Redação Pragmatismo
Notícias 06/Set/2023 às 12:21 COMENTÁRIOS
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Policiais receberam R$ 10 mil para ajudar assassino do filho de Cissa Guimarães

Publicado em 06 Set, 2023 às 12h21

"Meu Deus, enquanto o assassino e o pai dele discutiam dinheiro com os PMs, tinha uma pessoa morrendo", desabafou Cissa, que se diz aliviada com a recente decisão da Justiça de prender os réus após 13 anos. A atriz também destacou que lhe machuca o fato de os responsáveis nunca terem a procurado para pedir perdão. Justiça divulgou o passo a passo do que aconteceu naquela madrugada e nos dias seguintes

Rafael Roberto Bussamra
Roberto Bussamra, Rafael Bussamra, Cissa Guimarães e o filho

Os policiais militares Marcelo José Leal Martins e Marcelo de Souza Bigon foram atender a uma ocorrência de atropelamento no dia 20 de julho de 2010 no Túnel Acústico, na Gávea, Rio de Janeiro. A vítima era Rafael Mascarenhas, de 18 anos, filho da atriz Cissa Guimarães e do músico Raul Mascarenhas.

O responsável por atropelar Mascarenhas foi Rafael de Souza Bussamra. Segundo a denúncia, ele participava de um racha nas proximidades, quando invadiu o túnel, que estava fechado para manutenção. No local, o filho de Cissa e Raul andava de skate com outros amigos quando foi atingido pelo veículo. Pouco tempo depois do acidente, o pai do acusado, Roberto Bussamra, teria oferecido propina para que os agentes ajudassem a livrar seu filho.

O valor acordado seria de R$ 10 mil. R$ 1 mil teria sido pago na hora e os outros R$ 9 mil seriam entregues no dia seguinte. Enquanto os policiais acordavam o valor para livrar Bussamra, Mascarenhas morria. A vítima chegou a ser socorrida e levada ao Hospital Miguel Couto, onde foi diagnosticado com politraumatismos na cabeça, no tórax, nos braços e nas pernas. Ele não resistiu e morreu horas depois, no mesmo dia do acidente.

Na ocasião, segundo a denúncia, Roberto combinou com os agentes para que eles levassem o veículo que atropelou Mascarenhas para uma oficina, antes que a investigação começasse. Além de desfazer a cena do crime, os PMs também foram subornados para evitar a prisão em flagrante do acusado — na semana passada, a Justiça do Rio de Janeiro determinou a prisão de Rafael e Roberto Bussamra.

Martins e Bigon negaram que tivessem cobrado propina para ajudar Bussamra. Em depoimento, entretanto, Roberto afirmou que pagou o valor acordado aos policiais para que ajudassem seu filho.

No último domingo (3), em entrevista ao Fantástico, Cissa Guimarães destacou que os policiais foram corrompidos por R$ 10 mil enquanto seu filho estava morrendo. “Meu Deus do céu, enquanto [a negociação do valor] estava sendo discutido, quanto dinheiro era para ser dado, tinha uma pessoa morrendo”.

Cissa também lamentou o fato de ninguém da família dos condenados ter procurado a família dela para um pedido de desculpas. “Eu queria um pedido de perdão. Eu tenho a impressão de que eu até perdoaria. Tem momentos que eu fico com uma raiva, mas aí eu me acalmo, e eu sei que isso é o Rafa”, afirmou.

O que aconteceu com os dois PMs

Ainda em 2010, Marcelo José Leal Martins e Marcelo de Souza Bigon foram expulsos da Polícia Militar do Rio de Janeiro após receberem propina no caso que envolve o assassinato de Rafael Mascarenhas. Os dois não mantêm mais vínculos com a instituição desde 2010.

O inquérito da PM concluiu, em outubro de 2010, que os dois policiais violaram a ética e o dever policial, “indo contra termos estabelecidos pelas normas estatutárias em vigor na Lei Estadual 443/198”. O documento também afirmava que “os dois não possuem os requisitos indispensáveis à condição de policial militar, pois divorciaram-se dos ensinamentos que lhe foram ministrados em suas formações acadêmicas”.

Martins e Bigon foram denunciados à Justiça por corrupção passiva e por não exercerem o ofício para o qual foram designados. Em 2012, dois anos após a morte de Mascarenhas, o TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) condenou os dois ex-agentes a cinco anos de prisão em regime semiaberto.

Na ocasião, o juiz Marcius da Costa Ferreira determinou que os dois réus poderiam permanecer em liberdade até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, ou seja, quando não coubesse mais recursos em instâncias superiores.

Os dois recorreram da decisão proferida por Costa Ferreira. A última instância foi o STF (Supremo Tribunal Federal), que indeferiu os recursos interpostos pelas defesas dos militares.

Marcelo de Souza Bigon teve todos os recursos exauridos em abril de 2018, quando foi expedido mandado de prisão por condenação.

Marcelo José Leal Martins teve seus recursos esgotados em março de 2019, quando a Justiça do Rio expediu mandado de prisão por condenação. O processo envolvendo os dois ex-policiais militares foi arquivado pela Justiça do Rio de Janeiro em abril de 2019.

Rafael e Roberto Bussamra

Treze anos depois da morte de Rafael Mascarenhas, o TJ-RJ determinou a prisão de Rafael e Roberto Bussamra. Os mandados foram expedidos em 19 de agosto, quando os réus foram intimados da decisão.

Dos 12 anos e nove meses a que estava condenado, Rafael vai cumprir 3 anos e 6 meses por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar. Roberto, que foi condenado a oito anos e 11 meses, vai cumprir 3 anos e 10 meses por corrupção. Ambos vão cumprir suas penas no regime semiaberto.

Ao Fantástico, a defesa de Rafael e Roberto Bussamra informou que os réus foram intimados pela polícia e vão se apresentar à Justiça dentro do prazo de 15 dias, contando a partir da última sexta-feira (29).

Dos crimes pelos quais pai e filho foram acusados, prescreveram as acusações de fuga do local do acidente, participação de racha e adulteração de carro antes da investigação.

Cissa Guimarães

Após a decisão em favor das prisões dos réus, Cissa Guimarães afirmou que a sensação é de alívio. “13 anos não são 13 dias. É o alívio da justiça ser feita e vencer essa batalha, que eu achei que tivesse sido vencida há tanto tempo. Mas eu nunca desisti. [Essa decisão significa] dignificar a vida dele e honrar a memória dele”.

Guimarães também destacou que lhe machuca o fato de os familiares dos réus não a terem procurado para pedir perdão. “Me dói muito é nunca ninguém da família ter me procurado, queria um pedido de perdão, tenho a impressão até de que eu perdoaria”, disse ao Fantástico. A atriz ressaltou que nunca teve vontade de procurá-los, que os encontrou uma vez em uma sessão no Tribunal, e eles “nem olharam” para ela.

com informações do UOL e do Fantástico

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