Redação Pragmatismo
Corrupção 11/Ago/2023 às 13:17 COMENTÁRIOS
Corrupção

Polícia Federal revela que família Bolsonaro comandou esquema de contrabando de joias

Publicado em 11 Ago, 2023 às 13h17

Escândalo desmonta toda a imagem que Jair Bolsonaro tentou construir de "combate à corrupção". PF batizou a operação deflagrada hoje de 'Lucas 12:2', em alusão ao versículo da Bíblia que diz: "Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido"

bolsonaro michelle joias
(Imagem: Carla Carniel, Reuters)

A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta sexta-feira (11) a operação Lucas 12:2, cujo objetivo é investigar associação criminosa envolvida na prática de crimes de peculato e lavagem de dinheiro. Estão sendo cumpridos quatro mandados de busca e apreensão, dois em Brasília, um em São Paulo e outro em Niterói (RJ).

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Segundo a PF, os investigados são suspeitos de utilizar a estrutura do Estado brasileiro para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens no exterior.

Ainda segundo a polícia, “os valores obtidos dessas vendas foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados”, “sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”. E que as práticas investigadas configuram, em tese, os crimes de peculato e lavagem de dinheiro.

A operação ocorre no âmbito do inquérito que apura a atuação das chamadas milícias digitais, conduzido no Supremo Tribunal Federal pelo ministro Alexandre de Moraes. E tem esse nome em alusão ao versículo 12:2 da Bíblia, segundo o qual “não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido”.

“Há muitos estudos que mostram que compra e venda de joias é um caminho clássico de corrupção e lavagem de dinheiro. Muitos veem como um crime ‘seguro’, que ficará escondido para sempre. Por isso, é essencial sempre investigar o assunto, quando há indícios de ilegalidades”, escreveu o ministro da Justiça, Flávio Dino, em seu perfil em uma rede social.

A operação de hoje teve especificamente 4 alvos:

1. O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel do Exército Mauro Barbosa Cid;
2. O pai dele, o general do Exército Mauro César Lorena Cid;
3. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e tenente do Exército Osmar Crivelatti;
4. O advogado Frederick Wassef, que já defendeu Bolsonaro e familiares em diversos processos na Justiça.

O general do Exército Mauro César Lorena Cid foi colega do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), nos anos 1970. No governo, ocupou cargo em Miami, em representação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex).

De acordo com investigações, a negociação de joias e demais bens oficiais nos Estados Unidos era responsabilidade do militar, que recebia os valores em sua conta bancária. A quebra do sigilo desta conta, aliás, já foi solicitada pela PF mediante acordo de cooperação internacional com os Estados Unidos.

“Sumido com a dona Michelle”

Mensagens de celular obtidas pela Polícia Federal mostram assessores de Bolsonaro conversando sobre a venda ilegal dos presentes. Em algumas dessas mensagens, os assessores dão a entender que Jair Bolsonaro chegou a conversar sobre o valor de mercado das peças – e que um dos itens já tinha “sumido com a Dona Michelle”, em referência à então primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Em uma conversa, o assessor especial de Jair Bolsonaro Marcelo Câmara envia áudio ao ex-ajudante de ordens Mauro Barbosa Cid, dizendo que já tinha conversado com Bolsonaro sobre o tema.

No áudio enviado em 1º de março deste ano, segundo a PF, Câmara explica a Mauro Cid o motivo de “o ex-presidente Jair Bolsonaro não ter pego as esculturas quando se encontrou com o general Lourena Cid em Miami”.

“Não. Ele [Bolsonaro] não pegou porque não valia nada. Então tem (…) tem aqueles dois maiores: não valem nada. É, é… não é nem banhado, é latão. Então meu pai vai, vai levar pro Brasil na mudança (…)”, diz o assessor de Bolsonaro.

Áudios obtidos pela PF também mostram Marcelo Câmara e Mauro Barbosa Cid debatendo a legalidade da venda dos itens. Objetos de alto valor, como esses que vinham sendo negociados, devem ser obrigatoriamente entregues ao acervo da Presidência da República – ou seja, são bens públicos, e não pessoais.

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