Danilo Espindola Catalano*
Sempre acreditei que poderia com meus estudos e facilidade de fala, conscientizar as pessoas, sejam elas da classe social que sejam, pois meus aprendizados no curso de ciências sociais são necessários para que as pessoas entendam e saibam a realidade em que vivem, mas parece que quando tentamos fazer isso há uma barreira enorme entre mostrar a realidade e abalar o emocional do outro.
Ninguém que luta para tornar outra pessoa livre, está desejando que ela se sinta mal com qualquer coisa do mundo ou da realidade que se possa passar. Há minha volta, muita gente acha, que porque eu passo essa realidade eu sou uma espécie de âncora que não quer que as pessoas cresçam, mas na verdade nunca foi e nunca será isso, é bem diferente, é o desejo de tornar o mundo melhor de conscientizar o próximo de que o mundo não é o que os liberais e capitalistas dizem de tão fácil.
Não estou aqui para dizer que sou dono da verdade, um profeta ou até mesmo o dono do dogma supremo, isso já estamos cansados de ter com a religião, que nos apresenta uma realidade intramundana para podermos conviver com as dificuldades que passamos dia após dia no mundo em que vivemos. Ai que está, estou falando de explicar estás dificuldades por elas mesmas, fazer com que a pessoa possa ver a sua realidade como eu vi a minha e perceber qual é seu lugar neste mundo e o motivo de terem existido tais dificuldades.
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O que quero colocar aqui, é que quem aprende ciências sociais, tem o sonho de mudar o mundo e mostrar como a sociedade em que vivemos impõem as dificuldades do mundo, principalmente se a pessoa que existe, principalmente na sociedade brasileira é negra, periférica e mulher, estará atrelada a diversos ismos que a farão ter obstáculos muito mais difíceis do que eu, homem branco de classe média, não estou obviamente querendo me colocar superior a ninguém e nem devo fazer isso, pois todos devíamos ter as mesmas oportunidades e privilégios, mas não posso excluir e negar que vivo em uma bolha social que já nasce do ventre com privilégios, pois sei que eu nunca serei abordado pela polícia por ser branco, por exemplo, mas um negro sempre será visto fora destes privilégios e terá que se submeter desde o ventre a uma realidade inimaginável para mim.
Eu ter essa consciência não veio do dia para a noite, foi algo gradual e de muito estudo e leitura, mas parece que eu ter isso e passar para o próximo, seja ele quem for, para que possa entender a sua realidade e compreender a minha consciência social, é uma via em que eu me perco no caminho, pois o dilema é, falar e expressar estas realidades do mundo e ser taxado de que estou diminuindo ou não aceitando o que o outro conseguiu a vida toda ou até sendo como algo para machucar a pessoa ou ficar calado e deixar com que as pessoas se percam em sua irrealidade supérflua e utópica, pois com ela, elas se sentem “felizes”. Será que estão felizes?
Dentro destes diversos obstáculos e vendo que constantemente o mundo capitalista em que vivemos cria mecanismos para que as pessoas não sejam conscientizadas e até mesmo para que não escutem quem quer que elas se conscientizem em relação ao mundo em que vivem, pois desta forma, ele se mantei ainda mais poderoso. Até porque, é muito mais fácil dizer para aquela pessoa que passou a vida lutando para receber um salário-mínimo de que a culpa de não ter conseguido é exclusiva e totalmente dela e não de uma pressão social que existe para manter as pessoas em sua pobreza extrema e que quem consegue sair dela, é nada mais do que o exemplo para que haja um exemplo real, para culpar o próximo por suas impossibilidades.
Só quero deixar aqui a reflexão para que as pessoas possam criar mecanismo para a realização desta conscientização, por isso finalizo com a dúvida: quais mecanismos devemos criar para que nossa conscientização das realidades do mundo seja efetivamente levada em consideração por quem nunca teve contato com elas?
*Danilo Espindola Catalano é escritor, pesquisador e professor de espanhol, dedicado a passar a cultura latino-americana aos seus alunos. Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pós-graduado em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola, Especialista em Educação e Cultura pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais Brasil e cursando licenciatura em Letras Português/Espanhol.