Juristas

Barroso procura o centro que o gato comeu

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Luís Roberto Barroso

Moisés Mendes*, em seu Blog

O ministro Luis Roberto Barroso é o mais novo aliado dos que tentam resgatar o centro político brasileiro perdido, desiludido ou extraviado em meio à expansão do fascismo.

É como a brincadeira sem fim do cadê o toucinho, o gato comeu, cadê o gato, fugiu pro mato, cadê o mato, Bolsonaro queimou, cadê Bolsonaro, está engolindo o centro.

Cadê tudo o que sumiu no Brasil, e não só o centro? Cadê a universidade militante? Cadê os estudantes? E os sindicatos? E a Igreja Católica? E os empresários liberais?

Cadê a dinâmica política decisiva na luta contra a ditadura, que só foi em frente porque também existia um centro estabilizador?

Barroso disse em palestra no seminário promovido pelo Estadão sobre O Papel do Supremo nas Democracias:

“O pensamento conservador no mundo foi capturado pela extrema direita e por um discurso de intolerância, misógino, homofóbico, antiambientalista. O centro precisa recuperar esse espaço, recuperar essas pessoas”.

Essas pessoas, ministro, perderam referências de centro porque o gato comeu o centro e ainda se lambuza com o banquete.

Não foi o pensamento conservador que murchou ou acabou ao ser capturado pela extrema direita.

O pensamento ainda existe, mas foi jogado em algum canto. O que o fascismo capturou foi o vasto contingente de líderes conservadores que se aliaram à extrema direita no Brasil e em outros países, entre os quais os Estados Unidos.

Eles abandonaram o pensamento conservador, que perdeu serventia. Aqui, líderes de todas as áreas, e não só os políticos, deixaram-se capturar pelo bolsonarismo.

Barroso sabe que na semana passada morreu Claudio Bardella, um dos empresários que puxaram o questionamento da ditadura pelas elites, no fim dos anos 70.

Bardella liderava a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) e as falas e ações de grupos liberais reunidos no Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Foram daquela turma, alguns com mentes brilhantes, Antônio Ermírio de Moraes, Severo Gomes, Luís Eulálio Bueno Vidigal, Paulo Villares, Jorge Gerdau Johannpeter, Mario Amato, José Mindlin, Laerte Setúbal Filho, Paulo Vellinho, Paulo Cunha.

Muitos eram assumidamente anticomunistas, outros eram terrivelmente conservadores em questões políticas e econômicas.

Mas não eram fascistas nem reacionários nos costumes a ponto de negar a arte, a ciência, a vacina, os avanços civilizatórios.

Hoje, nenhum deles chamaria para um cafezinho o véio da Havan. Pois o líder do empresariado brasileiro, em tempos de hegemonia da extrema direita bolsonarista citada por Barroso, foi o véio da Havan.

Mais do que uma base social de extrema direita, porque a maioria da população não tem lastro para embasar suas atitudes e escolhas em posições ideológicas, o que temos é uma elite assumidamente fascista ou cúmplice do fascismo pelo silêncio.

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É uma situação generalizada. Na semana passada, o jornalista Alfredo Zaiat perguntou em artigo no jornal Página 12: por que o poder econômico argentino está silencioso diante da ameaça representada por Javier Milei?

Estão em silêncio os líderes das grandes entidades empresariais do país, começando pela União Industrial Argentina. Calam porque Milei comeu o toucinho da velha direita que vinha sendo representada pelo macrismo.

E assim a direita sem forças vai sendo engolida todos os dias pela extrema direita. O ‘liberal’ Mario Vargas Llosa puxou um manifesto pró-Milei, com a assinatura de oito ex-presidentes latino-americanos.

A direita entregou o que restava de reputação ao fascismo regional. Vargas Llosa não se envergonha de assinar uma carta aberta em que o extremista argentino é apresentado como defensor das liberdades.

O centro político hoje vacilante, que entrou em colapso e pode estar a caminho do fim, é parte da explicação do poder da extrema direita.

Bolsonaro e Milei só existem porque os conservadores desistiram de ser o que sempre foram para agora se submeter à missão de serviçais de fascistas.

Não é uma tarefa, não é mais uma empreitada, é uma missão subalterna, mas com visão e objetivos de médio e longo prazos.

Poderemos estar descobrindo, ministro Barroso, que boa parte do antigo centro era a extrema direita enrustida à espera de vozes que a fizessem falar.

*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).

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