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Sufocada e abandonada pelo resto do mundo, Gaza vive colapso social sem comida, água e energia

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Especialistas dizem que Gaza vive opressão tão grave quanto as do Gueto de Varsóvia e de Soweto: "Tanto o sionismo quanto o nazifascismo e o regime dos afrikaners se baseiam na defesa da supremacia branca". Em editorial, jornal de Israel responsabiliza o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pela guerra atual: "Política agressiva adotada nos últimos anos ignorou abertamente a existência e os direitos dos palestinos"

Hamas surpreendeu Israel com contraofensiva após anos de extermínio (Reuters)

Nas últimas horas, as autoridades israelenses cortaram o abastecimento de comida e energia elétrica para a Faixa de Gaza, deixando milhares de pessoas sem luz e alimento.

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As agências da ONU responsáveis por atender Gaza foram obrigadas a suspender a distribuição de alimentos, de água e mesmo a coleta de lixo. De acordo com dados oficiais divulgados pela entidade, mais de 40 escolas foram fechadas.

Para o ano de 2023, a ONU havia solicitado ajuda de US$ 344 milhões da comunidade internacional para socorrer os palestinos. Mas recebeu menos de 20% do que foi solicitado, num sinal de que a população de Gaza estava completamente abandonada antes mesmo da escalada dos conflitos.

A título de comparação, os EUA já enviaram US$ 113 bilhões para a Ucrânia desde o início da guerra contra a Rússia, e Joe Biden já afirmou que pretende solicitar ao Congresso dos EUA a liberação de mais US$ 100 bilhões até 2024.

Sob o bloqueio de Israel há 16 anos, Gaza já vivia uma situação humanitária considerada como crítica e a pobreza e a fome dominavam seus 2 milhões de habitantes. Neste período, quatro conflitos atingiram a região.

Opressão pior que Varsóvia e de Soweto

Para Bruno Huberman, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e vice-líder do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (GECI/PUC-SP), a situação vivida pelos palestinos em Gaza é comparável com a vivida pelos judeus em Varsóvia na Segunda Guerra Mundial, ou pelos negros sul-africanos durante o regime do apartheid.

“Tanto o projeto sionista quanto o nazifascismo e o dos afrikaners se baseavam na defesa da supremacia branca contra minorias racializadas. Em comparação com Varsóvia, o caso de Gaza talvez seja ainda pior. A vida das pessoas em Gaza é pior. O que é pior no caso do Gueto de Varsóvia é que houve uma solução final, e o governo israelense, ao menos até agora, não tem uma solução final para Gaza”, disse em entrevista ao site Opera Mundi.

“Há declarações que chegam a ser irônicas, como a do (Benjamin) Netanyahu pedindo para os palestinos deixarem a Faixa de Gaza após a declaração de guerra. Ele disse “fujam”, mas os palestinos não têm para onde fugir, porque Israel os mantêm presos, eles não podem sair. Então, o mais provável é que aconteça um banho de sangue”, acrescentou.

Será um massacre

A professora de História Árabe da USP (Universidade de São Paulo), Arlene Clemesha, argumenta que a ação do Hamas é uma contraofensiva à repressão israelense, que se intensificou desde a última eleição do atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. “A situação piorou muito esse ano, os ataques contra os palestinos, foram bem piores em intensidade e caráter. A gente tem visto a população civil israelense atacar palestinos”, afirma.

Clemesha argumenta que a situação foi provocada por conta da coalizão que o primeiro ministro israelense formou neste novo mandando, que, segundo ela, “é a coalizão mais à extrema direita que Israel já viu em toda a sua história”.

Ela destaca ainda que o Hamas agiu com base em informações de que haveriam novas incursões de Israel para tomar definitivamente áreas palestinas.

“Eles tinham informação de que, passados os feriados judaicos agora, Israel estava preparando para invadir Jenin e a faixa de Gaza. E Jenin já foi invadida um mês, um mês e pouco atrás, já teve uma invasão ao campo de refugiados de Jenin, que foi bem destruidora, bem violenta e sentida pelos palestinos. Com milhares de palestinos fugindo. Então o Hamas decidiu invadir preventivamente. Foi uma invasão preventiva, porque assim já utiliza a estratégia de fazer reféns, para tentar não ficar tão à mercê do que seria esse novo ataque a israelense”, detalhou.

Para o professor Reginaldo Nasser, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, a situação do povo palestino é muito complicada, devido ao isolamento nas relações internacionais, mas também territorial. E o número de mortos pode ser imenso.

“Israel vai atacar, vai morrer muito civil, eles vão dizer que é escudo humano. Porque os ataques são dirigidos a locais superpovoados e o número de civis que vão ser mortos vai ser imenso. E principalmente também pelo seguinte: quando você olha algum conflito no mundo, qualquer lugar do mundo, você tem e é muito triste, a leva de refugiados. A pessoa sai do lugar. Mas não tem como sair de Gaza. É completamente cercado. É uma situação muito grave, muito grave”, lamenta.

Jornal israelense culpa Netanyahu

Um dos principais jornais de Israel, o Haaretz, publicou editorial atribuindo a responsabilidade pelos ocorridos ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.

“O desastre que se abateu sobre Israel no feriado de Simchat Torá é de clara responsabilidade de uma pessoa: Benjamin Netanyahu. O primeiro-ministro, que se orgulha de sua vasta experiência política e de sua insubstituível sabedoria em questões de segurança, não conseguiu identificar os perigos para os quais estava conscientemente conduzindo Israel ao estabelecer um governo de anexação e desapropriação, ao nomear Bezalel Smotrich [atual ministro das Finanças de Israel, de extrema-direita] e Itamar Ben-Gvir [ministro da Segurança Nacional de Israel, do partido de extrema-direita Otzma Yehudit] para cargos importantes e ao adotar uma política externa que ignorava abertamente a existência e os direitos dos palestinos”.

“Um primeiro-ministro indiciado em três casos de corrupção não pode cuidar dos assuntos do Estado, pois os interesses nacionais estarão necessariamente subordinados a livrá-lo de uma possível condenação e de uma pena de prisão. Essa foi a razão para o estabelecimento dessa terrível coalizão e do golpe judicial promovido por Netanyahu, e para o enfraquecimento dos principais oficiais do Exército e da Inteligência, que eram vistos como oponentes políticos. O preço foi pago pelas vítimas da invasão no Negev Ocidental”, continua o editorial.

Hamas

O Hamas é a organização que buscou manter uma radicalidade do movimento nacional palestino no momento em que o Fatah, liderado por Yasser Arafat, decidiu negociar com Israel nos Anos 90 e fechar um acordo de paz, que não deu em nada. Esse acordo cumpriu 30 anos neste 2023 e não teve nenhum resultado.

O Hamas ganhou força nesse momento em que propôs recuperar uma radicalidade que a resistência palestina vinha perdendo no final da Guerra Fria.

Os EUA e Israel tentam, há anos, estimular uma guerra civil entre os palestinos do Hamas do Fatah, para fortalecer a divisão entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Além disso, há o bloqueio total marítimo, aéreo e terrestre e a destruição de túneis, tudo isso para inviabilizar a vida dos palestinos em Gaza.

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