Por que agente à paisana da PRF invadiu UTI quando a menina Heloísa estava internada, lutando pela vida? Por que os policiais atiraram, mesmo sem sinalizar nenhum tipo de abordagem? Morte da criança de 3 anos está repleta de lacunas. Ministério Público afirma que PRF atirou mais que 3 vezes e solicita nova perícia
Heloísa dos Santos Silva, de 3 anos, morreu às 9h22 deste sábado (16). Ela estava internada desde o dia 7 de setembro, no Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, após ser ferida em uma abordagem da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Arco Metropolitano. Foram 9 dias no CTI.
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Segundo o boletim médico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde, Heloísa sofreu uma parada cardiorrespiratória irreversível.
No primeiro depoimento dos policiais prestado à Polícia Civil, o agente da PRF Fabiano Menacho Ferreira admitiu ter feito os disparos de fuzil que atingiram a menina. Ele disse que os policiais tiveram a atenção voltada para o veículo Peugeot 207, e que a placa indicava que o carro era roubado.
Eles seguiram atrás do veículo, ligaram o giroflex e acionaram a sirene para que o condutor parasse, mas que, depois de cerca de 10 segundos atrás do veículo, escutaram um som de disparo de arma de fogo e chegaram a se abaixar dentro da viatura.
Fabiano Menacho disse que, então, disparou três vezes com o fuzil na direção do Peugeot porque a situação o fez supor que o disparo que ouviu veio do veículo da família de Heloísa. Os outros agentes, Matheus Domicioli Soares Viegas Pinheiro e Wesley Santos da Silva, confirmaram a versão do colega.
FAMÍLIA CONTESTA
Desde o primeiro momento, a família disse que o tiro partiu de uma viatura da PRF. O pai da menina, William Silva, que dirigia o veículo, disse que passou pelo posto da PRF e não foi abordado em nenhum momento, mas percebeu que uma viatura passou a segui-lo e ficou muito próximo ao seu carro.
“A Polícia Rodoviária Federal estava parada ali no momento que a gente passou. A gente passou e eles vieram atrás. Aí eu falei: ‘Bom, tudo bem, mas eles não sinalizaram para parar’. E aí, como eles estavam muito perto, eu dei seta e, neste momento, quando meu carro já estava quase parado, no acostamento, eles começaram a efetuar os disparos”, explicou ele.
A reação do pai teria sido sair do veículo rapidamente para “os policiais verem que se tratava de uma família”. Além deles, estavam no carro também a irmã da menina, de 8 anos, e uma tia.
“Eu coloquei a mão para o alto, saiu todo mundo, só a minha menorzinha que ficou dentro do carro. Aí foi a hora que eu entrei em choque, em desespero”, disse Willian.
MPF pede prisão dos agentes
O Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro suspeita que mais tiros podem ter sido disparados pelos agentes da PRF na ação que terminou com a morte da menina Heloísa.
Fabiano Menacho Ferreira, autor dos disparos, afirmou que atirou três vezes contra o carro da família da vítima. Um deles entrou na altura da nuca da menina e atingiu a cabeça.
“Pelas fotografias tiradas pelos agentes, mostram mais tiros do que consta no laudo da Polícia Civil. Nós precisamos saber exatamente a posição, a trajetória das balas”, afirmou o coordenador do Núcleo Externo da Atividade Policial do MPF-RJ, procurador da República Eduardo Benones.
Benones acha necessário que novas perícias sejam feitas no carro e nas armas dos agentes, não só nos fuzis. Mas, nas pistolas também. Os agentes tiveram a prisão preventiva pedida pelo MPF. A Justiça não havia decidido sobre a prisão até a noite de sábado.
Os policiais afirmaram que atiraram no veículo porque verificaram que era roubado e que teriam ouvido um tiro. A família nega que qualquer tiro tenha sido dado e afirma que não sabia que o carro que tinham comprado era roubado.
“Tem um agravante: ainda que o veículo seja um veículo roubado ou furtado, quando você toma uma atitude dessa, o que você fez no balanço dos valores foi valorizar mais a propriedade que é o carro do que a vida humana. Isto é muito grave”, diz Benones.
Agente da PRF invadiu CTI
Um policial rodoviário federal à paisana entrou no CTI onde Heloísa estava, sem autorização da segurança do hospital. “O chefe da segurança do hospital informou aos agentes do MPF que esse policial que estaria lá não quis dar explicações e entrou sem autorização. As circunstâncias chamam atenção do controle externo porque a presença da PRF para prestar solidariedade é algo que se impõe, espera-se. Mas a presença de um policial à paisana, e que não se justifica no CTI, causa preocupação. A gente vai olhar para reforçar a segurança ali no perímetro do hospital”, disse, na época, o procurador da República.
Em nota, a PRF se manifestou: “A Corregedoria da Polícia Rodoviária Federal foi ao hospital no mesmo dia e identificou o policial que esteve na unidade sem autorização. Por padrão, a PRF não divulga informações pessoais dos seus servidores. Como a presença se deu sem autorização e sem o conhecimento da PRF, foi aberto um procedimento na Corregedoria para apurar as razões”.
O presidente Lula lamentou a morte de Heloísa: “Morreu hoje a pequena Heloisa dos Santos Silva, de 3 anos, atingida por tiros de quem deveria cuidar da segurança da população. Algo que não pode acontecer. A dor de perder uma filha é tão grande que não tem nome para essa perda. Não há o que console. Meus sentimentos e solidariedade aos pais e demais familiares”.
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