O Ministério Público entendeu se tratar de uma tentativa de homicídio, já que o homem admitiu que iria deixar a filha sem comer até que ela morresse: "Ele tinha bens e recursos financeiros para alimentar a criança". Pai teve a liberdade provisória concedida após audiência de custódia
O homem que deixou a filha de 3 anos sem comer por 40 dias foi solto após passar por audiência de custódia em Rio Claro, no interior de São Paulo. A Promotoria de Justiça da cidade apresentou recurso contra a decisão que concedeu a liberdade provisória. O Ministério Público pede que ele seja preso preventivamente.
ENTENDA O CASO
O homem de 36 anos tinha sido preso em flagrante sob acusação de maus-tratos na sexta-feira (2). A criança foi resgatada do apartamento onde morava por guardas municipais e levada ao hospital.
O pai, que não teve o nome divulgado, também estava desnutrido e foi detido depois de passar por atendimento médico. A mãe da menina morreu logo após dar à luz.
Ao pedir que o homem seja preso novamente, o promotor do caso entendeu tratar-se de uma tentativa de homicídio. Cássio Sartori avaliou que o pai tinha o dever de alimentar a filha e evitar o resultado morte.
No recurso, Sartori cita ações em tramitação na Vara de Família apontando que o homem impedia aproximações entre a menina e a avó materna. Ela procurava o genro com frequência para ajudar financeiramente e com alimentos.
O homem tinha bens e recursos financeiros para alimentar a filha. Segundo o MP, as informações constam no inventário de bens deixados pela mãe dele.
Segundo o relato da avó, o homem não respondia mais às mensagens, apagou redes sociais e começou a impedir que a avó fosse à casa onde ele morava com a filha.
O pai afirmou que ele e a filha não comiam nada havia mais de 40 dias. Segundo a Guarda Municipal, o pai disse que decidiu ficar sem alimentação até que os dois morressem. Ele não teria explicado o motivo da decisão.
Ela foi encontrada com fralda em um local sujo e sem alimentos. A menina foi socorrida e levada para uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e depois encaminhada para a Santa Casa, onde se recupera.
A menina estava pesando apenas oito quilos, desidratada e com ossos aparentes. A criança está acompanhada pela avó no hospital e por uma equipe médica com psicólogos, fonoaudiólogos e nutricionistas.
RECUPERAÇÃO
“A gente não sabe como ela resistiu a isso. Eu imagino o quanto ela sofreu nesses 40 dias de fome. Eu nunca vi na minha profissão. Mais alguns dias ela já entraria em óbito”, disse a médica pediatra Sâmila Batelochi Gallo.
Ainda segundo a médica a menina tinha dificuldade para ficar sentada. “Abria os olhos, mas não tinha essa atividade que a gente espera de uma criança de 3 anos”, disse.
Ainda de acordo com a pediatra a alimentação tem que voltar aos poucos para não causar alterações metabólicas. “Começamos com 60 calorias por dia. Ela começou a já alimentar por boca nesse instante, mas a gente pegou uma dieta bem pastosa, sem lactose, grande quantidade de proteínas. De 1 a 2 gramas de proteína por quilo por dia. E soro isotônico para tentar repor tudo isso”, explicou.
“Ela chegou com 8 quilos e está com 10 quilos, ganhou 2 quilos. A gente vê que ela já tem uma bochechinha, ela já senta e está começando a caminhar. Falar ainda nada. A gente não sabe se ela já não falava anteriormente, mas ela só dá umas balbuciadas, a gente não entende o que ela fala”.
“O que mais afeta é a parte neurológica, cognitiva, mas isso a gente vai avaliar com o tempo. Eu acredito que ela vai ter uma sequela psicossocial, porque é uma criança não ia na escola, só ficava trancada dentro de casa”, concluiu.
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