Israel estaria usando falta de comida, água e medicamentos como arma de guerra para expulsar população da Faixa de Gaza. Palestinos que já estavam hospitalizados antes mesmo dos bombardeios estão morrendo com falta de remédios para seus tratamentos. Além disso, os riscos de infecção hospitalar estão no nível máximo devido a superlotação dos hospitais
O cerco israelense que estrangula há semanas a Faixa de Gaza faz seus mais de dois milhões de habitantes temerem, além da morte pelos bombardeios constantes, morrer por falta de água, comida e remédios, afirmou neste domingo Yasmeen El-Hasan, militante da União dos Comitês de Trabalhos Agrícolas na Palestina.
“Mesmo que sobrevivam às bombas, os moradores de Gaza temem morrer de fome e sede”, disse ela. “Israel usa claramente essa estratégia como arma de guerra.”
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“Antes de 7 de outubro [data do ataque do Hamas que motivou a ofensiva militar israelense] a água já não era potável. Agora, a pouca que há não serve nem para banho ou lavar as mãos. É fonte de infecções.”
“Ainda assim, quem está lá é obrigado a beber qualquer líquido que conseguir. Israel destruiu a maior parte da infra estrutura hídrica e sanitária, o plano é que os palestinos desistam de suas terras.”
“Suas vidas, seus sustentos, futuro, foram inviabilizados. É uma crise humanitária arquitetada por um governo contra uma população subjugada”, disse El-Hasan durante webinário realizado neste domingo pelo movimento popular Via Campesina, com a presença de representantes de entidades palestinas.
Sem anestesia
A decisão israelense de, ao mesmo tempo em que lança uma quantidade inédita de bombardeios, impedir a chegada de mantimentos ao pequeno território palestino, fez a Organizações das Nações Unidas ONU prever o que chamou de ‘avalanche sem precedentes de sofrimento humano’. Sem água potável, as pessoas vem recorrendo a água contaminada ou salgada.
Além de água, a falta de luz, gás e combustíveis fechou vários hospitais de Gaza. Muitas cirurgias emergenciais são feitas sem o mínimo de condições necessárias, incluindo anestésicos. O chefe da missão dos Médicos Sem Fronteiras, Léo Cans, disse à AFP que operações de amputação em crianças são feitas com pacientes sem sedação.
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Para tentar brecar o massacre palestino, o Conselho De Segurança da ONU vai discutir nesta segunda-feira medidas para pressionar Israel. Os EUA – país com direito a veto e maior aliado israelense – é contra qualquer resolução neste sentido. As operações militares israelenses se intensificaram na última sexta (27) com a entrada de tropas por terra no território.
Contexto
O cerne da questão árabe-israelense é a forma como o Estado de Israel foi criado, em 1948, com inúmeros pontos não resolvidos, como a esperada criação de um Estado árabe na região da Palestina, o confisco de terras e a expulsão de palestinos que se tornaram refugiados nos países vizinhos.
A decisão pela criação dos dois estados foi tomada no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) e aconteceu sem a concordância de diversos países árabes, gerando ainda mais conflitos na região.
Ao longo das décadas seguintes, a ocupação israelense nos territórios palestinos – apoiada pelos EUA – foi se tornando mais dura, o que estimulou a criação de movimentos de resistência. Foram inúmeras tentativas frustradas de acordos de paz e, na década de 1990, se chegou ao Tratado de Oslo, no qual Israel e a Organização para Libertação da Palestina se reconheciam e previam o fim da ocupação militar israelense.
O acordo encontrou oposição de setores em Israel – que chegaram a matar o então premiê do país – e de grupos palestinos, como o Hamas, que iniciou sua campanha com homens-bomba. Após a saída militar israelense das terras ocupadas em Gaza, ocorreu a primeira eleição palestina, vencida pelo Hamas (2006), mas não reconhecida internacionalmente. No ano seguinte, o Hamas expulsou os moderados do grupo Fatah de Gaza e dominou a região.
Em 7 de outubro de 2023, o Hamas lançou sua maior operação até então, invadindo o território israelense e causando o maior número de mortes da história do país, 1, 4 mil, além de fazer cerca de 200 reféns. A resposta israelense vem sendo brutal, com bombardeios constantes que já causaram a morte de milhares de palestinos, além de cortar o fornecimento de água e luz, medidas consideradas desproporcionais, criticadas e rotuladas de “massacre” e “genocídio” por vários organismos internacionais.
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