O crime organizado tomando poder
Danilo Espindola Catalano*
O assassinato do candidato à presidência do Equador, Fernando Villavicencio, tem alguns fatos que devemos deixar muito bem explanados para que o processo seja bem entendido, pois até mesmo no ato do assassinato do dia oito de agosto, tem alguns pontos que são muito estranhos, que nos parece que foi tudo muito bem planejado e que talvez, tivesse algum infiltrado dentro do grupo de segurança, pelo erro principal de ter deixado um candidato a presidente ameaçado de morte.
No dia do comício o candidato foi sair pela porta da frente, sem a devida segurança e os devidos aparatos de segurança, como se um político ameaçado de morte, pudesse estar em público sem a devida segurança, o que aprendemos vendo a segurança dos candidatos à presidência dos Estados Unidos, que é um grande erro, pois o ato de se matar um político que está se candidatando à presidência, é um ato assustador e político, que abala as estruturas sociais, econômicas e políticas, por isso deve haver o máximo cuidado com isso, o que não houve no dia do assassinato. Pode ser que a equipe de segurança tenha acreditado que nada iria ocorrer aquele dia, por estar bem tranquilo, mas qualquer teoria esperamos que seja sanada pelas investigações, que serão ajudadas até mesmo por um contingente do FBI, agência norte-americana de investigações.
A partir das declarações de Leonidas Iza e do ex-presidente equatoriano, Rafael Correa, me parece adequado pensarmos que talvez haja alguma relação de forças estatais atuais, que tenham influenciado de alguma maneira estas ações, até porque o candidato atacava em diversos comícios e discursos os narcotraficantes no país, além de ter declarado que o Estado equatoriano era um ”Narcoestado”, devido às teorias de que dentro do governo haveriam membros criminosos, o que sustenta em seu discurso Iza, que além disso agrega que nas forças policiais e das Forças Armadas do país, também há grupos criminosos em suas estruturas.
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Este contexto talvez ajude a explicar o motivo de o primeiro inimigo que se cogitou após a morte do candidato, tenha sido a “Revolución Ciudadana”, pois de alguma forma, culpando a esquerda, como é o caso em tudo no mundo, em que o comunismo é sempre o vilão de tudo, possa se criar uma cortina de fumaça para que os verdadeiros culpados fiquem impunes.
O que estamos presenciando e podemos perceber com os cidadãos assassinados, pelos quais Leonidas Iza menciona em seu pronunciamento pelas mídias sociais da CONAIE, apresentam o fato de que não é um caso isolado, mas uma onda de violência que assola o Equador, parecida com a onda que assolou a Colômbia nos anos 1980. Ou seja, seria dizer que há um novo contexto dos criminais nacionais, que saíram da Colômbia para o Equador, que chegou a ser o quarto país mais seguro da América.
Quero dizer aqui, que é uma mudança, pois o processo de paz da Colômbia está tendo êxito e com isso, os poderes hegemônicos que antes existiam lá, hoje estão deixando o meio ilegal e o tráfico de drogas, o que faz com que comece a emergir um novo poder e no caso, estão vindo do Equador, talvez por terem vivido na Colômbia e ido para o país imigrando para poder mudar de vida, por ser um dos melhores países de se viver. Pode ser isso, mas acredito que achar que seja apenas isso, seja xenofóbico, pois até mesmo no próprio Equador, não conhecendo, podemos afirmar, que existe e sempre existiu uma delinquência, mas que hoje ela tem a coragem e o espaço “para dar as caras”.
Mas pode ser um poder que venha a interferir no continente, ou somente algo que está nascendo no país, assim como acreditamos que exista no México, Colômbia, El Salvador e entre outros países da América Latina, talvez, agora a política e o poder equatoriano são de interesse destes criminais e por isso estão se mostrando vivos e poderosos. É mais uma forma de mostrar poder do que qualquer coisa, como foi, por exemplo, os ataques na capital paulista, em São Paulo aos oficiais da Polícia Militar.
Assim, podemos esperar, que daqui para frente o governo equatoriano comece a responder pelos atos destes criminais, tentando se impor, como foi em todos os outros países mencionados, por isso, acredito que o país deve usar a história de seus vizinhos, para ver se vale mesmo a pena atuar como estão fazendo ou deve ser feito de outra forma? Dúvidas a parte, o que podemos afirmar, é que estamos presenciando emergir novos criminais hegemônicos dentro do continente americano.
*Danilo Espindola Catalano é escritor, pesquisador e professor de espanhol, dedicado a passar a cultura latino-americana aos seus alunos. Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pós-graduado em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola, Especialista em Educação e Cultura pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais Brasil e cursando licenciatura em Letras Português/Espanhol.