De olho na herança eleitoral do inelegível Jair Bolsonaro, Zema propôs a criação de um "Consórcio Sul-Sudeste" para combater o Norte-Nordeste. As declarações foram consideradas preconceituosas e o governador de Minas não recebeu a adesão esperada
Diversas lideranças políticas de direita e de esquerda criticaram o governador de MG, Romeu Zema (Novo), após ele afirmar que governadores do Sul e do Sudeste criaram um consórcio para se opor aos estados do Nordeste. Apenas o governador do RS, Eduardo Leite (PSDB), e o Novo, partido de Zema, saíram em defesa do mineiro.
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Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo publicada no sábado (5), Zema disse que os governadores do estados do Sul e do Sudeste montaram um consórcio para se opor politicamente aos estados do Norte e do Nordeste.
O grupo se chama Cossud (Consórcio Sul-Sudeste) e é presidido pelo governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD). Na entrevista, Zema disse que o principal objetivo é se opor aos estados do Norte e do Nordeste no Congresso Nacional. Segundo ele, políticas que beneficiam esses estados prejudicam os membros do Cossud.
O Consórcio Nordeste, que reúne os governadores da região, disse em nota que a fala de Zema insinua “um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste”. A nota é assinada pelo governador da Paraíba, João Azevedo (PSB), que preside o grupo.
“Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de ‘O Brasil que cresce unido’. Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual”, diz nota do Consórcio Nordeste.
O governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT-PI), chamou Zema de “maior inimigo da federação” em seu perfil no Twitter. O ministro da Justiça, Flávio Dino, disse que a fala de Zema atenta contra a Constituição e que “traidor da Constituição é traidor da pátria”. “Absurdo que a extrema-direita esteja fomentando divisões regionais.”
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que o tamanho da população não pode ser o único critério para medir a importância política de cada região, e que, sem a Amazônia, “não tem como o Brasil sequer ter vida”. “Sem a Amazônia não tem como ter agricultura, não tem como ter indústria, não tem como o Brasil sequer ter vida, no Sul, no Sudeste, no Centro-Oeste, porque a ciência diz que seria um deserto como o do Atacama ou o Deserto do Saara. […] Quem mede o nosso peso pela nossa quantidade precisa entender um pouco mais de qualidade”.
O deputado federal e ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB-MG), também criticou Zema. Em nota, ele disse que a defesa de MG não pode ser feita “estabelecendo alvos ou discriminando regiões”.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB-ES), integrante do Cossud, também criticou Zema. No Twitter, disse que a entrevista do governador de MG reflete apenas “sua opinião pessoal”.
Até mesmo o bolsonarista Gilson Machado (PL-PE), ministro do Turismo do governo de Jair Bolsonaro (PL), foi ao Twitter criticar Zema. “Repudio veementemente qualquer fala que sequer ventile a separação de nosso país”, disse. “Queria Dubai ter as riquezas que o Nordeste tem.”
Machado foi apoiado por Fabio Wajngarten, chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social) de Bolsonaro e hoje advogado do ex-presidente. “Parabéns, Gilson. O Brasil é nordestino”, disse ele.
O ex-presidente Jair Bolsonaro também fez críticas indiretas às falas de Zema: “Minha filha é neta de um cearense e São Paulo é a cidade que mais tem nordestino no Brasil”, disse.
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