Deputados tentam mudar trecho racista do hino do RS, mas conservadores são contra
Parlamentares do Rio Grande do Sul tentam alterar trecho racista do hino estadual, sob resistência da bancada conservadora
A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul debate nesta segunda-feira (3) o teor racista de um trecho do hino do estado. Escrito em um contexto de escravatura, a letra afirma que “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. O fato é que não faltou virtude para aqueles submetidos à escravidão. Ao contrário. Então, integrantes progressistas do parlamento querem alterar o teor do hino. Por outro lado, deputados de direita e extrema direita tentam dificultar o processo.
As discussões na Assembleia começam com uma audiência pública convocada por deputados ligados ao movimento negro. Bruna Rodrigues (PCdoB), Matheus Gomes (Psol) e Laura Sito (PT) argumentam que a alteração da letra seria “uma demanda histórica”. Por outro lado, amanhã a Casa pode votar um projeto de emenda à Constituição (PEC) de autoria de Rodrigo Lorenzoni (PL), bolsonarista e filho do ex-ministro Onyx Lorenzoni. O PEC tenta dificultar a mudança ao consolidar na Constituição do estado o hino, a bandeira e o brasão como símbolos oficiais.
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Caso aprovado, o projeto torna os símbolos “protegidos e imutáveis em sua integralidade”. Lorenzoni afirma que “PEC pretende aumentar o grau de proteção desses símbolos, mas se em algum momento a sociedade tiver interesse em alterar, basta se propor outro PEC (…) Há muito tempo, há um grupo minoritário da extrema-esquerda, que, na nossa opinião, tem um movimento democrático, mas desprovido de realidade histórica”.
O hino e a história
A deputada Bruna Rodrigues lembra que o contexto histórico do hino remete a traições e injustiças contra o povo negro. “Queremos afirmar que não somos contra o hino, mas precisamos rever símbolos que nos massacrem. Quando falamos de ‘escravos’, sabemos qual povo era escravizado na época”, disse. Ela fez referência ao Massacre de Porongos (1844). À época, escravos lutaram ao lado das forças farroupilhas contra o Império. Contudo, foram traídos por um general e mortos pelas forças da Coroa.
Estes negros que lutaram ao lado da Revolução Farroupilha na Guerra dos Farrapos (1835 a 1845) ficaram conhecidos como Lanceiros Negros. Os generais riograndenses não lutavam diretamente contra a escravidão, mas sim contra impostos cobrados pela Coroa. Após ficar evidente que não haveria como vencer a revolta contra o Império, os gaúchos não hesitaram em negociar com a monarquia, largando mão daqueles que os apoiaram.
Então, os parlamentares do movimento negro questionam o racismo do contexto. “Houve libertação? Os guerreiros estancieiros não queriam acabar como negros, como escravos. Queriam a virtude de vencer a guerra. Pois quem era escravo não tinha virtude. E a luta deles, tão glorificada, coexistiu com a condição do negro na época. Eles tinham escravos, eles não podiam ser escravos. Afinal, tinham virtude.”
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