Em entrevista realizada há poucos meses, Sâmia relatou ameaças de morte contra a família. Nas redes, bolsonaristas que já foram identificados ironizaram o assassinato do irmão da deputada: "Fiquei feliz por um momento, achei que era a Sâmia". Após a execução de Diego, a parlamentar também foi alvo de campanha difamatória: "Está bebendo do próprio veneno, pois defende bandidos". Irmã e mãe de Sâmia fazem apelo: "Se há um pingo de humanidade, não façam comentários maldosos. Pelo amor de Deus, coloquem-se no lugar da minha família, não espalhem fake news"
Sâmia Bomfim (PSOL) passou a ser alvo de uma campanha de ódio nas redes sociais após o assassinato do seu irmão, o médico Diego Bomfim, de 35 anos. Alguns apoiadores de Jair Bolsonaro ironizaram o atentado, enquanto outros disseminaram notícias falsas sobre a deputada.
“Por um momento eu fiquei feliz, achando que tivesse sido a Samia. Que pena”, escreve um internauta identificado como Sampaio Junior. Após a repercussão da postagem, ele alterou a foto e as configurações do seu perfil.
Sampaio Junior costuma fazer várias postagens perseguindo políticos de esquerda e enaltecendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Campanha difamatória
Diversas postagens que associavam Sâmia Bomfim à suposta proteção de bandidos foram feitas por perfis pequenos alinhados à direita. Entre as publicações, foram encontrados comentários que culpavam Sâmia pela morte do irmão e criticavam a “hipocrisia” da parlamentar por “defender bandidos”. As informações são de um levantamento da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“Sâmia está tomando o próprio veneno”, publicou um perfil no Twitter. “Eu espero que a defensora de bandidos reveja seus conceitos”.
Comentários como este também foram identificados na página da conta do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). O parlamentar prestou solidariedade à colega, mas a publicação não agradou alguns seguidores.
“Ela [Sâmia] jamais teria a mesma postura com você ou com qualquer um da oposição. Ela defende bandido e outras coisas mais”, disse um usuário no X que acumula mais de 24 mil seguidores e posta conteúdos com críticas ao atual governo.
No Instagram, uma das publicações com maior engajamento foi feita pelo deputado Mário Frias (PL-RJ). O parlamentar associa o crime a uma “política pública leniente” e diz que é preciso enfrentar o problema “sem romantismo”. O post desencadeou uma série de comentários atacando Sâmia Bomfim.
Na mesma rede, um perfil de direita com mais de 19 mil seguidores publicou a notícia do assassinato do irmão de Sâmia e perguntou: “Não é essa deputada que defende bandido?”. A publicação foi curtida por 1,7 mil pessoas, que comentaram a situação: “Aqui se faz, aqui se paga”.
A página se descreve “em defesa do patriotismo” e também posta conteúdos com críticas ao atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além disso, há fotos dos administradores do perfil em diversas manifestações realizadas em 2022 contrárias ao resultado das eleições.
Já no YouTube, um canal com mais de 283 mil seguidores publicou um vídeo em que prometia revelar “a verdade” sobre Diego Bomfim. Na gravação, o dono do canal, que se descreve como “analista político amador”, também atribui à parlamentar a responsabilidade da morte do irmão, devido a ideologias que ela supostamente defende.
“Essa deputada passa a vida atacando a nossa liberdade, a nossa defesa. Ela é responsável por tudo isso que está acontecendo, pelo que aconteceu com o irmão dela”, afirma no vídeo, que registrava 11 mil visualizações até as 16h desta quinta.
É possível identificar neste mesmo canal uma série de vídeos com ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao presidente Lula e outros políticos de esquerda.
Família de Sâmia lamenta ataques e faz apelo
A irmã Dayane Bomfim, 36, lamentou que a família esteja sendo alvo de notícias falsas e mensagens de ódio desde que a morte de Diego foi noticiada.
“Eu peço, se há um pingo de humanidade, não misturarem política, não façam comentários maldosos”, disse Dayane. “Pelo amor de Deus, coloquem-se no lugar da minha família, não espalhem fake news.”
A mãe de Diego também relatou que a família recebe constantes ameaças devido à atuação política da filha deputada. “É muito ódio, as pessoas precisam voltar à realidade. Nós somos uma família simples, o Diego fez faculdade financiada pelo Fies [programa de financiamento do governo federal]”, comentou Antônia.