Números mais recentes revelam uma tragédia sem precedentes em Gaza: são 1.524 crianças que perderam a vida, de um total de 3.785 palestinos mortos. Além disso, centenas estão presos sob escombros aguardando resgate, ou encontram-se em estado grave nos hospitais. Há outro problema: milhares de crianças que sobreviveram ficaram órfãs pois suas famílias foram dizimadas
Números atualizados publicados pela ONU na noite desta quinta-feira (19) revelam que a grande maioria das mortes na Faixa de Gaza, desde o dia 7 de outubro, é composta por mulheres e crianças. Os dados ainda revelam como, sem local para guardar esses corpos, palestinos estão enterrando pessoas sem identificação em valas comuns.
Cerca de 100 corpos não identificados foram enterrados em uma vala comum em Rafah devido à falta de espaço refrigerado para armazená-los até que os procedimentos de reconhecimento sejam realizados. “Essa medida foi tomada após preocupações ambientais e de indignidade humana relacionadas à decomposição dos corpos”, disse a ONU.
De acordo com a entidade, 3,8 mil palestinos morreram em ataques realizados sobre a região. Desses, 1,5 mil são crianças e 1,4 mil são mulheres. Existem ainda 12,5 mil palestinos feridos.
A informação é apresentada no dia em que sete relatores da ONU denunciaram Israel por “crimes contra a humanidade”. Eles ainda alertam que, se a ofensiva e o cerco não forem revistos, há um “risco de genocídio” da população palestina.
O número de mortes relatado em Gaza durante os 13 dias de guerra é cerca de 60% maior do que o número total de mortes durante a escalada de 2014, que durou mais de 50 dias e deixou 2.251 mortes.
“Além disso, estima-se que centenas de pessoas, incluindo mulheres e crianças, ainda estejam presas sob os escombros, aguardando resgate ou recuperação”, diz a ONU.
Crianças órfãs
Ghassan Abu Sittah é um cirurgião plástico e reconstrutivo britânico que atualmente trabalha no Hospital al-Shifa, na cidade de Gaza. “Não há lugar mais solitário no mundo do que a cama de uma criança ferida que já não tem família para cuidar dela”, escreveu o médico nas redes sociais.
“Todos têm ferimentos causados por explosões, há ferimentos horríveis com estilhaços e queimaduras, pessoas que foram retiradas dos escombros de suas casas”, disse.
O cirurgião descreve as cenas que vê em Gaza como “o fenômeno da criança ferida, sem família sobrevivente”. “Todos os dias temos casos em que nos dizem que este é o único membro sobrevivente da família”, disse ele.
O médico informou que tratou uma menina de cinco anos com queimaduras e outra menina de quatro anos também com queimaduras faciais e ferimento na cabeça. “Elas foram as únicas desenterradas vivas dos escombros da casa da família.”
O cirurgião observou que dias antes havia operado a filha de uma médica no hospital al-Shifa, em Gaza. A médica morreu nos bombardeios junto com seu outro filho, e a menina ferida foi a única sobrevivente.
121 mil residências afetadas
Houve a destruição de 12.845 unidades habitacionais e a inabitabilidade de 9.055 unidades habitacionais, segundo informe da ONU a partir de dados do Ministério de Obras Públicas de Gaza.
Outras 121.000 unidades habitacionais sofreram danos leves a moderados. O número total de unidades habitacionais destruídas ou danificadas corresponde a pelo menos 30% de todas as residências da Faixa de Gaza.
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