América Latina

Os perigos da bukelização para a América Latina

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El montonero (Imagem)

Desde 2020, depois de ter entrado com policiais e o exército para exigir a votação de um plano controverso, em que ia receber um empréstimo dos Estados Unidos, para bancar o chamado “Plan de Control Territorial” e tentar acabar de uma vez por todos com os grupos criminais de El Salvador, que segundo ele, presidente Nayib Bukele, era um problema que os dois partidos principais, FMLN (Frentre de esquerda) e o ARENA (frente de direita), que foram dois lados de uma sangrenta guerra civil no país durante o século XX. Bukele se consagra como fim destes dois lados, (mesmo tendo sido apoiado pelo FMLN), se considera o rompimento político de uma oposição que iniciou em formato de guerra e se converteu em debate político.

 

Em se tratando do plano governamental do presidente Nayib Bukele, que depois de pressionar o Congresso e a Suprema Corte do país, se caracteriza por dois pontos centrais. O primeiro é a atitude de criar Estados de Exceção, para que a polícia e o exército tenham liberdade de agir como bem entendem e em segundo lugar a destruição das regiões nas quais o principal grupo criminal, “Las Maras”, toma conta como se fosse deles, para que o Estado possa finalmente libertar essas localizações.

 

Las Maras, são um grupo criminal, que atua na América Central e Estados Unidos, e que, particularmente em El Salvador atua tomando conta de parte dos territórios urbanos, impondo leis próprias e impostos, que nada tem a ver com as ações do Estado; as regiões conquistadas são impostas sem a vontade dos moradores, que ao verem desenhos típicos deste grupo, ficam sabendo que estão dominados e que devem responder às suas leis ou serão mortos. Quem faz parte deste grupo, se identifica por tatuagens e a cada pessoa assassinada eles fazem uma nova tatuagem, para não esquecer suas vítimas.

 

Este contexto fez com que em um fim de semana as Maras matassem cerca de oitenta pessoas, o que fez com que Nayib Bukele pensasse em seu polêmico plano de governo.

 

Quando pensamos que a resposta do governo salvadorenho, foi de forma a reagir ao mesmo que o que fez o grupo criminoso, vemos que o exemplo das guerras as drogas que podemos ver no México, Brasil e Colômbia, continuam sendo exemplo de atuação para os países latino-americanos na contemporaneidade, que hoje, sem ver os resultados falidos da Operação Orión e da invasão às favelas do Rio de Janeiro, evoluíram para uma nova atitude, que não só tem a ver com uma mão dura contra o crime organizado, mas com uma atitude que remete às antigas ditaduras que vivenciamos durante o século XX em todos os países da região.

 

Agora, aproveitando da política democrática, que prevê o Estado de exceção como uma medida “democrática”, para erroneamente salvar a ordem de um Estado desorganizado, como se militar, que é preparado para a proteção violenta da nação pudesse com seu fuzil e continência salvar os civis de seus próprios cidadãos. Exemplo disso, foi a prisão arbitrária de cerca de duas mil pessoas, pois as primeiras ordens militares, era a de prender quem tivesse tatuagem.

 

E outro ponto, que deveria assustar a região, é a de que é uma política que está se aproveitando de vários Estados de exceção, como se essa fosse uma política a se fazer em cursos espaços de tempo e ficar renovando por tempo ilimitado, não é, ela foi criada para se realizar em um curto espaço de tempo e não ser renovada por cinco ou mais vezes, isto já se tornou aproveitar da democracia para se fazer uma pseudo “ditadura” ao estilo uruguaia, em que os militares controlavam o Estado, mas o presidente era civil.

 

Por último, o discurso de Nayib Bukele vangloriando de suas ações, que estão querendo imitar países como Honduras, Costa Rica, Equador e até mesmo o Peru, o que vejo como uma distorção da história da região e do aparecimento de uma nova política de direita e extremista, que pode ser um problema ainda maior.

 

Digo isso, porque no discurso de Bukele, não há como no de Jair Messias Bolsonaro ou de Javier Mileino quais o engrandecimento do colonizador, é o foco principal, não, ele se apropria da visão decolonial da forma de dizer: nós vamos agir por nós mesmos, sem que haja alguém por cima. Para criar uma forma latino-americana de extremo poder por sobre as organizações criminosas.

 

O que quero dizer aqui, é que Nayib Bukele não deseja ter uma dependência colonial, muito pelo contrário, ele se apropria desse discurso que anos a fio, foi de uma esquerda libertária ,que deseja criar seu próprio espaço sem as influencias pentagonistas ou coloniais, para criar uma política latino-americana “no osso” e romper com as ordens eurocêntricas e norte-americanas, para criar uma política nefasta a qual nem Aníbal Quijano imaginaria que poderia existir, pois até ele mostra em seus textos que a decolonialidade tem seu combatente nas politicas de esquerda, pois bem, vale estudarmos a bukelização, pois ela é uma política de direita emergente no continente.

 

 

 

 

 

 

*Danilo Espindola Catalano é escritor, pesquisador e professor de espanhol, dedicado a passar a cultura latino-americana aos seus alunos. Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pós-graduado em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola, Especialista em Educação e Cultura pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais Brasil e formado em licenciatura em Letras Português/Espanhol.