A fragilidade do mundo nas mãos das grandes potências foi retratada hoje de maneira muito óbvia durante a votação da proposta brasileira para acabar com o genocídio do povo palestino. Mesmo com 12 votos favoráveis (de 15 possíveis), o texto não avançou por conta do gesto covarde dos EUA a favor da guerra. Governo Biden é acusado de ter as mãos “sujas de sangue”
Após o veto dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU contra uma pausa humanitária em Gaza para socorrer civis, o jornalista Tales Faria observou que o que fica de recado é a fragilidade do mundo diante das grandes potências.
Para ser aprovada, uma resolução no Conselho precisa de nove votos, dos 15 membros do órgão. Mas não pode contar com nenhum veto. Apenas cinco países têm esse direito de vetar um texto: EUA, China, Rússia, Reino Unido e França.
“O recado claro é a fragilidade do mundo diante das grandes potências, que paralisaram a ONU. Paralisaram há muito tempo, desde quando o Iraque foi invadido, que a ONU disse que era crime e George W. Bush não podia invadir, mas ele invadiu e ferre-se a ONU. Desobedeceu e nada foi feito”, disse.
“Por quê? Porque são as grandes potências. É os Estados Unidos, é a Rússia, é a China, que não permitiram que a ONU funcionasse e não estão permitindo”.
“O veto é um gesto radical. Um gesto contra a paz. Não estão aceitando nem uma pausa na situação, que é o que Israel não aceita para resolver a questão dos reféns, por exemplo. Reféns, inclusive, norte-americanos”.
Justificativa dos EUA
Por meio de sua embaixadora na ONU, o governo de Joe Biden justificou seu veto devido ao texto não fazer referência ao direito de autodefesa de Israel. Nessa terça (17), mesmo diante do bombardeio de um hospital em Gaza, que deixou cerca de 500 pessoas mortas, Biden fez defesa irrestrita do aliado e reproduziu a versão do país, que nega as acusações sobre a autoria do massacre e culpa o grupo Jihad Islâmica, uma organização islâmica que atua em Gaza e também nega qualquer envolvimento no bombardeio.
A posição de Biden vem sendo alvo de protestos pelo mundo e no próprio EUA, onde ele é acusado de ter “as mãos sujas de sangue” e ser responsável pelo genocídio palestino.
O veto também foi repudiado pelo embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia. “Somos testemunhas da hipocrisia dos Estados Unidos. Eles não queriam uma solução aqui”. A China também declarou estar em “choque” com o comportamento do governo Biden.
A China destacou que a resolução costurada pelo Brasil era a “visão da comunidade internacional”. “Esperávamos que iriam votar a favor”. Há sete anos o Conselho de Segurança da ONU não chega a um consenso sobre a questão entre Israel e Palestina.
O risco, contudo, é que o ataque sem precedentes que vem sendo perpetrado pelo governo de Benjamin Netanyahu promova uma nova “limpeza étnica em massa” do povo palestino. Como a ocorrida na catástrofe de Nakba, em 1948, com a criação do Estado de Israel, que obrigou quase 700 mil palestinos a deixarem suas casas, indo para a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e outros países da região, como a Síria.
O alerta foi feito pela própria relatora especial da ONU para os territórios palestinos ocupados, a italiana Francesca Albanese. “A reação de Israel aos crimes horrendos cometidos pelo Hamas vai muito além do que é razoável e proporcional. Está se tornando uma operação militar interminável. Israel gerou uma catástrofe dentro da catástrofe. E a resposta da comunidade internacional é repugnante. A situação saiu do controle, e, se não for interrompida, veremos o terceiro e maior deslocamento forçado de palestinos de suas terras”, denunciou.
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