Redação Pragmatismo
Racismo não 12/Jun/2023 às 14:27 COMENTÁRIOS
Racismo não

Médica vai responder na Justiça após fala racista contra paciente negra de 19 anos

Publicado em 12 Jun, 2023 às 14h27

Durante a consulta, ginecologista sugeriu que a paciente exalava um 'cheiro mais forte nas partes íntimas' por ser 'negra'. Falas foram registradas em áudio. Ministério Público denunciou a médica por racismo, por se referir à jovem e ao conjunto de mulheres negras. Em sua defesa, médica disse ser neta de negros

A médica Helena Malzac (esq)
A médica Helena Malzac (esq)

A médica ginecologista Helena Malzac virou ré na Justiça após falas racistas a uma paciente negra, como a de que “mulheres pretas têm mais probabilidade de ter o cheiro mais forte nas partes íntimas”.

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O caso ocorreu quando Luana Génot, madrinha da vítima, levou a afilhada de 19 anos para uma consulta com Helena para colocar um DIU, no ano passado. A mulher conhece a médica há 10 anos.

A ginecologista disse: “Muito forte, aqui, ó. Quando você sua, o cheiro piora. É a mesma coisa do sovaco. É o mesmo cheiro, é um cheiro forte, mas é por causa da cor e do pelo. Você vai ser a vida inteira assim, então, você tem que se preocupar com isso, tá?”. Os áudios da consulta foram gravados por Luana.

A madrinha da vítima questiona se a médica estava afirmando que esse odor só ocorria com pessoas negras, e a profissional da saúde responde: “É, é muito comum. Não é 90%, mas a gente coloca uns 70%”. E complementa que essa questão teria relação também com a melanina (pigmento que dá cor a pele, aos pelos e olhos). Na pele negra, a quantidade de melanina é maior.

O MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) denunciou a ginecologista por racismo, por se referir à jovem e ao conjunto de mulheres negras.

“[A médica disse que] mulheres pretas têm mais probabilidade de ter o cheiro mais forte nas partes íntimas. De início eu me senti vulnerável e no meu canto. (…) Tenho receio de me consultar com outras ginecologistas porque tem essa possibilidade de ocorrer novamente. Então, esse medo permanece em mim”, desabafou a vítima.

Audiência na Justiça

A médica confirmou a fala na primeira audiência com o juiz no fim do mês passado. “Eu disse o seguinte, que as pessoas de cor, eles têm um cheio mais forte. Pela minha experiência de 44 anos como ginecologista atendendo mulheres, a negra tem um cheiro mais forte. E aí ela perguntou: ‘Mas por que esse cheiro?’ Eu falei, de repente pode ser por causa da melanina, mas a gente vê que a maior parte das pessoas negras tem um odor muito forte, tanto que essas firmas de desodorante, o desodorante para negro é diferente”.

A ginecologista também afirmou que pesquisou sobre o assunto: “Eu falei que a melanina também seria responsável por isso, eu aprendi isso na faculdade. E eu agora com o processo, fiz a pesquisa e achei que realmente isso ocorre”.

Fala sem base científica

Especialistas ouvidos apontam que a fala da ginecologista não faz sentido e a afirmação não tem base científica. “Odor vaginal é uma questão da mulher. Do ponto de vista científico eu desconheço essa relação”, disse Agnaldo Lopes, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.

A defesa da médica disse que ela ‘é filha e neta de negros’. “A genitora dela [da médica] é filha de norte-americano negro casado com sua avó, de nacionalidade portuguesa, que era ariana com olhos na cor azul”. (…) Porquanto a ré é filha e neta de negros e, inclusive, por tal razão pode ser considerada da raça negra”.

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