Ministério Público do estado.

O Ministério Público do Rio de Janeiro, então, denunciou o tenista Thiago Wild em abril de 2022 por violência doméstica e psicológica contra Thayane Lima.

“No dia 08 de maio de 2020, […] o denunciado Thiago consciente e voluntariamente, praticou vias de fato em face de sua ex-companheira/vítima: Thayane Lima da Silva”, diz trecho da denúncia.

“Em seu agir, o denunciado valendo-se do fato da vítima ser sua dependente financeira, humilhava e ridicularizava sua companheira perante familiares e amigos, chamando-a de incapaz, louca, lixo, piranha, puta barata, fiscalizava as redes sociais de sua companheira, determinando as postagens que poderiam ser mantidas, ressaltava com seus amigos que traía constantemente a vítima, bem como detalhava atos íntimos do casal afirmando que o sexo com sua companheira era insuficiente”, relata outro trecho da denúncia baseada em provas anexadas ao processo às quais a reportagem também teve acesso.

Passado nazista

Thayane disse que ficou indignada com o recente tratamento dado pela mídia brasileira ao tenista. “Fiquei um pouco indignada, confesso. Porque à época fui muito clara e mostrei as coisas que ele fez comigo, via Instagram. Mostrei com aval da minha advogada a questão da violência psicológica e física. Mas também prints de colocações dele de cunho machista, racista e nazista. Gente, é muito absurdo. Tudo isso é ‘apagado’ porque ele ganhou um jogo? Ele virou a melhor pessoa do Brasil? O Brasil o abraça?”.

Nos prints mencionados por Thayane Lima, Thiago Wild demonstra se orgulhar da ‘origem nazista’ da família e cita o bisavô como ‘antecessor’ de Hitler.

“Sua mãe não gosta de gays, negros e judeus, é isso?”, questiona a mulher. “Sim”, responde Thiago. “Minha família por parte de mãe é nazista. Literalmente. O meu bisavô, pai do pai da minha mãe… era o antecessor de Hitler… Foi ele quem trouxe o dito da Áustria e ensinou a vida pro Hitler”, continua.

O tenista ainda mandou fotos de um álbum de família em que marca o familiar ao lado do ditador alemão. “O Hitler em posição de sentido logo na frente do biso. Vou fazer o que, é história. Eu achei que se eu contasse amanhã você ia embora. Ai tipo, preferi contar agora porque se não quiser ir eu entendo”. Thayane se disse assustada ao saber que ainda existem “pessoas nazistas”.

Em outra ocasião, o tenista reclama com a namorada ao alegar que ‘Nó na blusa é coisa de puta’. A namorada rebate: “Todas as blogueiras do Brasil são putas, então. Eu sou puta, minhas amigas são putas, o mundo ao redor são putas”.

O rapaz retruca: “Eu não gosto que você use decote. Não gosto que você fique se mostrando […] Uma mulher não pode transar com qualquer pessoa, porque isso torna ela uma vagabunda. Um homem não tem esse posicionamento, para um homem é de boa (sic)”.

Thiago continua: “Sim, está namorando um cara opressor e machista e sempre soube que eu era. Sempre soube que eu sou pró-Bolsonaro”.

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