Estudo da MapBiomas mostra avanço ininterrupto ao longo dos anos do desmatamento para pastagem na Amazônia e da monocultura de soja no Cerrado. Consequências são graves e levam ao aumento das emissões de gases de efeito estufa do país, perda de ecossistemas e sua biodiversidade, além de conflitos fundiários e sociais, com a devastação de comunidades tradicionais e indígenas
Gabriela Moncau, Brasil de fato
Em avanço ininterrupto nos últimos 38 anos, a agropecuária ocupa atualmente um terço do território nacional. Dados levantados pelo MapBiomas divulgados nesta sexta-feira (6) mostram que, entre 1985 e 2022, a área ocupada por essas atividades do agronegócio cresceu 50%, incorporando um território equivalente ao Mato Grosso, o terceiro maior estado brasileiro.
Quase dois terços deste avanço da fronteira da agrícola se dá por meio do desmatamento para pastagem. Segundo o estudo, entre 2008 e 2012 houve uma queda nesta substituição da vegetação nativa por pastagem, mas os patamares voltaram a subir desde 2013.
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Os impactos socioambientais da atividade agropecuária no território brasileiro são extensos. “A expansão da agropecuária ainda envolve desmatamento. Isso contribui para o aumento das emissões de gases de efeito estufa do país, perda de ecossistemas naturais e sua biodiversidade e impactos na regulação do clima e ciclo hidrológico”, enumera Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas.
“Essa expansão também frequentemente leva a conflitos fundiários e sociais, com comunidades tradicionais e indígenas. Além disso, o manejo agropecuário inadequado pode levar a degradação do solo, perda da produtividade a longo prazo”, completa.
A Amazônia é onde esse processo mais vem acontecendo, em especial no Pará. Há quatro décadas a área amazônica ocupada por pasto para agropecuária era de 13,7 milhões. Em 2022, já havia saltado para 57,7 milhões.
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“Ainda temos a perda de vegetação nativa em todos os biomas, com diferentes padrões de conversão. O aumento da área de pastagem na Amazônia, superando a área do Cerrado, está relacionado com o aumento do desmatamento da região nos últimos anos, prioritariamente para utilização em pastagens”, explica Shimbo. “Mas muitas dessas áreas não são produtivas, sendo a conversão para venda de terras que posteriormente podem ser convertidas para agricultura.”
Soja quadruplica área ocupada no Cerrado
Entre as terras incorporadas pela agropecuária de 1985 para cá e destinadas para o cultivo agrícola, praticamente todas (96%) produzem grãos e cana. Triplicando as áreas nestes 38 anos, estas lavouras atualmente ocupam 7% do território brasileiro.
E a soja transgênica é o carro chefe. Dos 58,7 milhões de hectares ocupados por estes cultivos, 35 milhões são do avanço da soja. Só essa commodity aumentou em quatro vezes a região que ocupa no país.
Apesar de esse processo acontecer em todos os biomas, é no Cerrado que a soja teve um aumento de mais de 15 vezes no período monitorado. “Apesar do crescimento acelerado nos últimos anos na Amazônia, o Cerrado corresponde a 48% da área plantada com soja no Brasil”, destaca material do MapBiomas.
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