Vítimas do padre Airton Freire dizem que o consideravam um 'santo' e que jamais imaginaram que seriam submetidas a tamanha violência e barbárie. "O que acontecer aqui, vai ficar aqui [...] Se algo vazar, você pode ser estraçalhada"
O padre Airton Freire, da Fundação Terra, está preso desde o dia 14 de julho em Pernambuco acusado de cometer crimes sexuais. A primeira denúncia partiu da estilista Silvia Tavares de Souza. Ela acusa o sacerdote de participar de um estupro sobre o qual denunciou ter sido vítima, em agosto de 2022.
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No dia 31 de maio, a mulher foi ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, no Centro do Recife, para pedir a conclusão da investigação do caso. O crime de estupro, segundo a mulher, foi praticado a mando do padre, por um motorista dele, chamado Jailson Leonardo da Silva, de 46 anos.
Segundo Sílvia Tavares, ela e o padre Airton tinham uma relação de proximidade. A mulher chamava ele de “padinho” e ele a chamava de “minha princesa”. Sílvia Tavares disse que frequentava retiros espirituais organizados pelo padre desde 2019, na Fazenda Malhada, em Arcoverde, no Sertão do estado, e que participou de, pelo menos, 25 desses eventos religiosos.
Os dois teriam se conhecido quando ela buscou a ajuda dele para tratar uma depressão. Sílvia contou que, durante um desses retiros, foi chamada pelo padre para ir a uma pequena casa isolada, a que a mulher se refere como “casinha”, onde ficavam os aposentos do padre.
CRONOLOGIA DO CRIME
Em 17 de agosto de 2022, padre Airton mandou um áudio para Sílvia, pedindo que ela fosse à “casinha” às 6h30 do dia seguinte. O motorista Jailson levou a mulher para o local, onde o padre estava deitado de bruços, coberto com um lençol de seda.
Ele pediu uma massagem e, mesmo estranhando o pedido, a mulher fez, mas se assustou ao perceber que, sob o lençol, ele estava sem cueca. Ela, então, saiu da cama.
Em seguida, Jailson se aproximou da mulher com uma faca e a ameaçou. Enquanto se masturbava, o padre ordenou que ele a estuprasse. “Eu comecei a chorar e disse: ‘padrinho, o que é que está acontecendo?’. Ele disse, rindo: ‘não está acontecendo nada'”.
Com o próprio celular, o padre tirou fotos da mulher e de Jailson nus, juntos. Depois, mandou que eles tomassem banho e acariciou os órgãos genitais do motorista.
PADRE DAVA RISADAS
Após a denúncia de Sílvia, outras mulheres criaram coragem para denunciar o religioso. Em depoimento, pelo menos três vítimas afirmam que o padre dava risadas enquanto se masturbava e assistia seus funcionários cometendo os estupros. Esses mesmos funcionários diziam que “ninguém morreria” caso os crimes não vazassem.
Uma outra mulher conta que também foi chamada para fazer uma massagem no padre, mas o encontrou nu. “Eu digo: ‘padre, pelo amor de Deus, padre, se vista, se cubra, padre… Meu Deus, o que é que está acontecendo aqui?'”. O capanga disse o seguinte: ‘olha, o que acontecer aqui, vai ficar aqui. Você pode fazer o que você quiser com a gente, que vai ficar aqui’. Aí, o padre começou a se masturbar rindo”, relata.
Ela conta que conseguiu fugir, mas foi ameaçada: “Cuidado quando passar na frente do canil, que você pode ser estraçalhada”, disse o cúmplice do padre. Ainda assim, ela diz que conseguiu ir embora.
Os inquéritos seguem em segredo de Justiça. A Polícia Civil de Pernambuco criou uma força-tarefa formada por 5 delegadas para agilizar a apuração das denúncias. Mais de 50 pessoas já prestaram depoimento.
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