Se apropriando do Tipo Ideal e da Ação Social para entender as culturas
Quando pensamos em ação social, devemos trazer o que nos ensinou Max Weber sobre o tema, pois é ela uma forma individual de ação e reação, em que se um individuo age de uma determinada forma, este receberá uma reação de um segundo individuo, quase como a teoria de ação e reação que conhecemos da física em que se um corpo age no outro o outro vai reagir.
Como por exemplo, se estou na rua e quero comprar um salgado, irei parar em uma lanchonete e pedir para o vendedor este produto, logo ele reagirá a minha ação de querer comprar o salgado e me entregará ele após lhe dar o dinheiro. Tudo isso ocorreu por uma ação, eu querer o salgado e uma reação, o vendedor me entregar o salgado; por isso, considerando o exemplo, ele se rege perante uma ação social, minha necessidade de comer o salgado.
Já entender este recorte das relações sociais, é para Max Weber o Tipo Ideal, pois é apenas uma parte das múltiplas relações que se dão entre os indivíduos dentro de determinadas sociedades, considerando uma forma abstrata de expor as diversas relações observadas dentro de conceitos conhecidos pelo pesquisador, (capitalismo, democracia etc.). Cabe ressaltar que o Tipo Ideal considera uma dualidade de relações entre o recorte apresentado e sua relação com os conceitos teóricos, como se essas relações tivessem que ser etiquetadas e rotuladas.
Podemos entender, portanto, que no exemplo abordado a Ação Social de Max Weber se caracteriza pela ação de necessitar comer um salgado e pela reação de vender o salgado, mas e o Tipo Social? Está em entender e recortar o todo desta relação, é a parte que unifica e irá refletir sobre as distintas relações de compra e venda que existem em nossa sociedade capitalista.
Clifford Geertz, “bebendo desta água” das teorias weberianas, realiza uma “cartilha” para que os antropólogos possam realizar suas pesquisas etnográficas por meio da descrição densa, que é para ele, uma forma de interpretar a leitura da leitura que os nativos fazem de sua própria cultura, se tornando assim novas e múltiplas interpretações da interpretação inicial, que seria para ele a do nativo.
Retornemos, portanto, ao exemplo anterior, se aparece um terceiro individuo, que está apenas observando todos os pontos da relação que está sendo estabelecida mediante a necessidade do salgado, mas este terceiro individuo está apenas realizando o trabalho de observador etnográfico. Ou seja, ele está observando tudo que ocorre na relação que está presenciando, detalhando de forma densa cada passo e cada andamento como se estivesse descrevendo algo que mais ninguém presenciou e precisam todos entender como se tivessem vivenciado também.
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Pensando neste terceiro, ele está realizando uma descrição densa, que foi iniciada por considerar um Tipo Ideal em meio à múltiplas relações que ele poderia ter visto no espaço social que está. Vamos ilustrar, apenas para que seja melhor entendido. Em meio ao espaço, há diversas relações ocorrendo, como uma mulher andando com um cachorro, um homem brigando com outro, um casal se beijando e por fim, a compra do salgado. O tipo ideal, é justamente não considerar todos estes acontecimentos, mas ter escolhido apenas um, a compra do salgado, para que por meio dessa relação, possa inserir referencias sociológicas ou antropológicas para esta atitude.
Vale ressaltar, que Clifford Geertz, não considera a falta de interpretação do etnólogo ao momento em que ele realiza a descrição, muito pelo contrário, ele agrega a maneira interpretativa do estudioso, como um fator primordial para que seja registrado momento e ele possa ser refletido em uma pesquisa detalhada. Seria dizer, que, por exemplo, o terceiro individuo ao descrever a relação de compra do salgado, pois ele pode muito bem, expor seu posicionamento sobre o ocorrido, realizando certos comentários como: o vendedor poderia ser mais higiênico e entregar o salgado com um guardanapo; o comprador, poderia ter chegado de forma mais educada na hora de abordar o vendedor.
A descrição densa, é a forma pela qual o antropólogo irá redigir o texto etnográfico, recorta uma relação em meio as múltiplas que podem ser percebidas e ao mesmo tempo, se apropria da Ação Social, por considerar as ações e reações dos indivíduos que estão inculcados nos acontecimentos redigidos por ele.
O tipo ideal, se configura na descrição densa, quando o antropólogo começa a refletir sobre o que foi redigido e vivenciado, tentando entender dentro de diversos conceitos sociais, (democracia, capitalismo…), quais seriam considerados dentro daquela descrição realizada. Como, por exemplo, retornando ao exemplo apresentado, o estudioso que descreveu a compra do salgado, comece a redigir características dessa relação, que a façam ser meramente capitalista, expondo, a necessidade de comer, como um fator que considera a venda do salgado, que teve que ter uma troca, essa troca foi efetuada por meio de um valor, um valor dado pelo dinheiro, esse dinheiro tem um valor agregado, esse valor agregado medido pelo dinheiro, está no trabalho para confeccionar o salgado e está sendo entregue por quem precisa comer ele. Se toda essa descrição e um pouco mais, se adequar ao que seria o capitalismo, então o antropólogo considerará que essa relação ocorreu dentro de uma sociedade capitalista. Ou seja, o Tipo Ideal, considera o recorte e o conceito pelo qual poderá ser agregado os fatos ocorridos pelo recorte apresentado das relações humanas.
Podemos concluir, portanto, que para podermos entender uma cultura, será importante recortar diversos pontos em descrições densas, para entender os detalhes vivenciados, considerando as Ações Sociais estabelecidas à sociedade analisada e também aos conceitos abstratos que possam considerar e agregar esta determinada sociedade, retirando do que entende por si mesmo as sociedades observadas, para o entendimento teórico do antropólogo.
*Danilo Espindola Catalano é escritor, pesquisador e professor de espanhol, dedicado a passar a cultura latino-americana aos seus alunos. Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pós-graduado em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola, Especialista em Educação e Cultura pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais Brasil e cursando licenciatura em Letras Português/Espanhol.