Grupo Wagner tenta tomar o poder na Rússia, ocupa prédios do governo e desafia Putin. Zelensky comemora ação, enquanto imprensa estatal russa afirma que EUA e Reino Unido estão oferecendo suporte logístico, militar e financeiro aos mercenários
Nas últimas horas os mercenários do Grupo Wagner começaram a ocupar prédios governamentais de cidades russas, em uma tentativa de golpe de estado. Este é o momento mais delicado para Vladimir Putin desde o início da guerra contra a Ucrânia.
O líder russo acusou o chefe mercenário de Wagner, Yevgeny Prigozhin, de traição, de embarcar em uma rebelião armada e de “uma punhalada nas costas de nosso país”.
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Depois de meses criticando a falta de apoio na Ucrânia, Prigozhin prometeu derrubar a liderança militar da Rússia depois de acusar os militares russos de lançar um ataque mortal com mísseis contra suas tropas.
Ele proclamou que o “mal” na liderança militar da Rússia deve ser interrompido e disse que seu objetivo “não é um golpe militar, mas uma marcha por justiça”.
O governo russo negou as acusações e abriu um processo criminal contra Prigozhin por “convocar rebelião”, crime que prevê penas de prisão de 12 a 20 anos.
Motivo do golpe
Durante meses, Prigozhin desempenhou um papel vital na campanha militar da Rússia na Ucrânia, recrutando milhares para seu grupo de mercenários Wagner, especialmente nas prisões russas. Estima-se que há mais de 20 mil mercenários apenas na guerra ucraniana, 10% de todas as tropas russas no front.
Há muito tempo ele está em uma disputa aberta com os chefes militares que comandam a guerra, mas isso agora se transformou em uma revolta.
As forças de Wagner cruzaram do leste da Ucrânia ocupada para a grande cidade de Rostov-on-Don, no sul da Rússia, e afirmam ter assumido o controle de suas instalações militares. O presidente Putin diz que a situação é difícil, mas prometeu fazer tudo para defender a Rússia.
O que começou como uma discussão sobre o fracasso dos militares em fornecer a seus mercenários equipamento e munição suficientes agora se transformou em um desafio direto aos dois homens encarregados de conduzir a guerra – o ministro da Defesa Sergei Shoigu e o chefe das forças armadas Valeri Gerasimov.
Toda a região de Moscou foi colocada em alerta sob um “regime de operação antiterrorista” e grandes eventos foram cancelados. “Somos 25 mil”, afirmou Prigozhin. “Quem quiser, junte-se a nós.” Isso não é suficiente para ameaçar o presidente, mas é um desafio para a liderança militar.
Movendo suas forças através da fronteira para Rostov, ele parece ter cercado o quartel-general militar de onde a guerra está sendo conduzida e afirma que tanto o ministro quanto o chefe de gabinete fugiram.
Avanço do motim
Entre as primeiras ações em sua rebelião contra o Kremlin nas áreas ocupadas da Ucrânia para o interior da Rússia, os mercenários enviaram uma enorme coluna militar que tomou a capital da região russa de Rostov-on-Don.
O líder mercenário disse que seus soldados cruzaram para a Rússia em vários locais e disseram que foram recebidos de braços abertos pelos agentes de fronteira.
Em um discurso à nação, Putin admitiu que está enfrentando um motim armado e que suas forças não controlam mais Rostov-on-Don. Ele também acusou o chefe do grupo mercenário Wagner de traição e ameaçou uma resposta dura.
Imagens postadas online mostram supostos soldados de Wagner cercando a sede local do Ministério da Defesa em Rostov, bem como helicópteros do grupo.
Mídia russa fala em ajuda dos EUA
A rede de televisão internacional ‘RT’ noticiou que o levante dos mercenários do grupo Wagner é coordenado pelas agências de inteligência dos EUA, da Grã Bretanha e de um país do Oriente Médio.
Alguns veículos estatais sugerem que os mercenários estão recebendo muito mais dinheiro dos EUA e da Europa do que a Rússia poderia pagar. O Wagner conseguiu importantes vitórias no campo militar contra a Ucrânia e considera que não estaria recebendo da Rússia o devido reconhecimento.
Zelensky comemora
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, se manifestou neste sábado (24) sobre a tentativa de golpe em curso. Segundo ele, “a fraqueza da Rússia é óbvia”, e “quanto mais Moscou mantiver suas tropas e mercenários na Ucrânia, mais caos atrairá para casa.”
Segundo a agência de notícias Reuters, ele fez os comentários no aplicativo de mensagens Telegram.
Yevgeny Prigozhin é ex-chef de cozinha
Yevgeny Prigozhin é de São Petersburgo, cidade natal de Vladimir Putin. Ele recebeu sua primeira condenação criminal em 1979, com apenas 18 anos, e teve uma pena suspensa de dois anos e meio por roubo. Dois anos depois, ele foi condenado a 13 anos de prisão por roubo e furto, nove dos quais cumpriu atrás das grades.
Após ser solto, Prigozhin montou uma rede de barracas que vendiam cachorro-quente em São Petersburgo. Ele se deu bem nos negócios e em poucos anos — ao longo da década de 1990, de transição das leis na Rússia — Prigozhin conseguiu abrir restaurantes caros na cidade.
Foi lá que ele começou a ter contato com as pessoas mais poderosas de São Petersburgo e, depois, da Rússia. Um de seus restaurantes, o New Island, era um barco que navegava pelo rio Neva. Vladimir Putin gostava tanto do restaurante que — depois de se tornar presidente — começou a levar seus convidados estrangeiros para comer lá. E foi provavelmente assim que os dois se conheceram.
“Vladimir Putin… percebeu que eu não tinha nenhum problema em servir pessoalmente a chefes de Estado”, disse Prigozhin em uma entrevista. “Nós nos conhecemos quando ele veio com o primeiro-ministro japonês, Yoshiro Mori”.
Mori visitou São Petersburgo em abril de 2000, no início do governo de Vladimir Putin. Em 2003, Putin já confiava em Prigozhin o suficiente para comemorar seu aniversário no New Island.
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