Após encontro de embaixador israelense com Jair Bolsonaro, há fortes indícios de que Israel dificulta saída dos brasileiros de Gaza. Governo Lula tem que tomar atitude firme e expulsão do diplomata precisa entrar no radar. Fronteira de Gaza com o Egito voltou a ser aberta, mas brasileiros novamente não estão na lista para deixar o território palestino
Ganhou mais força nas últimas horas a suspeita de que Israel está dificultando a saída de brasileiros da Faixa de Gaza. Nesta manhã, o Egito reabriu a passagem de Rafah para a saída de estrangeiros da Faixa de Gaza, mas novamente nenhum brasileiro recebeu a permissão para sair.
O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, cometeu um grave erro diplomático ao se reunir ontem com o ex-presidente Jair Bolsonaro. O embaixador deveria tratar com o atual governo Lula, e não com um ex-presidente que tem simpatia por Israel.
Sérgio Florenço, ex-diplomata brasileiro, classificou o atual cenário como preocupante. “Há indícios fortes de que o governo israelense está dificultando a saída dos 34 brasileiros de Gaza. Isso fica mais evidente na medida em que outros países retiraram seus nacionais pela porta de Rafah e os brasileiros continuam em Gaza. Essa é uma atitude abominável por parte de Israel, e o governo brasileiro tem subido o tom das críticas ao governo israelense por essa demora injustificável”.
Para Florêncio, a demora na liberação do grupo de brasileiros “é injustificável”, até pela postura “equilibrada” do país no Conselho de Segurança da ONU. “O governo do Brasil mencionou que, caso aconteça algo com algum dos 34 brasileiros, as relações com Israel se tornarão insustentáveis. É uma situação dramática para os brasileiros e injustificável. O governo brasileiro tem tido uma atitude muito equilibrada e que mereceu o elogio e o reconhecimento de diversos países”.
A participação do embaixador de Israel no Brasil no ato com Jair Bolsonaro foi vista pelo governo Lula como uma provocação. Membros do Palácio do Planalto afirmam que ele está em uma “rota absolutamente equivocada”.
Por enquanto, a ordem no governo federal é não responder o embaixador emocionalmente e tratar a situação com pragmatismo, ao menos até a volta do grupo de brasileiros. Há, no entanto, quem defenda atitudes mais enérgicas.
O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) fez uma publicação nas redes sociais pedindo a expulsão do embaixador israelense. “O embaixador de Israel, Daniel Zonshein, cruzou a linha do aceitável. Criticou publicamente Lula e o governo, que desde o início do conflito só pregam e trabalham pela PAZ, e agora se reúne com Bolsonaro e bolsonaristas pra fazer política?”, afirmou o parlamentar no X.
“Devia estar seriamente empenhado em retirar brasileiros da região, isso sim. Basta. Que o Itamaraty avalie e requisite sua expulsão do país”, completou o deputado.
A presidenta do PT e parlamentar Gleisi Hoffmann (PT-PR), também cobrou publicamente o diplomata. “Mais uma vez o embaixador de Israel no Brasil intrometeu-se indevidamente na política interna de nosso país, num ato público com o inelegível Jair Bolsonaro, realizado em pleno Congresso Nacional”, disse no X.
“O Brasil não admite que questionem nossa soberania. Esta é a lição que o embaixador de Israel não entendeu. O tempo da subserviência acabou junto com o mandato de Jair Bolsonaro, que prestava continência para a bandeira dos Estados Unidos e fez do Brasil um pária entre as nações”, complementou.
Em um vídeo divulgado nas redes, o comerciante brasileiro Hasan Rabee, que está em Gaza, afirmou que Israel está propositalmente impedindo brasileiros de deixarem o local. “Só pessoas aliadas de Israel que estão saindo. Estados Unidos, Alemanha, países europeus. É tudo uma grande farsa, uma grande mentira […] Estamos todos morrendo aqui em Gaza. Os que não morrem pelas bombas, estão morrendo de fome, de sede, de doenças…”.