Bolsonaro não consegue esconder publicamente o medo de ser preso. Em evento nesta sexta com apoiadores em Goiás, ex-presidente praticamente fez um pedido de socorro e sugeriu que a possibilidade de fuga é real
Leonardo Sakamoto, em seu blog
Bolsonaro não consegue esconder publicamente o medo de ser preso. Ele pode não confessar com todas as palavras de forma objetiva, mas seu inconsciente grita pedindo socorro e reforça que a possibilidade de fuga é real.
Tivemos mais um exemplo disso, nesta sexta (18), em evento do qual participou em Goiás. “Estive três meses nos Estados Unidos, no estado da Flórida, realmente um estado fantástico. Mas apesar de ter sido acolhido muito bem, não existe terra igual a nossa. Sei dos riscos que corro em solo brasileiro, mas não podemos ceder”, afirmou.
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A declaração ocorre em meio a dúvidas sobre a confissão do tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, sobre o escândalo das joias dadas por governos árabes ao Brasil que foram surrupiadas e vendidas por aliados para a glória financeira de Bolsonaro.
Jair havia fugido para a Disney dois dias antes do término do seu mandato. Não queria passar a faixa presidencial para Lula, mas, principalmente, desejava um álibi para o ataque às sedes dos Três Poderes, que ocorreria no 8 de janeiro – do qual tinha conhecimento porque foi o principal incitador.
Ou seja: ligando o passado ao futuro, ele falava de uma fuga que havia realizado para tratar de uma fuga que é uma de suas opções para evitar uma prisão.
Bolsonaro não tem cara de que, como Lula, aguenta o tranco de uma prisão por longo prazo. Bolsonaro tem um medo estrutural de passar uma temporada no xilindró. Seus comentários sobre isso não são apenas estratégia para deixar seus seguidores prontos para quando ele os chamar às ruas em atos golpistas. É o seu inconsciente gritando que há uma assombração rondando seu sono – e, definitivamente, não é o “fantasma do comunismo”.
Não é à toa que, ao longo do seu mandato, tenha se comparado diversas vezes à ex-presidente da Bolívia, Jeanine Añes, condenada por um golpe de Estado em 2019. Ela foi julgada junto com ex-chefes militares. Olha que coincidência.
Bolsonaro poderia ter se comparado a qualquer estadista com grandes feitos. Preferiu uma pessoa acusada e sentenciada por golpe. Pelo menos, temos que admitir que a autocrítica do presidente fala mais alto que seus delírios de grandeza.
“A turma dela perdeu, voltou a turma do Evo Morales. O que aconteceu um ano atrás? Ela foi presa preventivamente. E agora foi confirmado dez anos de cadeia para ela”, disse em junho de 2022.
E foi além: “Qual a acusação? Atos antidemocráticos. Alguém faz alguma correlação com Alexandre de Moraes e os inquéritos por atos antidemocráticos? Ou seja, é uma ameaça para mim quando deixar o governo?”
No dia 27 de abril, a ex-presidente da Bolívia já havia aparecido em um discurso de Bolsonaro no Palácio do Planalto. “Tenham certeza eu jamais serei uma Jeanine, jamais, porque primeiro eu acredito em Deus e depois acredito em cada um de vocês que estão aqui. A nossa liberdade não tem preço, digo mais, como sempre tenho dito: ela é mais importante que a nossa própria vida, porque um homem, uma mulher sem liberdade não tem vida”, disse.
Percebam que não é a liberdade dos brasileiros que estava em jogo para ele, mas a dele. E pediu ajuda aos seus aliados presentes: “acredito em cada um de vocês que estão aqui”.
Em junho de 2021, quando a ex-presidente já estava presa, Bolsonaro também tratou do assunto a seus seguidores. “O que aconteceu na Bolívia? Voltou a turma do Evo Morales e, mais ainda, a presidente que estava lá no mandato tampão [Jeanine Añez] está presa, acusada de atos antidemocráticos. Estão sentindo alguma semelhança com o Brasil?”, disse.
Portanto, o discurso de Bolsonaro não envolve apenas uma questão política, nem tampouco só de caráter criminal. Também é psicanalítica. Seria saudável que o ex-presidente procurasse ajuda. Clínica.
Para a Polícia Federal e o Supremo Tribunal Federal, contudo, o inconsciente do ex-presidente dá uma dica valiosa: “apreendam meu passaporte, depois não digam que eu não avisei”.
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PS.: O jornalista Jamil Chade, do UOL, informou neste sábado (19) que membros do governo brasileiro e da Justiça já monitoram um eventual risco de fuga por parte de Jair Bolsonaro. Membros da alta cúpula do Executivo indicaram que a fala recente de Bolsonaro de que “correria risco” no Brasil acendeu um sinal de alerta. No STF (Superior Tribunal Federal), a percepção vai na mesma direção.
A corte recebeu um requerimento solicitando uma medida cautelar para que o passaporte do ex-presidente seja retido. A iniciativa foi da deputada Erika Hilton e do deputado Pastor Henrique Vieira, ambos membros da CPMI.
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