Houve uma forte pressão nos bastidores para que Mauro Cid voltasse atrás na decisão de confessar seus crimes e os de Jair Bolsonaro. Recuo inexplicável do advogado de Cid indica obstrução no andamento das investigações, o que já justificaria uma prisão preventiva do ex-presidente. Professor de Cid se manifesta e cobra que ele seja leal a Bolsonaro: "O sigilo é seu último vínculo de integridade. Se ele delatar, isso perante os colegas militares, piora muito a situação dele. Militares não entregam. Militar não delata"
Menos de 24 horas depois de confirmar a veículos de imprensa que o tenente-coronel Mauro Cid iria apontar Jair Bolsonaro (PL) como mandante de um esquema que desviou presentes milionários recebidos pela Presidência da República, o advogado Cezar Bitencourt recuou e afirmou não ter falado sobre as transações envolvendo as joias. A defesa que antes havia declarado que Cid agiu a mando de Bolsonaro, agora mudou o discurso.
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Em entrevista à GloboNews nesta sexta-feira, 18, o advogado admitiu que recebeu ligação da defesa de Bolsonaro após a divulgação de entrevista à revista Veja. Segundo Cezar Bitencourt, o advogado do ex-presidente pediu uma reunião com ele. Bitencourt afirmou ainda que tem preocupação com a segurança da família de Cid, mas não deu detalhes sobre de onde partem as ameaças. “Não quero falar sobre isso”, disse à GloboNews.
A nova versão do advogado de Cid é que o ex-ajudante de ordens agiu para resolver o “problema do Rolex” que o ex-presidente ganhara de presente no exercício do cargo e que deveria ter sido destinado à União, mas foi vendido dos Estados Unidos.
Tudo indica que o entorno de Jair Bolsonaro passou a exercer uma forte pressão nos bastidores desde que Cid externou a vontade de confessar seus crimes e os do ex-presidente. “Bolsonaro tem um envolvimento de décadas com a milícia, essa gente joga sujo e não está para brincadeira quando se trata de manter a sobrevivência política. Afinal, eles [Bolsonaro e os filhos] nunca trabalharam [são políticos de carreira] e é disso que dependem”, pontua o cientista político Carlos Bezerra.
O que disse antes e o que diz agora
A revista Veja publicou na noite dessa quinta-feira, 17, que o Mauro Cid decidira confessar que vendeu joias nos Estados Unidos a mando de Bolsonaro. Ainda segundo a reportagem, o ex-ajudante de ordens da Presidência da República vai dizer que o dinheiro arrecadado foi enviado ao ex-presidente, o que pode configurar peculato e lavagem de dinheiro.
Em entrevista à Globonews nesta tarde, o advogado livra Bolsonaro de responsabilidade. “Não disse que foi a mando do Bolsonaro, não disse que ele [CID] estava dedurando”, declarou. “Apenas como assessor ele cumpriu ordens. Bolsonaro disse: ‘Resolve esse problema aí, do Rolex’. Para um bom entendedor meia palavra basta. Cid foi atrás para resolver a questão do Rolex”.
Um dia antes o mesmo advogado deu outra versão: “Mauro Cid vendeu o relógio a mando do Bolsonaro com certeza e entregou o dinheiro a ele. Os 35 mil (dólares) que entraram na conta do pai dele (o general Mauro Cesar Lourena Cid) eram parte do pagamento que ele deu ao ex-presidente”, disse ao jornal O Globo.
Ex-professor de Mauro Cid
Em entrevista ao UOL, o historiador e ex-professor de Mauro Cid, Francisco Carlos Teixeira da Silva, disse que o tenente-coronel pode ser expulso do Exército caso confesse os crimes. “Se ele confessar um crime que ele próprio cometeu, imediatamente após a materialização da pena, abre-se uma sindicância no Exército, e ele corre o risco de ser expulso”, conta.
Segundo Teixeira da Silva, Cid pode confessar o crime dele, mas não apontar o crime de um superior que ele servia lealdade. Isso é bem diferente. Se ele confessar um crime que ele próprio cometeu, imediatamente após a materialização da pena, abre-se uma sindicância no Exército, e ele corre o risco de ser expulso.
O professor afirma que Cid precisa se manter leal a Bolsoaro. Ele avalia que o sigilo, no momento, é o último vínculo de integridade que resta a Mauro Cid. Se ele delatar, isso perante os colegas militares, piora muito a situação dele. Militares não entregam. Militar não delata. Isso seria outra destruição da imagem de Mauro Cid.
Há um boato nas Forças Armadas de que esse seria o último mandato de Lula. O atual presidente estaria doente, cansado, não teria mais fôlego para um quarto mandato. Eles trabalham com a ideia de “resistir bem durante esses três anos” e, em seguida, com uma possível volta da direita ao poder viria uma anistia. Dessa forma, Mauro Cid seria readmitido com todos os seus direitos. Os militares apostam no nome do governador Tarcísio de Freitas (também ex-militar) para a eleição de 2026.
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