Aluno contou ao pai, delegado da Polícia Federal, que foi repreendido pelo professor. O homem chegou na porta da escola particular com a viatura da PF, agrediu o docente e apontou a arma para a sua cabeça. Extremistas criaram uma narrativa para culpar a vítima e alegam que o professor mereceu ser agredido
O professor Gabriel Barbosa Rossi foi agredido e ameaçado de morte por um pai de um aluno quando saía da escola onde trabalha. O crime aconteceu na última sexta-feira (30), ao meio dia, na cidade de Guaíra (PR).
O agressor se identificou como delegado da Polícia Federal e chegou na porta do Colégio Franciscano Nossa Senhora do Carmo (Confracarmo) dirigindo uma viatura da corporação.
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Gabriel foi xingado, empurrado, esganado e teve a arma apontada para a cabeça. Um guarda da escola particular tentou intervir para impedir as agressões, assim como uma mãe de uma outra aluna, mas ambos também foram ameaçados pelo delegado e tiveram que recuar.
A mãe de Gabriel conversou com o Pragmatismo e relatou que seu filho está em choque. “Esse pai chegou na porta da escola perguntando se ele era o professor Gabriel […] meu filho se virou com a mão estendida para cumprimentar, e o pai agarrou o braço dele e começou com as agressões. Deu um mata-leão, asfixiou, deu voz de prisão. Em seguida colocou uma arma na testa dele”, contou Maria Helena, que também é professora.
O pai do aluno estaria indignado após seu filho ser advertido pelo professor. De acordo com testemunhas, o adolescente tem o costume de proferir falas preconceituosas e gosta de desdenhar dos educadores. O aluno também já foi flagrado fazendo a saudação nazista na escola.
“Gabriel chamou a atenção desse aluno em particular e avisou a equipe pedagógica que havia feito essa intervenção. A equipe sabia e conversaria com o pai, caso fosse necessário. O problema é que o pai esperou o professor do lado de fora da escola, armado e com o carro da Polícia Federal. Além de tudo, trata-se de um caso de abuso de poder e mal uso de veículo público”, alertou Maria Helena.
Maria Helena diz que o nome do delegado não pode ser divulgado por causa do Estatuto da Criança e do Adolescente, para não expor o menor, mas afirma que a publicidade do caso é importante para a proteção do seu filho. “Mesmo depois de todas as agressões, o delegado disse para o Gabriel que não sabemos do que ele é capaz. Levamos o caso ao Ministério Público e vamos fazer um BO amanhã. Eu também estou em choque, a esposa do Gabriel está em tratamento para o câncer de mama, mas vou até o fim por Justiça”.
Movimento tenta culpar a vítima
Algumas pessoas da cidade de Guaíra (PR) se movimentaram para tentar justificar as agressões contra Gabriel e culpar a vítima. “Meu filho não falou de política em sala de aula, mas desde o ocorrido criaram essa narrativa nas redes para tentar livrar o agressor do crime. Eles dizem que ‘se o professor não falasse de política, nada disso teria acontecido'”.
Em nota, o Sindicato dos Professores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) se solidarizou com Gabriel e exigiu a responsabilização criminal do delegado. “Gabriel, mestre em Educação pela Unioeste, foi agredido no desempenho do seu trabalho como docente. Esta situação é de extrema gravidade e precisa ser denunciada e que se exija a punição do agressor”.
“Infelizmente não se trata de um caso isolado, já que nos últimos anos há uma escalada de ameaças e constrangimentos contra os educadores, articulada a um movimento que expressa seu ódio à Ciência e ao conhecimento e prefere disseminar visões negacionistas e preconceituosas”.
O Colégio Franciscano Nossa Senhora do Carmo (Confracarmo) também divulgou uma nota sobre o caso. Nos comentários da publicação no Instagram da escola, alguns pais de alunos aplaudem as agressões contra o professor sob a justificativa de que ele seria “da turma do faz o L”.
Outros manifestam apoio ao professor: “Gabriel cumpriu seu papel de impor limites ao mau comportamento de uma criança que não deve ter isso em casa. Pais devem ensinar a esclarecer fatos e dialogar. Tal atitude só cria pessoas egoístas, egocêntricas e violentas. Que os demais pais tomem uma posição também com relação a convivência com alguém que não tolera ser repreendido e, para piorar, tem esta noção de falta de respeito por quem deveriam a lhe ensinar a conviver com outros de forma civilizada e educada”.
Confira abaixo: